A utilização de ambientes de teste separados da produção é um padrão comum na indústria de software. No entanto, uma mudança de paradigma tem ocorrido, questionando a necessidade de ambientes de staging, ou preparação, antes de implementar mudanças em produção. Em vez de realizar todo o processo de teste em ambientes separados, algumas práticas inovadoras estão sendo adotadas para permitir que o teste aconteça diretamente em produção, mantendo a integridade e a confiabilidade dos sistemas.
O uso de feature flags, por exemplo, permite que um código seja implementado na produção, mas apenas ativado para um subconjunto de usuários, ou em momentos específicos, de forma controlada. Esse método possibilita que novos recursos sejam testados em produção, sem causar impacto nas operações ou na experiência do usuário. A adoção dessas técnicas exige um controle rigoroso sobre os dados, como o uso de scripts para filtrar, particionar e limpar os dados da produção. Dessa forma, os dados de teste não contaminam a experiência dos clientes, preservando a integridade do sistema.
Além disso, a confiança dos usuários e do time de desenvolvimento em realizar testes em produção depende fortemente de uma infraestrutura de monitoramento e de registro de logs eficientes. O comportamento correto do sistema deve ser facilmente verificável no momento da liberação, o que exige a implementação de boas práticas de monitoramento contínuo. A visibilidade desses dados e resultados em tempo real é crucial para garantir que não há falhas invisíveis, nem efeitos adversos no serviço.
A prática de controle de exposição também é essencial. Isso significa que alterações devem ser feitas com um nível de risco reduzido, usando, por exemplo, técnicas de controle de exposição gradual. Isso permite que o sistema seja monitorado de perto enquanto as modificações são introduzidas, minimizando o impacto de potenciais falhas de integração. Essas abordagens, quando combinadas, oferecem uma forma de reduzir a necessidade de ambientes dedicados, como o staging, sem comprometer a qualidade e a segurança do software.
Outra consideração importante envolve a teste de infraestruturas, especialmente quando a infraestrutura se torna código. Ferramentas como o Test Kitchen permitem automação do processo de configuração e validação da infraestrutura, realizando testes unitários, de integração e aceitação de forma contínua. No entanto, a testagem de infraestruturas pode ser um desafio devido à falta de ferramentas específicas ou ao retorno baixo sobre o investimento. A própria natureza declarativa do código de infraestrutura torna os testes em muitos casos redundantes, já que as verificações repetem declarações já feitas no código.
Ainda assim, a monitorização da infraestrutura não deve ser desconsiderada. A monitorização contínua pode suplementar os testes automáticos, fornecendo insights sobre o estado de serviços e sistemas em tempo real, além de permitir a visualização de tendências históricas sobre a saúde do ambiente. Isso ajuda a identificar problemas antes que se tornem críticos, melhorando a resiliência do sistema.
Em alguns casos, quando a infraestrutura deixa de ser um recurso precioso e limitado, práticas de testes destrutivos podem ser aplicadas. Esse tipo de teste envolve simulações de falhas, como a interrupção de interfaces de rede, falhas em processos de banco de dados ou sobrecarga de serviços web. Tais testes permitem verificar a resiliência do sistema a situações adversas e garantir que o produto seja capaz de lidar com falhas de maneira eficaz. O conceito de "fail often" (falhar frequentemente), adotado por empresas como a Netflix, ilustra como a introdução controlada de falhas pode melhorar a robustez de um sistema. Por meio de ferramentas como o Chaos Monkey, que desabilita aleatoriamente instâncias de produção, ou o Latency Monkey, que simula atrasos nas comunicações, é possível testar como o sistema responde a falhas de infraestrutura em tempo real, evitando grandes surpresas em momentos críticos.
Por fim, a combinação de práticas de testes em produção e o uso de ferramentas específicas para infraestrutura exige uma visão mais abrangente e uma cultura de confiança na automação e na monitorização contínua. A chave para garantir que o sistema permaneça seguro, estável e eficiente está no controle rigoroso das mudanças e na capacidade de identificar problemas rapidamente antes que se tornem um obstáculo para a operação.
Como a Testagem e o Monitoramento em Produção Melhoram a Eficiência dos Sistemas: Exemplos do Candy Crush e da Capital One
O sucesso das plataformas digitais, como o famoso Candy Crush, depende diretamente de sua capacidade de entregar uma experiência de usuário consistente e de alta qualidade. Uma das abordagens cruciais para garantir que esse sucesso seja sustentável ao longo do tempo é a testagem em produção, uma técnica que assegura a qualidade do software sem interromper o fluxo de trabalho contínuo de desenvolvimento e operações. No caso do Candy Crush, por exemplo, a abordagem de regressão em testes permite monitorar continuamente a taxa de sucesso do jogo, utilizando dados coletados diretamente da produção para calibrar adequadamente os bots de testes. Essa prática exemplifica como as equipes de desenvolvimento e operações podem trabalhar juntas, utilizando análises de produção para aprimorar os testes pré-lançamento, garantindo a qualidade do produto sem comprometer a agilidade.
Outro exemplo prático do uso de dashboards e automação no monitoramento de processos de entrega contínua vem da Capital One, um banco americano que se destaca por sua abordagem inovadora em DevOps. A empresa implementou a ferramenta Hygieia, um painel de controle que agrega dados de todo o pipeline de entrega de software. Essa ferramenta não só proporciona uma visualização em tempo real do processo de desenvolvimento, desde o commit do código até a implantação na produção, mas também facilita a detecção de falhas e o gerenciamento de riscos. A Hygieia é configurada para mostrar uma visão clara das atividades de desenvolvimento, como número de commits, status das builds, resultados de testes automatizados e análise estática do código. Além disso, permite acompanhar o status de segurança e os testes funcionais executados, o que dá uma visibilidade completa do pipeline para todas as equipes envolvidas.
Com essa visibilidade, a Capital One tem conseguido aumentar a transparência nas operações e melhorar a velocidade do pipeline, focando na redução de tempos de espera ao invés de simplesmente acelerar os processos individuais, como as builds. De acordo com Topo Pal, diretor da empresa, ao identificar e reduzir os tempos de parada no pipeline, é possível otimizar o fluxo geral sem prejudicar a qualidade. Esse foco em "reduzir o tempo de espera" demonstra a evolução das práticas de DevOps, onde não basta apenas melhorar a performance das tarefas, mas também gerir de forma mais eficiente o tempo total do processo.
A mudança de mentalidade no setor financeiro, especialmente em empresas como a Capital One, que se posiciona como uma fintech inovadora, reflete a importância de adotar soluções abertas e flexíveis. O uso do Hygieia, por exemplo, é um passo para uma transformação digital ainda mais profunda, pois não apenas torna o processo mais ágil, mas também promove uma cultura de colaboração e transparência entre as equipes de TI e operações. O fato de a Hygieia ser open-source também significa que outras organizações podem adotar e adaptar essa solução conforme suas necessidades específicas, o que impulsiona a inovação em todo o setor.
Por fim, um exemplo de como a testagem em produção pode ser aplicada de maneira eficaz vem do The Guardian, um dos principais jornais britânicos. A equipe de QA do jornal passou a testar menos durante o desenvolvimento e a focar mais na monitorização pós-lançamento, realizando automações que operam diretamente no ambiente de produção. A razão para essa mudança foi a necessidade de aumentar a velocidade de entrega do software sem comprometer a qualidade. O The Guardian percebeu que, em seu contexto, os riscos de não liberar o software rapidamente para os usuários eram maiores do que os riscos de eventuais falhas que poderiam ser corrigidas rapidamente após o lançamento. Essa abordagem permitiu que o time mantivesse uma alta frequência de lançamentos (até 400 por dia), enquanto os problemas eram identificados e resolvidos quase em tempo real, sem impacto significativo na experiência do usuário.
O que se observa nesses exemplos é uma crescente tendência de transferir o foco da testagem do desenvolvimento para a produção. Ao invés de tentar corrigir todos os erros antes do lançamento, muitas empresas estão adotando métodos que permitem detectar e corrigir problemas enquanto o sistema já está em uso. Isso requer a implementação de ferramentas de monitoramento e automação altamente eficazes, bem como uma mudança na mentalidade das equipes envolvidas, que devem estar preparadas para responder rapidamente a qualquer falha que possa surgir em tempo real.
É importante destacar que, embora a testagem em produção seja uma prática poderosa, ela não deve ser vista como uma substituição da testagem tradicional, mas sim como uma camada adicional de segurança e eficiência. O desenvolvimento ágil e o DevOps promovem uma integração contínua entre o desenvolvimento e a operação, mas sempre com a compreensão de que, em alguns casos, testes rigorosos ainda são necessários antes do lançamento para garantir a estabilidade inicial. A chave para o sucesso é encontrar o equilíbrio entre as práticas de teste antes e depois do lançamento, aproveitando o melhor dos dois mundos.

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