O gerenciamento da fibrilação atrial (AF) em pacientes com dispositivos de assistência ventricular esquerda (LVAD) permanece um campo complexo e multifacetado, especialmente considerando o impacto de tais arritmias na funcionalidade hemodinâmica e na qualidade de vida desses indivíduos. A abordagem terapêutica para restaurar o ritmo sinusal nestes pacientes precisa ser cuidadosamente ponderada, levando em conta não apenas a eficácia das intervenções, mas também os riscos associados, incluindo complicações como a necessidade de implante de marcapasso, ou mesmo agravos mais sérios, como a insuficiência renal.
Estudos demonstram que a conversão farmacológica de AF para o ritmo sinusal em pacientes com insuficiência cardíaca avançada pode ser benéfica, mas os resultados nem sempre são previsíveis. As intervenções de cardioversão elétrica (EC) mostram-se mais eficazes do que os tratamentos farmacológicos convencionais, embora a necessidade de anestesia ou sedação durante o procedimento implique uma troca entre benefícios e riscos. O estudo EAST AF NET revelou que uma estratégia inicial de controle do ritmo reduz significativamente o risco de morte, acidente vascular cerebral e hospitalizações relacionadas ao agravamento da insuficiência cardíaca ou síndrome coronariana aguda, quando comparada ao tratamento usual (Kirchhof et al., 2020).
Além disso, a ablação por cateter (CA) emerge como uma alternativa promissora para pacientes com AF que não respondem bem à terapia medicamentosa ou que são intolerantes a drogas. Em comparação com a terapia médica isolada, a ablação por cateter tem mostrado melhores resultados em termos de controle de arritmias e diminuição de hospitalizações em pacientes com insuficiência cardíaca avançada. O ensaio CASTLE-AF, por exemplo, evidenciou uma redução significativa nas hospitalizações e na mortalidade de pacientes com AF e insuficiência cardíaca avançada após a realização de ablação por cateter (Marrouche et al., 2018). Em contrapartida, é fundamental ressaltar que complicações, embora raras, como fístula esofágica ou tamponamento pericárdico, podem ocorrer e exigem monitoramento contínuo e manejo adequado.
A eficácia da ablação por cateter em pacientes com LVAD é um tema em constante estudo. Embora algumas pesquisas indicam benefícios no controle da AF e melhoria nos resultados de saúde, outros estudos demonstram um aumento na necessidade de implante de marcapasso, especialmente quando lesões biatriais são realizadas. Isso levanta a questão sobre a relevância do controle rigoroso do ritmo em pacientes com dispositivos de assistência ventricular, onde o dispositivo já garante a maior parte do débito cardíaco, e a restauração do ritmo sinusal pode não resultar em melhorias substanciais no estado hemodinâmico.
No entanto, intervenções precoces para o controle de arritmias, evitando a exposição prolongada a amiodarona, podem melhorar os desfechos a longo prazo, sem aumentar o risco de mortalidade. A ablação cirúrgica, por sua vez, tem demonstrado ser a opção mais eficaz para restaurar o ritmo sinusal durante a cirurgia cardíaca, oferecendo a oportunidade única de controle do ritmo sem o risco adicional de mortalidade. No entanto, a implementação desta abordagem deve ser cuidadosamente avaliada, considerando os riscos de complicações e os potenciais benefícios de longo prazo.
A decisão sobre qual terapia adotar, seja farmacológica ou ablação, depende de uma avaliação minuciosa das condições clínicas do paciente, incluindo a gravidade da insuficiência cardíaca, a carga de AF e a resposta a tratamentos anteriores. A escolha do tratamento ideal deve ser discutida em equipe multidisciplinar, envolvendo cardiologistas, especialistas em dispositivos, e outros profissionais da saúde, para garantir a melhor abordagem terapêutica para cada paciente.
Além disso, é crucial que os profissionais de saúde se atentem ao impacto que a restauração do ritmo sinusal pode ter na qualidade de vida dos pacientes. Embora os benefícios a curto prazo sejam frequentemente evidentes em termos de alívio de sintomas como dispneia e fadiga, os efeitos a longo prazo, como a prevenção de hospitalizações recorrentes e a melhoria na capacidade funcional, são fatores determinantes no sucesso do tratamento.
A integração de tecnologias de monitoramento contínuo e a adesão a protocolos de terapia médica orientada por diretrizes podem ser determinantes para a obtenção de resultados positivos. O acompanhamento rigoroso após qualquer intervenção é fundamental, pois a interação entre o dispositivo de assistência ventricular e as terapias de controle de ritmo continua a ser uma área de investigação em aberto, com resultados que ainda estão sendo consolidados.
Como os Dispositivos de Assistência Ventricular Esquerda (LVAD) Afetam a Função Renal
O impacto dos dispositivos de assistência ventricular esquerda (LVAD) na função renal tem sido um tema amplamente discutido, especialmente considerando a complexidade da interação entre o coração e os rins. Estudos indicam que, enquanto o LVAD pode melhorar temporariamente a função renal em alguns pacientes, ele também pode ser responsável por complicações renais a longo prazo, afetando não apenas a perfusão renal, mas também os mecanismos bioquímicos que regem a homeostase cardiovascular.
Em pacientes com insuficiência cardíaca avançada, a implantação do LVAD pode resultar em uma melhoria inicial significativa na taxa de filtração glomerular estimada (eGFR). Em particular, observou-se um aumento de 22% a 47% no eGFR após a cirurgia, o que sugere um prognóstico mais favorável. Este efeito, porém, não é uniforme: embora a melhora inicial da função renal seja significativa em muitos casos, um grande número de pacientes sofre uma queda gradual na função renal após o primeiro mês, indicando que a resposta renal ao LVAD não é exclusivamente positiva a longo prazo.
A explicação para essa melhora inicial parece estar associada a uma complexa interação hemodinâmica e não-hemodinâmica entre o coração e os rins. No entanto, a ausência de pulsatilidade, característica de muitos modelos de LVAD, desempenha um papel crítico. O LVAD de fluxo contínuo (cfLVAD), ao contrário do LVAD de fluxo pulsátil (pfLVAD), resulta em um aumento da atividade simpática e na ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (RAAS), que pode agravar as condições renais, especialmente em pacientes que já apresentam disfunção renal.
Estudos experimentais com modelos de animais mostraram que a falta de pulsatilidade no cfLVAD pode causar uma série de alterações estruturais nos rins, como o desenvolvimento de periarterite renal, caracterizada por inflamação nas artérias renais. Essas mudanças podem levar ao agravamento da função renal, com efeitos a longo prazo que podem incluir síndrome cardiorrenal (CRS), uma condição em que a insuficiência renal é exacerbada pela insuficiência cardíaca.
Além disso, as alterações nas pressões venosas centrais e na perfusão renal resultantes do LVAD podem comprometer ainda mais a função renal, mesmo que o dispositivo ajude a estabilizar a função cardíaca a curto prazo. A ativação do sistema nervoso simpático e do RAAS pode contribuir para esse cenário, levando ao pior prognóstico renal em pacientes com histórico de disfunção renal antes da implantação do dispositivo.
Estudos longitudinais têm mostrado que, embora a melhora inicial da função renal seja notável, a progressão para insuficiência renal crônica (IRC) pode ocorrer nos meses seguintes. Isso é particularmente evidente em pacientes que experienciam uma recuperação temporária da função renal após a implantação do LVAD, mas que depois experimentam um declínio gradual, muitas vezes exacerbado pela necessidade de terapias de substituição renal. Em estudos com pacientes de longa duração, alguns demonstraram melhorias na função renal, mas a maioria apresentou uma queda nos valores de eGFR após o primeiro mês, indicando a necessidade de um monitoramento contínuo e intervenções para preservar a função renal a longo prazo.
A integração de estratégias de otimização hemodinâmica agressiva e protocolos para o tratamento da lesão renal aguda (AKI) é crucial para melhorar os resultados dos pacientes submetidos ao LVAD. Para pacientes com risco aumentado de lesão renal, como aqueles com eGFR abaixo de 30 mL/min/1,73 m², o cuidado pós-operatório intensivo e a monitorização constante são fundamentais. Contudo, uma questão ainda não totalmente resolvida é se as estratégias de manejo podem de fato mitigar os efeitos adversos do LVAD na função renal a longo prazo.
Portanto, é essencial que futuros estudos se concentrem em entender melhor a biologia subjacente dessas mudanças na função renal, considerando tanto fatores hemodinâmicos quanto biológicos. Isso inclui a definição mais clara de subtipos de derrame e suas implicações para os pacientes com LVAD, bem como o desenvolvimento de terapias direcionadas à modulação do RAAS e à redução da ativação simpática. Além disso, a inclusão de mais técnicas de imagem multimodal para avaliação da etiologia do derrame e a utilização de escalas padronizadas de avaliação de gravidade são passos importantes para melhorar os resultados dos pacientes e a eficácia dos tratamentos.
A relação entre o coração e os rins, particularmente em pacientes com LVAD, revela a complexidade da fisiopatologia desses sistemas interconectados. Compreender as interações entre a assistência circulatória e os órgãos alvo, como os rins, é essencial para otimizar os cuidados e, assim, melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

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