A célula a combustível é uma tecnologia que converte energia química diretamente em energia elétrica através de reações eletroquímicas. Algumas fontes de combustível podem ser utilizadas diretamente em uma célula a combustível, enquanto outras necessitam de um reformador de combustível para criar o combustível adequado — como, por exemplo, o hidrogênio.

Células a Combustível com Metanol e Etanol
Um exemplo clássico de célula a combustível que utiliza combustível hidrocarboneto é a célula a combustível de Metanol Direto (DMFC). A reação geral para essa célula é descrita pela equação 5.5:
2CH₃OH + 3O₂ → 4H₂O + 2CO₂.

Embora a reação resulte na produção de água, como a célula a combustível de hidrogênio, o uso de metanol (ou etanol) não torna o processo neutro em CO₂. O dióxido de carbono gerado durante a reação química implica que essa tecnologia não seja uma solução totalmente limpa, uma vez que ela contribui para as emissões de gases de efeito estufa.

Células a Combustível Alcalinas (AFC)
A célula a combustível alcalina (AFC) usa hidrogênio como combustível, assim como a célula a combustível de membrana de troca protônica (PEMFC). A reação básica é a mesma, mas a diferença crucial é o tipo de íons que se movem através do eletrólito. Na AFC, são os íons hidróxido (OH⁻) que migram, enquanto na PEMFC, os prótons (H⁺) são os responsáveis pela condução da eletricidade. No entanto, uma grande limitação da célula alcalina é a sensibilidade ao dióxido de carbono. Até mesmo pequenas quantidades de CO₂ podem prejudicar a célula, comprometendo seu funcionamento e eficiência.

Célula a Combustível de Membrana de Troca Protônica (PEMFC)
A célula a combustível de membrana de troca protônica (PEMFC) é uma das mais populares, especialmente para aplicações automotivas, devido à sua eficiência e confiabilidade. Nela, o hidrogênio é dividido em prótons e elétrons no ânodo, conforme a equação 5.6:
H₂ → 2H⁺ + 2e⁻.
Os elétrons geram a eletricidade que é coletada, enquanto os prótons migram para o cátodo, onde se combinam com o oxigênio para formar água, conforme a equação 5.7:
½ O₂ + 2H⁺ + 2e⁻ → H₂O.
O produto final da reação global, como mostrado na equação 5.8, é a água e a energia elétrica:
½ O₂ + H₂ → H₂O + energia elétrica.
Embora essa reação seja similar à que ocorre na combustão do hidrogênio, a célula a combustível consegue alcançar uma eficiência muito maior do que um motor de combustão interna, pois converte energia química diretamente em elétrica, sem a necessidade de intermediários como a geração de calor.

A célula a combustível PEMFC é composta por uma série de camadas, incluindo a membrana, que é o coração da célula. Hidrogênio e ar são fornecidos às camadas de difusão de gás em cada lado da membrana, que separa os dois fluxos de gás. A membrana é frequentemente revestida com um catalisador, como platina, para facilitar a reação. A umidade e a gestão da água são aspectos cruciais no funcionamento da célula. Para garantir o bom desempenho, tanto o hidrogênio quanto o ar devem ser umedecidos, enquanto a água gerada durante a reação precisa ser removida adequadamente para evitar danos à célula.

Células a Combustível em Série
Para gerar uma quantidade significativa de eletricidade, várias células a combustível são conectadas em série, formando uma pilha (stack). O número de células em série define a tensão total do sistema, que é a soma das tensões individuais de cada célula. Normalmente, uma célula PEMFC opera com uma tensão de cerca de 0,65 V, e é necessário combinar várias células para atingir uma tensão compatível com as necessidades de um veículo elétrico.

Consumo de Hidrogênio e Ar
Para gerar 1 kWh de energia elétrica, é necessário aproximadamente 60 g de hidrogênio, considerando uma eficiência de conversão de 50%. Além disso, como o oxigênio é consumido na reação, a célula precisa de cerca de 540 g de oxigênio para gerar essa quantidade de eletricidade. Como o ar contém cerca de 23% de oxigênio, é necessário aproximadamente 2,35 kg de ar para produzir 1 kWh de energia. Para garantir que a célula opere de maneira eficiente, é comum trabalhar com um excesso de ar, ou seja, uma mistura "pobre" de hidrogênio e oxigênio.

O Desafio da Durabilidade e Custos
A durabilidade das células a combustível é uma questão importante, já que elas sofrem um desgaste gradual ao longo do tempo. Estudos indicam uma perda de potência entre 6% e 15% após cerca de 5000 horas de operação. Outro desafio significativo é o custo dos sistemas de célula a combustível, que ainda precisam ser substancialmente reduzidos para competir com os motores de combustão interna em termos de custos operacionais. Além disso, o hidrogênio utilizado deve ser extremamente puro, o que implica custos adicionais relacionados à produção e armazenamento do combustível.

Gestão Térmica e Eficiência

Em um veículo movido por célula a combustível, a gestão térmica é essencial. O sistema de resfriamento deve manter a temperatura da célula dentro de uma faixa ótima para o funcionamento. Em baixas velocidades ou em momentos de baixa demanda de energia, o excesso de água e umidade precisa ser removido de maneira eficaz, o que pode ser mais desafiador devido à menor taxa de fluxo de ar. No entanto, em momentos de carga máxima, o sistema de resfriamento deve ser capaz de dissipar o calor gerado pela operação da célula a combustível. O design de um sistema térmico eficiente é, portanto, crucial para garantir o bom funcionamento a longo prazo de um veículo a célula a combustível.

O estudo detalhado da célula a combustível revela não apenas seus princípios operacionais, mas também as limitações e desafios técnicos que ainda precisam ser superados para que essa tecnologia se torne uma solução viável e competitiva em larga escala. As inovações no design, no material e na produção de hidrogênio puro são fatores determinantes para o futuro das células a combustível, particularmente no setor automotivo.

Como a Celula de Combustível Afeta o Sistema de Resfriamento de Veículos

O sistema de resfriamento de um veículo movido a célula de combustível deve considerar as necessidades específicas dessa tecnologia. De maneira geral, o sistema de resfriamento de um veículo a célula de combustível segue princípios semelhantes aos dos veículos elétricos a bateria, com circuitos de resfriamento dedicados para a bateria e o motor elétrico (e-motor). No entanto, as características térmicas da célula de combustível exigem uma abordagem mais sofisticada.

Em termos de design, a célula de combustível opera a temperaturas mais altas do que a bateria e o motor elétrico. Isso implica que um sistema de resfriamento independente seja necessário para a célula de combustível. Esse sistema precisa ser capaz de lidar não só com o calor gerado pela célula de combustível, mas também com a umidade e temperatura do ar e hidrogênio antes de serem injetados na célula. A pré-condição de temperatura e umidade é crucial para otimizar a eficiência do processo de conversão de energia química em elétrica.

A eficiência de uma célula de combustível é, de maneira geral, superior à de um motor de combustão interna (ICE) ao converter energia química em eletricidade. Porém, o motor de combustão interna expulsa gases de escape quentes, o que contribui para a dissipação de calor. Por outro lado, a célula de combustível opera a uma temperatura relativamente mais baixa, entre 70 e 80°C, o que resulta em uma diferença de temperatura menor em relação ao ambiente. Isso faz com que a dissipação de calor seja menos eficiente, exigindo um radiador maior para compensar essa diferença térmica menor. Portanto, veículos com célula de combustível necessitam de radiadores significativamente maiores do que aqueles com motores a combustão de potência equivalente.

Além disso, ao longo da vida útil da célula de combustível, sua eficiência diminui, o que requer um sistema de resfriamento mais robusto para dissipar o calor extra gerado à medida que o dispositivo envelhece. Esse fator deve ser considerado no projeto do veículo, especialmente para garantir que o desempenho térmico se mantenha adequado mesmo com a perda de eficiência.

Quando comparamos a célula de combustível com motores de combustão interna, a diferença na geração de calor e a necessidade de resfriamento é clara. Embora ambos os sistemas produzam quantidades semelhantes de calor, a maneira como esse calor é dissipado varia consideravelmente. A célula de combustível, devido à sua operação em temperaturas mais baixas e à menor dissipação de calor via gases de escape, exige soluções de resfriamento mais complexas e eficientes.

Um aspecto adicional a ser considerado no design do sistema de resfriamento é o uso de calor residual. O calor gerado pela célula de combustível pode ser utilizado para aquecer a cabine do veículo, o que melhora a eficiência geral do sistema e contribui para a sustentabilidade do veículo.

Por fim, um ponto importante no desenvolvimento de veículos a célula de combustível é a questão dos custos. Embora as células de combustível sejam mais caras do que os motores de combustão interna, o avanço das tecnologias de resfriamento e a redução nos custos de produção dessas células têm o potencial de tornar essa solução mais acessível. Além disso, a pesquisa continua a explorar formas de otimizar o uso do hidrogênio, tornando-o uma alternativa mais viável do ponto de vista econômico e ambiental.

Quais as Vantagens e Limitações dos Combustíveis Alternativos para Veículos Comerciais?

Os sistemas de Gás Natural Comprimido (GNC) utilizam sistemas de tanques mais simples e não apresentam perdas por vaporização, o que os torna eficientes para transportes locais. Já o Gás Natural Liquefeito (GNL) oferece uma densidade energética superior no tanque, resultando em um alcance maior entre os reabastecimentos. Além disso, o GNL permite um processo de Injeção de Alta Pressão Direta (HPDI) mais eficiente, sendo mais vantajoso para transportes de longo percurso e alta quilometragem. Dessa forma, o GNC é mais adequado para transporte local, enquanto o GNL pode ter vantagens em viagens de longa distância.

O Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), uma mistura de butano e propano, é um subproduto do processamento de petróleo bruto nas refinarias. Embora não resolva o problema das emissões de CO2 provenientes dos combustíveis fósseis, nem ofereça uma solução para a questão das reservas finitas de petróleo, o GLP é amplamente utilizado como combustível. Com uma pressão de liquefação inferior a 10 bar, o GLP é bem adaptado para armazenamento e combustão em motores de ignição por faísca. Pode ser usado de forma bivalente, em paralelo à gasolina, sendo uma alternativa interessante para veículos que necessitam de combustíveis de baixo custo e que não exigem grandes distâncias de alcance.

O Etanol e o Metanol, ambos utilizados em motores de ignição por faísca, apresentam vantagens e desafios próprios. O etanol, por exemplo, possui uma octanagem superior a 104 RON, sendo utilizado tanto em sua forma pura quanto em misturas com gasolina, como a mistura E10, que contém 10% de etanol. Do ponto de vista técnico, não há dificuldades em fabricar veículos que utilizam tanto etanol quanto gasolina. No entanto, o etanol é corrosivo e pode danificar as linhas de abastecimento e vedações de veículos mais antigos. O etanol pode ser extraído de fontes fósseis ou produzido biologicamente, através da fermentação alcoólica e subsequente destilação.

Por sua vez, o metanol, embora menos comum como combustível de ignição por faísca em comparação com o etanol, também pode ser utilizado para impulsionar veículos. Ele pode ser empregado diretamente no motor de combustão interna, ou ser utilizado como matéria-prima para a produção de outros combustíveis, como gasolina e DME (éter dimetílico), ou ainda em células de combustível. Contudo, o metanol é muito mais tóxico do que o etanol, não se mistura tão bem com a gasolina e exige modificações significativas no motor de combustão interna. Além disso, o metanol tem um valor calórico inferior ao do etanol, o que limita sua adoção em larga escala. Embora seja geralmente extraído de matérias-primas fósseis, o metanol também pode ser produzido a partir de biomassa, oferecendo uma alternativa mais sustentável.

É importante ressaltar que, além da escolha do combustível, as especificidades dos motores e a infraestrutura de abastecimento também são fatores decisivos na adoção dessas alternativas. A eficiência energética e a adaptação dos motores para diferentes combustíveis são essenciais para garantir a viabilidade dos sistemas de propulsão alternativos no mercado. Além disso, a questão das emissões de CO2 e a sustentabilidade das fontes de energia continuam a ser questões cruciais para a indústria de transporte comercial, que busca cada vez mais reduzir sua dependência de combustíveis fósseis e minimizar seu impacto ambiental.

Ao considerar a adoção de sistemas de combustíveis alternativos, é necessário compreender as características técnicas de cada um, como densidade energética, impacto ambiental e viabilidade econômica. O avanço na tecnologia de armazenamento e combustão será fundamental para tornar essas soluções mais competitivas em termos de custo e desempenho, favorecendo a transição para uma frota de veículos comerciais mais limpa e eficiente.