A propaganda computacional tem se mostrado uma ferramenta poderosa para moldar discussões políticas nas redes sociais, especialmente em contextos eleitorais. Uma análise aprofundada de links compartilhados em Michigan, uma das chamadas "swing states" (estados decisivos), durante a eleição presidencial dos Estados Unidos em 2016, revelou um cenário perturbador. Aproximadamente 26.000 links foram analisados, revelando que, nos dias que antecederam a eleição, o conteúdo de "junk news" (notícias falsas, conteúdo extremista e hipermidiático) foi compartilhado com a mesma intensidade que notícias produzidas por fontes profissionais, incluindo jornalistas cidadãos e mídias independentes (Howard et al., 2017). Esse fenômeno não foi exclusivo dos EUA; similaridades podem ser observadas em outros contextos eleitorais no ocidente, como no Reino Unido, Alemanha e França.

A pesquisa sobre a prevalência de "junk news" nos EUA, comparada com outros países europeus, demonstra como o impacto dessa desinformação pode variar significativamente conforme o contexto político. Nos EUA, a proporção de notícias falsas e conteúdo extremista foi mais alta, especialmente nos estados decisivos, onde a mídia social teve um papel crucial na mobilização dos eleitores. No Reino Unido, durante a eleição geral de 2017, "junk news" representou 10% das mensagens compartilhadas, enquanto na Alemanha esse percentual foi ainda menor, 9%, durante as eleições federais e parlamentares de 2017 (Neudert et al., 2017a; Kaminska et al., 2017). Em contrapartida, na eleição presidencial francesa de 2017, a desinformação era quase irrelevante, representando apenas 6% do total de links compartilhados no primeiro turno e 4% no segundo turno, com um elevado índice de 11:1 de fontes profissionais em relação a fontes de "junk news" (Bradshaw et al., 2017).

A influência da propaganda computacional não é homogênea entre países, sendo muito mais pronunciada nos EUA em comparação com o Reino Unido, Alemanha e França, onde o domínio da mídia profissional e a supervisão governamental foram mais eficazes em mitigar a propagação de informações falsas. No entanto, todos esses países compartilham uma preocupação comum: a ameaça que a propaganda computacional representa para o processo democrático. A disseminação de desinformação nas redes sociais compromete a qualidade da informação que os cidadãos recebem, prejudicando sua capacidade de tomar decisões políticas informadas.

A disseminação de "junk news" também é um reflexo de um ambiente político altamente polarizado, onde as redes sociais servem tanto para reforçar visões extremistas quanto para amplificar narrativas manipuladoras. Mesmo governos autoritários, como o da Rússia, têm se beneficiado dessas tecnologias, promovendo suas agendas políticas dentro e fora de seus territórios. No entanto, embora a atenção internacional tenha se concentrado nas atividades de propaganda atribuídas ao Estado russo, os dados indicam que o conteúdo associado ao governo russo foi compartilhado de maneira relativamente esparsa nas eleições dos EUA, Reino Unido, França e Alemanha, representando menos de 3% do total de conteúdo (Narayanan et al., 2017). A propagação de conteúdo russo também foi mínima quando comparada com o conjunto de mensagens compartilhadas nas redes sociais.

Outro ponto que se destaca é o papel do Estado chinês na utilização das redes sociais para promover sua agenda política. A China, com sua longa história de controle da informação, não utiliza a automação de bots de maneira tão destacada quanto o fazem os EUA ou a Rússia. Em vez disso, a propaganda chinesa depende de uma estratégia mais sofisticada e elaborada, que envolve o uso da computação para gerir e direcionar a informação. O país tem se focado na criação e amplificação de narrativas positivas em sua mídia digital, ao mesmo tempo em que exclui de maneira eficaz qualquer conteúdo considerado desfavorável ao regime (King et al., 2016). Embora a automação em termos de propaganda seja limitada, a manipulação de informação através da computação é uma parte fundamental da estratégia de propaganda do governo chinês.

É importante que o leitor compreenda que, ao contrário da censura, que lida diretamente com a remoção de conteúdo, a propaganda computacional se apresenta de maneira mais intrusiva. Ela não apenas remove ou oculta a informação, mas cria uma realidade alternativa, imersa em narrativas manipuladas, que pode ser extremamente difícil de distinguir da verdade. Esse controle de narrativa não se limita a um período eleitoral, mas se estende por todo o ciclo político, afetando decisões de políticas internas e externas.

Por fim, os desafios impostos pela propaganda computacional exigem uma reflexão profunda sobre o papel da informação na formação de uma sociedade democrática. Em um mundo cada vez mais interconectado, as plataformas de mídia social tornam-se um campo de batalha crucial para as ideologias dominantes, e, portanto, a regulação e a educação crítica sobre o consumo de mídia são essenciais para a proteção das democracias.

Como Taiwan Está Combatendo as Operações de Informação e Fake News: O Papel da Participação Cidadã

Taiwan tem sido pioneira na implementação de estratégias inovadoras para enfrentar as crescentes ameaças das operações de informação (IO), especialmente no combate à desinformação. A desinformação, muitas vezes promovida por atores externos ou internos com o intuito de moldar a opinião pública e influenciar políticas, representa uma ameaça significativa para a democracia e a estabilidade social. Em resposta a esse desafio, Taiwan desenvolveu uma série de mecanismos que visam não apenas identificar e combater fake news, mas também fortalecer o papel do cidadão na defesa da verdade e da transparência.

Uma das iniciativas mais notáveis é o trabalho realizado pelo G0V, uma organização não governamental dedicada a aumentar a "transparência" e a "participação cidadã". Através da criação de ferramentas como a extensão de navegador News Helper, o G0V permite que os usuários identifiquem notícias falsas por meio de um sistema de verificação colaborativa. Esta ferramenta avisa os leitores sobre matérias já verificadas e fornece links para as versões corretas ou informações contraditórias. O impacto dessa tecnologia é ampliado com a utilização de bots em plataformas como o LINE, que ajudam os usuários a distinguir entre notícias reais e falsas. Além disso, Taiwan está implementando a alfabetização midiática em seu currículo escolar, preparando as futuras gerações para um consumo de informação mais consciente.

No entanto, embora essas iniciativas tenham sido bem-sucedidas em muitos aspectos, sempre há espaço para melhorias. Para enfrentar as operações de informação de forma eficaz no século XXI, Taiwan precisa adotar novas estratégias que envolvam ainda mais os cidadãos. Plataformas digitais como o vTaiwan e o pol.is são exemplos claros de como a participação cidadã pode ser integrada no processo de tomada de decisão política. Essas plataformas permitem que questões controversas sejam discutidas abertamente, com a participação de cidadãos, acadêmicos e autoridades. A interação direta através de reuniões públicas digitais e físicas facilita o engajamento e assegura que a decisão final seja informada e representativa da sociedade.

Apesar dessas inovações, é essencial que as plataformas sejam protegidas contra manipulações, como a astroturfing, em que tentativas de criar uma falsa impressão de apoio popular podem distorcer os resultados. Além disso, nem todos os cidadãos participam ativamente dessas plataformas, o que limita a eficácia da mobilização. Assim, é crucial aumentar a acessibilidade e o conhecimento sobre essas ferramentas, especialmente em espaços públicos, como pontos de ônibus e meios de comunicação tradicionais, para garantir uma participação mais ampla.

Por outro lado, o governo de Taiwan tem feito esforços significativos para garantir uma comunicação rápida e consistente para contrapor as narrativas falsas geradas por adversários. A falha em comunicar-se de forma coordenada e eficiente permite que narrativas erradas sejam espalhadas antes que o governo consiga apresentar uma resposta oficial. Assim, é vital que existam mecanismos ágeis e transparentes para desmentir informações prejudiciais antes que estas se espalhem de maneira irreversível.

Além de ferramentas digitais, a participação cidadã também deve se expandir para o campo da educação e do treinamento contínuo sobre como identificar e combater desinformação. Embora as plataformas como o G0V e o pol.is sejam ferramentas poderosas, elas sozinhas não são suficientes. A educação sobre como lidar com desinformação deve ser um esforço contínuo, tanto no setor público quanto privado, e deve alcançar todas as camadas da sociedade.

Além disso, o papel do cidadão não deve ser limitado apenas à verificação de fatos ou ao combate direto às fake news, mas também à participação ativa em decisões políticas que envolvam a resposta às ameaças externas e internas de desinformação. Isso significa que, ao utilizar plataformas como o pol.is, os cidadãos devem estar preparados para se engajar de maneira construtiva e ética, sem recorrer a táticas desleais como a manipulação de resultados online ou a criação de falsos testemunhos. O compromisso com a ética e a veracidade deve ser a base de todas as ações de combate à desinformação.

Por fim, é importante que Taiwan e outros países que enfrentam ameaças semelhantes também investiguem as operações de ciberespionagem e manipulação realizadas por agentes externos, como os ciberexércitos da China e da Rússia, que frequentemente tentam influenciar políticas internas através de operações de desinformação. O monitoramento dessas atividades deve ser feito de maneira contínua, com a colaboração de organizações internacionais e a implementação de medidas que dificultem a manipulação das informações. Ao fazer isso, Taiwan não só protege sua própria democracia, mas também serve de modelo para outros países que enfrentam ameaças semelhantes.

A Guerra Moderna: A Batalha da Mente e a Estratégia da Desinformação

A guerra moderna se afasta das formas tradicionais de conflito, transcendendo o campo de batalha físico, como os domínios do ar, mar e terra, para se concentrar na psique humana, na informação e no espaço cibernético. Nesse novo cenário, o principal objetivo é influenciar a população inimiga, legitimar objetivos estratégicos e moldar a percepção pública, criando uma guerra de percepções em vez de uma guerra física convencional.

A transformação da guerra de destruição direta para uma guerra de influência direta marca uma mudança fundamental no modo de operação dos conflitos contemporâneos. Não se trata mais de eliminar o inimigo fisicamente, mas de corromper sua estrutura sociocultural, causando o que se pode chamar de "decadência interna" através da guerra cultural. Forças especialmente preparadas e grupos comerciais irregulares desempenham um papel central nesse processo, criando divisões e desacordos dentro da sociedade inimiga, utilizando táticas psicológicas e manipulação de informações.

Além disso, a guerra psicológica e informacional se expandem além das fronteiras tradicionais do campo de batalha. Ao invés de um confronto direto com forças armadas convencionais, a guerra moderna ocorre principalmente no domínio da mente humana, em um ambiente onde as batalhas são travadas por meio da manipulação da percepção, a criação de narrativas alternativas e a exploração das emoções coletivas da população. Esse campo de batalha psicológico, também conhecido como guerra de percepções, é alimentado pela disseminação de distorções, boatos, desinformações e teorias da conspiração.

Esse novo tipo de guerra leva à proliferação de um estado permanente de conflito, onde a paz torna-se uma ilusão, e o inimigo é visto não como uma ameaça física, mas como uma entidade sempre presente, que deve ser combatida não através de meios militares convencionais, mas por influências políticas, econômicas e culturais constantes. O espaço cibernético e as redes sociais têm um papel crucial nesse contexto, pois permitem a disseminação quase irrestrita de informações e a manipulação das massas, criando uma realidade alternativa que sustenta os objetivos estratégicos do agressor.

A guerra moderna não é mais limitada a um período específico de tempo, mas assume um caráter constante. A relação entre fatores militares e não militares—como os elementos políticos, psicológicos, ideológicos e informacionais—torna-se crucial para o sucesso de uma campanha, muitas vezes mais importante que o poder militar puro. A verdadeira batalha não ocorre no campo de batalha, mas na capacidade de um país de controlar a narrativa e moldar as percepções do público.

Em um exemplo recente, como a intervenção russa na Ucrânia, vemos uma aplicação prática dessa estratégia. Em vez de um confronto militar direto, o objetivo da Rússia foi minar o apoio popular ao governo ucraniano, criando divisões internas e explorando as fragilidades da sociedade ocidental. Isso foi alcançado por meio do apoio a movimentos extremistas, a disseminação de informações divisivas e a promoção de uma narrativa contra os valores ocidentais, buscando enfraquecer a coesão interna da Ucrânia e a unidade do Ocidente, particularmente enfraquecendo as alianças como a OTAN e a União Europeia.

Porém, a guerra de informações não é uma questão exclusiva de potências externas. Dentro de qualquer sociedade, a manipulação da percepção pública pode ser utilizada para fins de controle interno, polarizando a população, criando crises políticas e incentivando a desconfiança em relação ao governo ou a instituições fundamentais. O conceito de guerra psicológica e informacional torna-se, assim, uma ferramenta de poder interna tanto quanto externa, em um ciclo contínuo de manipulação das massas.

Portanto, a verdadeira essência da guerra moderna reside na capacidade de dominar as mentes humanas, de criar uma narrativa que sustente os objetivos estratégicos do agressor e de transformar a sociedade em um campo de batalha psicológico. A resistência contra essa forma de guerra depende não apenas da capacidade de proteger sistemas de informação, mas também de cultivar uma população ciente das táticas de manipulação e que, em nível cognitivo, possa resistir às pressões de uma guerra incessante de percepções.

Como Combater Operações de Influência e Desinformação: O Desafio dos DRUMS

A atual guerra da informação, movida por operações de influência e desinformação, representa um desafio imenso para a segurança e a estabilidade das sociedades. A utilização estratégica de distorções, boatos, inverdades, desinformações e difamações – que formam o acrônimo DRUMS (Distortion, Rumours, Untruths, Misinformation and Smears) – não apenas afeta a percepção pública, mas pode ter efeitos reais e devastadores sobre a política e a segurança nacional. A proposta de Haciyakupoglu e Ang, que destaca a plausível negação de responsabilidade em ações civis dentro da guerra irrestrita, aponta que esses ataques podem ser direcionados para influenciar a opinião pública sem deixar rastros evidentes, dificultando qualquer resposta diplomática eficaz.

Taiwan, como exemplo de uma sociedade em alerta, tem trabalhado no fortalecimento de sua capacidade de resposta, identificando áreas críticas que necessitam de melhorias para enfrentar esse tipo de guerra. Em vez de focar apenas na atribuição de responsabilidade por esses ataques, os países precisam dar maior atenção à prevenção e resposta proativa. A disseminação de mentiras e desinformações online, integradas a estratégias mais amplas de operações de influência, tornou-se um método sofisticado para desestabilizar sociedades e governos. O combate contra os DRUMS não é apenas uma questão de identificar mentiras, mas de entender como essas operações podem minar a coesão social e enfraquecer a moral da população.

Jānis Bērziņš, em seu estudo sobre operações de influência na região do Báltico, identifica a guerra cibernética como uma nova dimensão do conflito, onde o controle da percepção e a manipulação da mente humana se tornam os principais objetivos. O sucesso de tais operações de influência pode permitir que um adversário vença sem precisar lutar diretamente, diminuindo a vontade de combate da população e das forças armadas. Nesse sentido, a construção de uma maior resiliência nas sociedades é vista como essencial para neutralizar esses efeitos, com o fortalecimento do pensamento crítico, maior participação política e uma comunicação clara entre os governos e seus cidadãos sobre a natureza dessas ameaças.

O caso da Rússia, com suas operações de influência em países ocidentais como França e Alemanha, oferece um exemplo claro de como a disseminação estratégica de desinformações pode alterar o rumo de eleições e enfraquecer a posição de estados na arena internacional. Janda e Víchová argumentam que a resposta dos países não deve ser reativa, mas sim preventiva, com a criação de estruturas permanentes para enfrentar operações de influência. A cooperação internacional e o fortalecimento das instituições que combatem essas práticas são cruciais para garantir uma resposta efetiva e duradoura.

No contexto alemão, Karolin Schwarz explora o impacto da desinformação no tecido social, revelando que os DRUMS têm o poder de reforçar estereótipos racistas e xenofóbicos, polarizando a sociedade e minando a confiança nas instituições públicas. As respostas legislativas e as iniciativas de verificação de fatos são apontadas como formas de mitigar esse impacto, mas Schwarz adverte que essas soluções não são perfeitas. A legislação, como a Lei de Aplicação de Redes da Alemanha (Netzwerkdurchsetzungsgesetz), concentra poder excessivo nas mãos das plataformas de redes sociais, enquanto as iniciativas de verificação de fatos precisam evoluir para acompanhar a velocidade e a complexidade da desinformação.

Por fim, o capítulo de Andreas Schleicher apresenta uma solução a longo prazo, que exige uma mudança significativa na educação. Schleicher argumenta que, mais do que aprender apenas fatos, é necessário ensinar as pessoas a acessar, gerenciar e refletir sobre a informação de forma crítica. Esse desenvolvimento de habilidades é fundamental para garantir que as futuras gerações possuam os recursos necessários para navegar com segurança no mundo da informação pós-verdade.

À medida que os DRUMS se tornam uma arma de guerra cada vez mais acessível, com custos de implementação cada vez mais baixos devido ao avanço da tecnologia, os governos e as sociedades devem se preparar para um cenário onde essa forma de guerra será cada vez mais comum. A solução não está em acreditar que a ameaça desaparecerá, mas em encontrar maneiras de mitigá-la, protegendo a sociedade da manipulação massiva da informação.

A resistência a essa ameaça não depende apenas das ações dos governos e das grandes empresas de tecnologia, mas também da sociedade civil e dos indivíduos. Combatendo DRUMS, os cidadãos devem ser capacitados para discernir a verdade da mentira e para resistir às manipulações que buscam dividir e enfraquecer a sociedade. O envolvimento ativo de todos é a única maneira de garantir uma resposta eficaz e duradoura a esse desafio global crescente.