A expansão de funções por séries ortogonais, como as séries de Fourier, de cossenos de Fourier e de senos de Fourier, não se limita às funções trigonométricas. Estas abordagens se aplicam a qualquer conjunto de funções ortogonais com respeito a um peso específico, em intervalos dados. Uma das formas mais comuns de expansão envolve as funções de Bessel e de Legendre, que são derivadas de problemas de Sturm–Liouville, os quais surgem ao tentarmos resolver equações diferenciais parciais lineares, frequentemente utilizadas para modelar sistemas físicos. A utilidade dessas séries de expansão, inclusive a série Fourier-Bessel e Fourier-Legendre, será explorada com mais profundidade nos capítulos subsequentes, que abordam as aplicações práticas desses conceitos.

No contexto das funções de Bessel, vimos no exemplo de Seção 12.5 que, para um valor fixo de nn, o conjunto das funções de Bessel {Jn(αix)}\{ J_n(\alpha_i x) \}, com i=1,2,3,i = 1, 2, 3, \ldots, é ortogonal em relação ao peso p(x)=xp(x) = x sobre o intervalo [0,b][0, b], quando os valores de αi\alpha_i são definidos por uma condição de contorno do tipo Jn(αib)=0J_n(\alpha_i b) = 0. Os autovalores correspondentes ao problema de Sturm–Liouville são então usados para estabelecer a série de Fourier-Bessel de uma função f(x)f(x) sobre o intervalo (0,b)(0, b), dada pela fórmula:

f(x)=i=1ciJn(αix)f(x) = \sum_{i=1}^{\infty} c_i J_n(\alpha_i x)

onde cic_i são os coeficientes calculados pela expressão:

ci=2b0bf(x)Jn(αix)xdxc_i = \frac{2}{b} \int_0^b f(x) J_n(\alpha_i x) x \, dx

e o valor do quadrado do normativo das funções de Bessel é dado por uma fórmula específica que depende da forma exata da função e das condições de contorno.

Os coeficientes cic_i podem ser calculados utilizando relações diferenciais recursivas que facilitam a avaliação desses coeficientes. Essas relações podem ser muito úteis quando se trabalha com integrais complexas ou quando se precisa determinar os valores exatos dos coeficientes para uma expansão numérica.

Ao explorar a convergência de uma série de Fourier-Bessel, as condições para que a expansão se mantenha válida são relativamente simples. O Teorema de Convergência para a Série Fourier-Bessel afirma que, se ff e ff' são funções contínuas por partes no intervalo [0,b][0, b], a série de Fourier-Bessel de ff converge a f(x)f(x) em pontos de continuidade de ff, e para os pontos de descontinuidade, ela converge para a média dos valores laterais.

De maneira análoga, ao expandir uma função f(x)f(x) utilizando uma série Fourier-Bessel, o processo pode ser ilustrado por meio de exemplos práticos. No caso de uma função linear simples como f(x)=xf(x) = x no intervalo 0<x<30 < x < 3, a expansão é dada pela soma das funções de Bessel de ordem n=1n = 1, usando a condição de contorno J1(3α)=0J_1(3\alpha) = 0. Através do uso de um Sistema de Álgebra Computacional (CAS), os primeiros valores de αi\alpha_i podem ser facilmente obtidos, e a série pode ser somada numericamente para encontrar uma aproximação precisa da função original. Embora fora do intervalo de definição a série não se comporte como uma extensão periódica da função original, devido à natureza não periódica das funções de Bessel, no intervalo correto, a convergência é alcançada de forma eficiente.

Por outro lado, as séries de Fourier-Legendre se utilizam dos polinômios de Legendre, que são ortogonais no intervalo [1,1][-1, 1] com o peso p(x)=1p(x) = 1. Estas séries têm uma aplicação muito importante em problemas de física, especialmente em situações simétricas, como problemas de potenciais em esferas ou intervalos simétricos. A série Fourier-Legendre de uma função f(x)f(x) sobre [1,1][-1, 1] é dada por:

f(x)=n=0cnPn(x)f(x) = \sum_{n=0}^{\infty} c_n P_n(x)

onde Pn(x)P_n(x) são os polinômios de Legendre e os coeficientes cnc_n são calculados por:

cn=11f(x)Pn(x)dxc_n = \int_{ -1}^{1} f(x) P_n(x) \, dx

Assim como na série de Fourier-Bessel, a convergência da série de Fourier-Legendre exige que a função f(x)f(x) e sua derivada sejam contínuas por partes no intervalo [1,1][-1, 1]. Se isso for atendido, a série converge a f(x)f(x) em pontos contínuos e à média nos pontos de descontinuidade, sendo uma ferramenta extremamente útil em muitas áreas da física teórica e aplicada.

Um dos aspectos práticos dessas expansões, principalmente para funções que envolvem condições de contorno complicadas, é que elas podem ser computacionalmente intensivas, mas o uso de softwares de cálculo algébrico torna o processo muito mais acessível. No exemplo de cálculo das raízes αi\alpha_i e dos coeficientes cic_i, é possível usar essas ferramentas para determinar com precisão os primeiros termos da série, facilitando o processo de análise e verificação de modelos físicos.

Em resumo, tanto a série Fourier-Bessel quanto a Fourier-Legendre oferecem métodos poderosos para expandir funções complexas em termos de bases ortogonais, permitindo a solução de problemas em física e engenharia. O domínio dessas séries e a compreensão das condições de convergência são essenciais para uma análise eficiente de sistemas modelados por equações diferenciais parciais.

Como Modelar o Comportamento de Sistemas com Equações Diferenciais: Aplicações e Soluções Matemáticas

A modelagem matemática de sistemas físicos e dinâmicos frequentemente se baseia na utilização de equações diferenciais que descrevem como variáveis mudam ao longo do tempo ou do espaço. A resolução dessas equações pode ser um desafio, mas é essencial para compreender o comportamento de uma vasta gama de fenômenos, desde o movimento de corpos caindo até a propagação de ondas ou a difusão de substâncias.

Quando se fala de equações diferenciais de primeira ordem, estamos lidando com sistemas onde as taxas de variação de uma variável dependem de si mesma e de outras variáveis, com a solução geral muitas vezes sendo descrita como uma família de soluções. Esse conceito é crucial, pois muitas vezes um único valor inicial pode determinar a trajetória completa de uma variável. Por exemplo, em sistemas químicos, onde uma reação de primeira ordem descreve a mudança na concentração de um reagente ao longo do tempo, as soluções dessas equações são frequentemente de interesse. Para isso, métodos de resolução como o método de Runge-Kutta de primeira ordem são aplicados, possibilitando calcular soluções numéricas de maneira eficiente.

A primeira coisa a entender é que a forma de uma equação diferencial de primeira ordem não é única. Ela pode ser linear ou não linear, dependendo da presença de termos que envolvem potências ou funções não lineares das variáveis. Além disso, o comportamento de tais equações pode ser fortemente afetado pelas condições iniciais e, muitas vezes, até mesmo uma leve mudança nessas condições pode resultar em soluções dramaticamente diferentes. Em outras palavras, a sensibilidade a essas condições é uma característica marcante dos sistemas dinâmicos modelados por equações diferenciais.

A resolução dessas equações se torna mais complexa conforme se avança para ordens superiores. Uma equação diferencial de segunda ordem, por exemplo, pode descrever sistemas mais complexos, como o movimento de uma massa presa a uma mola, ou até mesmo a vibração de uma viga. Em tais casos, métodos de diferenças finitas ou o uso da transformada de Fourier são utilizados para aproximar as soluções ou para analisar o comportamento do sistema no domínio da frequência, como acontece em sistemas de vibração ou de propagação de ondas.

Porém, a matemática aplicada não se limita a apenas resolver essas equações de forma abstrata. A interpretação física das soluções é igualmente importante. No contexto da vibração de sistemas mecânicos, por exemplo, as frequências naturais de vibração, as chamadas "frequências fundamentais", são determinadas pela solução das equações diferenciais associadas. Esses conceitos são essenciais para a engenharia de estruturas e sistemas, onde a previsão de comportamentos como ressonância pode evitar falhas catastróficas.

Além disso, muitos problemas físicos reais envolvem condições de contorno, onde as soluções das equações diferenciais precisam ser ajustadas para satisfazer requisitos específicos em pontos ou regiões do domínio. O problema de Dirichlet, por exemplo, lida com condições de contorno especificadas para um problema de valor de contorno, enquanto que o problema de Neumann lida com valores derivados, como as taxas de fluxo através de uma superfície. Essas condições de contorno são importantes para garantir que as soluções de um modelo matemático se alinhem com as condições reais do sistema em análise.

Ainda, ao considerarmos fenômenos como a propagação de calor ou a difusão de partículas, o conceito de fluxo e a análise das equações associadas tornam-se fundamentais. A equação de difusão, por exemplo, descreve como as concentrações de uma substância se distribuem ao longo do tempo, com a solução podendo ser obtida por métodos analíticos ou aproximados, como o método das diferenças finitas ou a transformação de Fourier.

Outro conceito fundamental é o de estabilidade. Em sistemas dinâmicos, a estabilidade se refere à tendência de um sistema retornar a um estado de equilíbrio após uma perturbação. A análise de estabilidade de pontos críticos é crucial para entender se um sistema se comportará de maneira previsível e controlável ou se poderá exibir comportamentos caóticos ou imprevisíveis, algo muito relevante em sistemas não lineares.

É importante ressaltar que, ao resolver problemas reais, nem sempre é possível obter soluções exatas devido à complexidade matemática envolvida. Em muitos casos, o uso de aproximações numéricas é imprescindível. Métodos como a transformação rápida de Fourier e as aproximações por diferenças finitas permitem a análise de sistemas complexos de maneira prática e eficiente. A capacidade de aplicar essas ferramentas numéricas é essencial para engenheiros, físicos e outros profissionais que trabalham com sistemas dinâmicos e precisam de soluções rápidas e precisas para problemas reais.

Em última análise, a compreensão e aplicação de equações diferenciais, juntamente com métodos numéricos e ferramentas como transformadas de Fourier, são fundamentais para a solução de uma ampla variedade de problemas na física, engenharia, biologia e muitas outras áreas. Ao dominar essas técnicas, os profissionais são capazes de prever comportamentos complexos de sistemas dinâmicos, melhorar o design de novos sistemas e otimizar processos existentes, sempre com a confiança de que suas soluções são baseadas em uma sólida fundação matemática.

Modelos de População e Competição: Análise e Aplicações Matemáticas

O estudo de modelos matemáticos que descrevem interações ecológicas, como a dinâmica de predadores e presas, oferece uma visão fascinante das flutuações populacionais observadas na natureza. No caso do modelo clássico de Lotka-Volterra, as populações de predadores e presas podem ser representadas por sistemas de equações diferenciais acopladas, que revelam o comportamento cíclico e as interdependências entre as espécies.

Considerando um modelo de predador e presa, em que a população de presas é representada por y(t)y(t) e a de predadores por x(t)x(t), podemos observar que essas duas populações exibem uma periodicidade ao longo do tempo. Quando a população de presas diminui, isso leva a uma escassez de alimento para os predadores, resultando em uma diminuição na população de predadores. Com a queda no número de predadores, as presas começam a se recuperar, o que, por sua vez, facilita o aumento da população de predadores. Este ciclo continua, com as populações de ambos os grupos flutuando em uma dinâmica complexa, mas previsível, conforme o modelo.

O modelo de Lotka-Volterra é um exemplo claro de como interações entre espécies podem ser descritas matematicamente, levando em conta a natureza dependente da população. A equação que descreve esse comportamento, considerando que as taxas de crescimento das populações de predadores e presas são modificadas pela interação entre elas, pode ser formulada de maneira geral como:

dxdt=αxβxy\frac{dx}{dt} = \alpha x - \beta xy
dydt=δxyγy\frac{dy}{dt} = \delta xy - \gamma y

Aqui, α\alpha representa a taxa de crescimento dos predadores na ausência de presas, β\beta é a taxa de captura de presas pelos predadores, γ\gamma é a taxa de morte dos predadores e δ\delta é a taxa de crescimento das presas devido à captura de recursos. Essas equações mostram uma interação direta entre as populações de predadores e presas, com suas populações evoluindo ao longo do tempo de forma interligada.

Quando analisamos os modelos de competição, em vez de uma relação predador-presa, as populações de duas espécies competem pelos mesmos recursos. Nesses casos, a dinâmica das populações é alterada pela presença da outra espécie, o que pode levar a resultados diferentes. Os modelos de competição podem ser representados por sistemas de equações diferenciais de primeira ordem, com taxas de crescimento diminuídas pela competição entre as duas populações. Um modelo simples de competição linear pode ser descrito pelas equações:

dxdt=r1x(1xK1)a12xy\frac{dx}{dt} = r_1 x \left( 1 - \frac{x}{K_1} \right) - a_{12} x y
dydt=r2y(1yK2)a21xy\frac{dy}{dt} = r_2 y \left( 1 - \frac{y}{K_2} \right) - a_{21} x y

Neste modelo, r1r_1 e r2r_2 são as taxas de crescimento de cada população, K1K_1 e K2K_2 são as capacidades de carga para cada população, e a12a_{12} e a21a_{21} representam os coeficientes de competição entre as espécies. A interação entre as populações pode levar a várias situações, como a coexistência estável ou a extinção de uma das espécies, dependendo dos parâmetros específicos do modelo.

Ao substituir a dinâmica de crescimento exponencial por um crescimento logístico, que é mais realista para populações limitadas, o modelo de competição pode ser modificado para representar melhor a competição ecológica real. Isso resulta em um sistema não linear que, embora mais complexo, ainda segue princípios semelhantes ao modelo de Lotka-Volterra. Neste cenário, as equações podem ser descritas da seguinte forma:

dxdt=r1x(1xK1)a12xy\frac{dx}{dt} = r_1 x \left( 1 - \frac{x}{K_1} \right) - a_{12} x y
dydt=r2y(1yK2)a21xy\frac{dy}{dt} = r_2 y \left( 1 - \frac{y}{K_2} \right) - a_{21} x y

Este modelo, mais realista, descreve de maneira mais precisa as limitações de recursos e as interações entre as populações de competidores. O comportamento cíclico observado no modelo de predadores e presas pode ser substituído por comportamentos mais estáveis ou mesmo a extinção de uma das populações, dependendo das condições ambientais e das interações entre as espécies.

Além dos modelos biológicos, os sistemas de equações diferenciais também são utilizados em outras áreas, como na análise de redes elétricas, onde o comportamento de correntes em circuitos pode ser descrito por sistemas de equações diferenciais de primeira ordem. A aplicação de leis de Kirchhoff a uma rede elétrica com múltiplos laços pode resultar em um sistema de equações lineares, semelhante aos modelos ecológicos descritos. Nesse caso, as correntes i1(t)i_1(t), i2(t)i_2(t) e i3(t)i_3(t) em diferentes partes da rede são interdependentes, e o comportamento dessas correntes pode ser descrito por equações diferenciais de primeira ordem que representam as leis da conservação de corrente e tensão.

Nos modelos mais complexos, como o decaimento radioativo de isótopos, também podemos utilizar sistemas de equações diferenciais para modelar o comportamento de substâncias radioativas ao longo do tempo. O exemplo do potássio-40 (K-40), que decai de duas maneiras diferentes em dois produtos diferentes, ilustra como as equações diferenciais podem ser usadas para determinar a idade de rochas antigas, levando em conta a quantidade de material decaído e a proporção entre os diferentes produtos de decaimento.

Esses modelos podem ser estendidos para sistemas ainda mais complexos, como redes de comunicação e de transporte, onde interações de diversos tipos entre elementos geram dinâmicas que podem ser modeladas de forma semelhante às populações biológicas ou redes elétricas. O estudo desses sistemas complexos envolve, muitas vezes, a análise de estabilidade, bifurcações e os efeitos das interações não lineares.

Ao considerar os modelos apresentados, é importante perceber que, em muitos casos, a solução analítica exata pode ser difícil de encontrar, sendo necessário recorrer a métodos numéricos para aproximar as soluções das equações diferenciais. Isso é particularmente importante em sistemas não lineares ou quando as condições iniciais e os parâmetros do modelo são altamente variáveis.

Como Resolver Equações Diferenciais Usando Séries de Potências

Uma equação diferencial de segunda ordem pode frequentemente ser resolvida por meio de uma série de potências, especialmente quando a equação não possui pontos singulares finitos e pode ser expandida em torno de um ponto ordinário, como x=0x = 0. A ideia central é assumir que a solução da equação pode ser expressa como uma série de potências, ou seja, uma soma infinita de termos envolvendo potências de xx. Cada termo dessa série será determinado por um coeficiente que satisfaz uma relação de recorrência derivada da equação diferencial original.

Considere a equação diferencial de segunda ordem yxy=0y'' - xy = 0. Como não existem pontos singulares finitos, conforme garantido pelo Teorema 5.1.1, podemos buscar uma solução em forma de série de potências centrada em x=0x = 0, válida para x<|x| < \infty. Assumindo que y(x)y(x) pode ser expressa como uma série y(x)=c0+c1x+c2x2+c3x3+y(x) = c_0 + c_1x + c_2x^2 + c_3x^3 + \cdots, e calculando as derivadas, obtemos uma série de equações para os coeficientes cnc_n.

Substituindo a expressão para y(x)y(x) e suas derivadas na equação diferencial, podemos obter uma relação de recorrência entre os coeficientes. No exemplo dado, essa relação se torna uma equação de recorrência que pode ser usada para calcular os coeficientes c0,c1,c2,c_0, c_1, c_2, \dots. A partir dessa fórmula, os coeficientes podem ser gerados de forma iterativa, uma vez que determinamos c2=0c_2 = 0, e para os demais coeficientes ckc_k, temos uma fórmula que nos permite calcular cada um deles com base no anterior. O resultado é uma solução geral que pode ser expressa como uma combinação linear de duas soluções independentes, y1(x)y_1(x) e y2(x)y_2(x), que são as soluções particulares da equação diferencial.

Por exemplo, na equação yxy=0y'' - xy = 0, temos duas soluções fundamentais y1(x)y_1(x) e y2(x)y_2(x), e a solução geral será dada por uma combinação linear y=c0y1(x)+c1y2(x)y = c_0y_1(x) + c_1y_2(x). Os coeficientes c0c_0 e c1c_1 podem ser escolhidos arbitrariamente, pois a solução geral depende dessas constantes, que são determinadas pelas condições iniciais.

Em outro exemplo, a equação diferencial y+(cosx)y=0y'' + (cos x)y = 0 mostra como a solução pode ser obtida quando os coeficientes não são polinomiais. O termo cos(x)cos(x) pode ser expandido em uma série de potências usando a série de Maclaurin, e a solução da equação diferencial pode ser expressa novamente como uma soma infinita de termos. Nesse caso, as relações de recorrência para os coeficientes revelam que os coeficientes alternam entre positivos e negativos, formando um padrão específico.

O comportamento da solução também pode ser investigado visualmente. O gráfico da solução de uma série de potências, por exemplo, pode ser obtido traçando os polinômios parciais SN(x)=c0+c1x+c2x2++cNxNS_N(x) = c_0 + c_1x + c_2x^2 + \cdots + c_Nx^N, onde NN é o número de termos considerados. À medida que mais termos são adicionados, o gráfico se aproxima da solução exata, o que demonstra a utilidade das séries de potências para fornecer soluções aproximadas.

É importante destacar que, embora a fórmula geral para a solução seja expressa como uma soma infinita, nem sempre é possível encontrar um termo geral para os coeficientes cnc_n em todas as situações. Em casos mais complicados, como nos exemplos discutidos, podemos precisar limitar a quantidade de termos da série, especialmente quando a relação de recorrência se torna complexa ou difícil de resolver explicitamente. Nesses casos, apenas os primeiros termos da série podem ser suficientes para uma boa aproximação da solução.

Além disso, a solução por séries de potências é particularmente útil quando a equação diferencial não possui soluções simples ou analíticas. Por exemplo, no caso de equações que envolvem funções como cos(x)cos(x) ou outros termos não polinomiais, as séries de potências permitem que as soluções sejam obtidas sem a necessidade de expressões fechadas complicadas. O uso dessas séries não se limita a equações diferenciais homogêneas, mas também se estende a equações não homogêneas, onde os termos P(x)P(x), Q(x)Q(x) e f(x)f(x) são funções analíticas no ponto ordinário.

A série de potências, além de ser uma ferramenta de resolução, também oferece uma maneira de verificar a convergência das soluções. Para muitas equações diferenciais, é possível garantir que a solução em forma de série de potências será convergente em torno do ponto ordinário. No entanto, a verificação da convergência, que pode ser feita, por exemplo, por meio do teste da razão, é uma parte essencial do processo, pois nos assegura de que a série realmente representa a solução da equação diferencial dentro de um intervalo específico de xx.

Como as Funções Especiais Surgem nas Equações Diferenciais Lineares de Ordem Superior

As equações diferenciais lineares de ordem superior frequentemente aparecem em diversos campos da matemática aplicada, física e engenharia. Entre essas equações, destacam-se as equações de Bessel e Legendre, que possuem soluções representadas por funções especiais. A análise de pontos singulares, especialmente os pontos singulares regulares e irregulares, é fundamental para entender as propriedades dessas soluções. As equações diferenciais que envolvem tais funções especiais não são apenas ferramentas matemáticas abstratas, mas têm grande aplicação em problemas práticos, como a descrição de fenômenos de ondas, térmicos e vibracionais.

Um exemplo clássico dessa classe de equações é a equação diferencial de Bessel, dada por:

x2y+xy+(x2ν2)y=0x^2 y'' + x y' + (x^2 - \nu^2) y = 0

onde ν\nu é a ordem da equação e um parâmetro que desempenha papel crucial nas soluções. A equação de Bessel surge em muitos problemas de física, especialmente naqueles que envolvem simetrias cilíndricas, como as equações de calor e de onda em coordenadas cilíndricas. A solução dessa equação pode ser expressa por uma série de potências, e o comportamento das soluções depende do valor de ν\nu.

Quando analisamos a equação de Bessel, encontramos que o ponto x=0x = 0 é um ponto singular regular. Isso significa que podemos expressar a solução da equação na forma de uma série de potências convergente. As soluções dessa equação podem ser representadas pelas funções Jν(x)J_{\nu}(x) e Jν(x)J_{ -\nu}(x), chamadas de funções de Bessel da primeira espécie, que são definidas por séries de potências que convergem para o intervalo [0,)[0, \infty) para ν0\nu \geq 0. Essas soluções são particularmente importantes em muitos problemas físicos, incluindo a descrição de modos de vibração em sistemas com simetria cilíndrica.

Quando ν\nu não é um número inteiro, essas funções são linearmente independentes, e a solução geral da equação de Bessel é dada por uma combinação linear de Jν(x)J_{\nu}(x) e Jν(x)J_{ -\nu}(x). No entanto, para ν\nu inteiro, as funções Jν(x)J_{\nu}(x) e Jν(x)J_{ -\nu}(x) deixam de ser independentes linearmente, e a solução geral pode ser expressa por um único termo.

Em certos casos, também podemos encontrar soluções da equação de Bessel associadas a soluções da equação de Bessel modificada. A equação de Bessel modificada é uma forma modificada da equação original, que surge quando as condições iniciais ou de contorno alteram a natureza do problema, como ocorre em muitos problemas térmicos ou de propagação de ondas em meios que não são homogêneos. A equação de Bessel modificada tem como soluções as funções Iν(x)I_{\nu}(x) e Kν(x)K_{\nu}(x), que são chamadas de funções de Bessel modificadas da primeira e segunda espécies, respectivamente.

Essas funções são usadas para resolver problemas em que as soluções são não-oscilatórias, ao contrário das funções de Bessel originais. As funções Iν(x)I_{\nu}(x) e Kν(x)K_{\nu}(x) não possuem zeros reais no intervalo (0,)(0, \infty), e a solução geral para a equação modificada é uma combinação dessas duas funções. As funções modificadas são essenciais em modelos de problemas em coordenadas cilíndricas, como o comportamento de campos eletromagnéticos ou térmicos em regiões de simetria cilíndrica.

Ao longo da solução dessas equações diferenciais, é importante notar que a indicial das equações diferenciais pode fornecer informações cruciais sobre a natureza das soluções. No caso da equação de Bessel, por exemplo, a equação indicial resulta em raízes r1=νr_1 = \nu e r2=νr_2 = -\nu, e dependendo de ν\nu, as soluções podem ser expressas de forma diferente. Quando ν\nu é um número inteiro, como no caso da equação de Bessel de ordem mm, as funções de Bessel da primeira espécie Jm(x)J_m(x) e da segunda espécie Ym(x)Y_m(x) são soluções da equação, sendo que Ym(x)Y_m(x) é frequentemente chamada de função de Neumann.

É importante também compreender que essas equações não são isoladas em seus próprios contextos, mas frequentemente podem ser transformadas em outras formas, como as equações diferenciais paramétricas, que dependem de uma mudança de variável. Essa transformação pode permitir expressar a solução original em termos de funções de Bessel e suas variantes modificadas, o que é essencial para a resolução de problemas de valor de contorno em regiões que exigem essas funções especiais.

Essas soluções, apesar de suas aplicações práticas, têm um fundo teórico profundo que está relacionado com a análise das singularidades das equações diferenciais. Ao explorar essas equações, é necessário compreender a natureza dos pontos singulares, que podem ser regulares ou irregulares, e a importância da técnica de Frobenius para encontrar soluções em séries, especialmente quando lidamos com pontos singulares em torno de x=0x = 0.

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