Em metais, a redução do fator se aplica novamente devido à distribuição de Fermi, de forma semelhante ao que ocorre com a capacidade calorífica dos elétrons. Este conceito está profundamente relacionado ao comportamento termoelétrico, que pode ser observado no efeito Seebeck. Ao ser submetido a um gradiente de temperatura, além da difusão térmica dos elétrons, gera-se uma corrente de fônons que transporta calor. Esse fenômeno, conhecido como "phonon drag", é fundamental para entender as interações dentro dos materiais condutores. A interação entre elétrons e fônons faz com que essa corrente de fônons arraste os elétrons consigo, o que origina a componente chamada "componente phonon-drag" do coeficiente de Seebeck.
A outra componente, que permaneceria se a corrente de fônons não existisse, é a "componente de difusão eletrônica". Essa distinção é importante para entender como os materiais reagem a variações de temperatura e como isso influencia suas propriedades termoelétricas. A componente phonon-drag do coeficiente de Seebeck varia com a temperatura de maneira similar à condutividade térmica da rede cristalina, como mostrado na Figura 3.6. À medida que a temperatura aumenta, essa componente passa por um máximo distinto e tende a desaparecer em temperaturas superiores a 25°C, ou seja, à temperatura ambiente.
Quando consideramos a condutividade elétrica, o efeito phonon-drag se torna irrelevante. Isso ocorre porque a interação entre elétrons e fônons no contexto da condutividade elétrica é de segunda ordem. O primeiro efeito ocorre quando a corrente elétrica induz uma corrente de fônons, que então age de volta nos elétrons, modificando o fluxo elétrico de maneira mais sutil.
Além disso, os coeficientes de Peltier () e Seebeck () de um material estão interligados pela famosa relação de Thomson: . Esta relação entre os coeficientes de Peltier e Seebeck é um exemplo proeminente do esquema de reciprocidade de Lars Onsager para coeficientes de transporte. A teoria de metais, abordada de maneira resumida nesta seção, também se desenvolveu rapidamente após a consolidação da mecânica quântica. Em especial, a obra "The Theory of the Properties of Metals and Alloys", de Nevill Francis Mott e H. Jones, publicada em 1936, representa uma das primeiras contribuições detalhadas ao tema. Outro marco importante foi o artigo de revisão de Arnold Sommerfeld e Hans Bethe, intitulado "Electron Theory of Metals", publicado em 1933. Neste artigo, Bethe, com apenas 27 anos, expôs resultados que ainda são relevantes e de grande utilidade no estudo das propriedades dos metais.
Embora a interação dos elétrons com os fônons seja crucial para entender certos comportamentos térmicos e de transporte em metais, ela não é o único fator determinante. O comportamento geral dos metais e sua condutividade dependem de uma série de variáveis, incluindo a estrutura eletrônica do material e a temperatura a que ele é submetido. O surgimento de pares de elétrons que formam estados não-férmions, como no caso da supercondutividade, também representa um desvio importante dos modelos tradicionais, sendo tratado de forma mais aprofundada em capítulos subsequentes da obra.
O entendimento do efeito phonon-drag é um excelente ponto de partida para quem busca compreender o comportamento termoelétrico de materiais em nível fundamental, mas a realidade prática vai muito além desse efeito simples. O desenvolvimento das propriedades termoelétricas e suas aplicações práticas, como no caso das tecnologias de refrigeração e geração de energia, depende da manipulação e controle das condições materiais para maximizar essas interações.
Como o Campo Magnético Afeta a Quantização de Energia e a Estrutura de Landau nos Eletrões
A ausência de um campo magnético resulta em uma distribuição homogênea dos estados no espaço tridimensional de onda (k-espaço), com estados ocupáveis preenchendo todo o volume disponível. Entretanto, quando um campo magnético está presente, a quantização de energia, conforme descrita por Landau, faz com que os estados ocupáveis se redistribuam ao longo de uma série de "cilindros de Landau" coaxiais. Estes cilindros têm o eixo alinhado com a direção do vetor de onda kZ, que coincide com a direção do campo magnético. A distância energética entre dois cilindros consecutivos é dada por ωc, e aumenta proporcionalmente à intensidade do campo magnético B. Portanto, em campos magnéticos elevados, a distância energética entre os cilindros de Landau se torna relativamente grande. Para um campo magnético B = 1 T, o valor típico de ωc é cerca de 10⁻⁴ eV, como ilustrado na figura 7.2.
É fundamental que as órbitas circulares dos elétrons no campo magnético não sejam perturbadas por processos de colisão para que a quantização de energia de Landau se manifeste claramente. As órbitas devem ser completamente percorridas pelo elétron, sem interrupção, pelo menos uma vez. Como o número de colisões, por exemplo com fonons, diminui com a temperatura, temperaturas extremamente baixas são necessárias, além de campos magnéticos elevados, para a observação experimental da estrutura quântica associada aos cilindros de Landau. Temperaturas baixas também asseguram que a energia térmica kBT seja significativamente menor que a distância energética ωc entre dois cilindros consecutivos, evitando que a estrutura quântica seja "esmaecida" pela energia térmica. Além disso, para um resultado experimental claro, é essencial o uso de cristais monocristalinos com a mais alta pureza possível.
Para a manifestação nítida dos cilindros de Landau, as seguintes condições devem ser atendidas: ωcτ > 1 e kBT < ωc.
Desde 1930, Landau já havia reconhecido que a quantização de energia dos elétrons de condução em um campo magnético poderia resultar em uma oscilação periódica exata das propriedades macroscópicas dos materiais, como o diamagnetismo, em função da intensidade do campo magnético. Porém, ele acreditava que os materiais amostrais disponíveis não possuiriam a pureza necessária para que esse efeito fosse observável. De fato, conforme o campo magnético aumenta, a distância energética ωc entre dois cilindros consecutivos também cresce, o que reduz o número de cilindros de Landau que podem ser ocupados até a energia de Fermi. Como resultado, a redistribuição dos elétrons ao longo dos cilindros de Landau leva a uma oscilação periódica da energia total dos elétrons. Quando a energia de Fermi se iguala a ωc(ℓ + 1/2), observa-se um pico na energia total, e um mínimo ocorre quando εF = ωcℓ. Esse comportamento leva à oscilação periódica das propriedades eletrônicas do material, como o diamagnetismo.
Contrariando a expectativa de Landau, as oscilações do diamagnetismo foram observadas pela primeira vez em 1930, em cristais monocristalinos de bismuto, pelos físicos holandeses Wander Johannes de Haas e Pieter M. van Alphen, em Leiden. Este efeito passou a ser conhecido como o efeito de de Haas–van Alphen. A contribuição teórica de Rudolf E. Peierls foi essencial para a compreensão deste fenômeno, e uma importante evolução teórica ocorreu com Lars Onsager, durante sua visita a Cambridge, entre 1950 e 1951. Onsager destacou a interpretação geométrica da superfície de Fermi no k-espaço tridimensional de ondas, demonstrando que apenas as seções extremas da superfície de Fermi, perpendiculares à direção do campo magnético, contribuem para esse efeito. As contribuições das outras partes da superfície de Fermi se cancelam, tornando-as irrelevantes para o efeito.
A periodicidade das oscilações de de Haas–van Alphen é inversamente proporcional à seção extrema da superfície de Fermi, ou seja, inversamente proporcional à maior e menor seção. Essa periodicidade pode ser observada quando as oscilações são representadas em função de 1/B. A relação exata da oscilação foi confirmada por cálculos envolvendo a frequência ciclotrônica ωc e a massa ciclotrônica mc, que descrevem o movimento dos elétrons sob a influência do campo magnético.
Com base nas formulações de Onsager e nos cálculos derivados, pode-se entender que cada nível de Landau contribui com uma quantidade específica para a seção transversal da superfície de Fermi. O efeito de de Haas–van Alphen, portanto, está diretamente ligado à magnetização do material. O comportamento oscilante das propriedades de magnetização M segue a periodicidade do campo magnético B. Essas oscilações de magnetização podem ser descritas pela energia livre F = U - TS, onde a magnetização M é dada por uma relação derivada da função de energia interna U.
O efeito de de Haas–van Alphen é uma manifestação fascinante da interação entre elétrons e campos magnéticos fortes, e tem implicações significativas no entendimento de materiais com alta mobilidade eletrônica, como metais puros e semicondutores em condições extremas de temperatura e campo magnético. Para a observação clara deste efeito, a pureza do material, as condições de temperatura e a intensidade do campo magnético devem ser cuidadosamente controladas.
Como a Supercondutividade em Ferro-Pnictídeos Está Transformando a Física dos Materiais
A descoberta da supercondutividade em ferro-pnictídeos foi uma verdadeira revolução, alterando paradigmas que pareciam imutáveis na física dos materiais. A chave dessa descoberta foi a dopagem de compostos com flúor (F), sendo um dos exemplos mais notáveis o composto LaO1−xFxFeAs, no qual, para um valor de x = 0.07, a temperatura crítica (TC) alcançou 26 K. Esse fenômeno ocorreu em uma nova classe de supercondutores que combina ferro e arsênio, conhecidos como ferro-pnictídeos. A partir de então, novas variações e substâncias dessa classe foram rapidamente descobertas, como no caso da substituição do lantânio (La) por elementos de terras raras como praseodímio (Pr), neodímio (Nd) e samário (Sm), resultando em temperaturas críticas ainda mais altas, chegando a um valor recorde de TC = 56 K para o Sr0.5Sm0.5FeAsF.
Apesar de sua estrutura em camadas evidentes, os ferro-pnictídeos não apresentam anisotropia pronunciada em suas propriedades de transporte eletrônico, ao contrário dos cupratos. O principal componente estrutural desses materiais são camadas planas de átomos de ferro, cercadas por ânions de arsênio ou selênio organizados tetraédricamente, que desempenham um papel análogo aos planos de CuO nos cupratos. Essas camadas se organizam em uma sequência empilhada, separadas por camadas bloqueadoras compostas por álcalis, terras raras ou oxigênio, com o oxigênio sendo parcialmente substituído por flúor, que atua como dopante.
A descoberta da supercondutividade nos ferro-pnictídeos foi um evento inesperado, visto que se acreditava que a formação de pares de Cooper, que é a chave para a supercondutividade, e a ordenação magnética de longo alcance seriam incompatíveis. A semelhança com os cupratos é notável, mas os pares de Cooper nos ferro-pnictídeos não são gerados pela polarização da rede cristalina dos íons positivos, como ocorre no modelo BCS (Bardeen-Cooper-Schrieffer). Com mais de 30 anos de pesquisa, a física dos cupratos ainda carece de um mecanismo universalmente aceito que explique a supercondutividade, e a descoberta dos ferro-pnictídeos gerou esperanças de que um novo cenário fosse encontrado, com possíveis implicações para os cupratos.
A estrutura eletrônica dos ferro-pnictídeos é notavelmente rica e complexa. Como mostrado na estrutura de bandas simplificada, eles apresentam bandas de valência que se dividem em dois tipos: uma banda de buracos e uma banda de elétrons. Isso cria uma superfície de Fermi que é bem separada no espaço de momento, com regiões de buracos no centro da zona de Brillouin e regiões de elétrons nas bordas, com a separação bem distinta entre elas. Essas características fazem com que, mesmo com sua ordenação magnética, os ferro-pnictídeos sejam semimetais antiferromagnéticos e condutores elétricos. A supercondutividade só é alcançada através da substituição de elementos para adicionar elétrons ou buracos, ou por meio da aplicação de pressão.
O avanço na pesquisa sobre ferro-pnictídeos levou à descoberta de mais de 50 compostos até 2015, classificados em diferentes famílias, como 11, 111, 122, 1111, entre outras. O mecanismo de pareamento nesses materiais parece estar relacionado com o próprio meio eletrônico, que pode estar conectado com flutuações de spin ou de carga. Esse mecanismo é um dos aspectos mais intrigantes, pois desafia modelos anteriores baseados em interações fonônicas ou na interação dos elétrons com a rede cristalina.
Além disso, um dos aspectos mais promissores dos ferro-pnictídeos é a alta intensidade de seu campo magnético crítico superior (HC2), o que sugere uma grande aplicabilidade técnica, especialmente em áreas como a construção de novos dispositivos que possam operar em condições extremas de campo magnético. A comparação dos ferro-pnictídeos com outros grupos de supercondutores, como os cupratos ou MgB2, indica que eles têm o potencial de alcançar valores de HC2 muito superiores, o que pode ser útil para aplicações futuras.
Em relação à supercondutividade em interfaces e monocamadas, outro desenvolvimento importante ocorreu com o avanço da tecnologia de filmes finos e vácuo ultra-alto. Técnicas como epitaxia por feixe molecular (MBE), ablação a laser pulsado e sputtering, juntamente com microscopia de tunelamento de varredura (STM) e espectroscopia fotoemissiva de ângulo resolvido (ARPES), possibilitaram novas descobertas, incluindo a supercondutividade observada em interfaces. O exemplo clássico é o sistema LaAlO3/SrTiO3, onde a supercondutividade foi inicialmente observada em 2007. A explicação para esse fenômeno está no acoplamento entre os materiais isolantes, que criam um líquido eletrônico condutor na interface, onde a formação de pares de Cooper ocorre devido ao material não condutor vizinho.
O estudo da supercondutividade em monocamadas de FeSe, com temperaturas críticas superiores a 100 K, também ganhou destaque em 2015, quando cientistas chineses publicaram resultados que indicavam uma transição para a supercondutividade a 109 K. Esses estudos confirmaram que as monocamadas de FeSe, quando preparadas sobre substratos de SrTiO3, podem exibir uma supercondutividade significativamente mais alta do que as amostras em bulk, destacando a importância das dimensões reduzidas para esse fenômeno.
Esses avanços não só oferecem novas possibilidades para a aplicação de supercondutores de alta temperatura, mas também aprofundam nossa compreensão sobre os mecanismos fundamentais da supercondutividade, desafiando ideias previamente estabelecidas e abrindo caminho para inovações em materiais e tecnologias.
Como as Descobertas Científicas Transformam o Mundo das Ciências Naturais: A Influência das Últimas Inovações
Em um mundo em constante evolução, as descobertas científicas não apenas ampliam o entendimento humano, mas também abrem portas para inovações tecnológicas que, por sua vez, alteram a vida cotidiana e as bases das diversas indústrias. Cada grande descoberta gera uma série de mudanças, algumas com efeitos imediatos e outras com consequências mais sutis, mas todas com o poder de transformar o panorama da ciência.
Entre as descobertas mais recentes, a dos quasi-cristais por Daniel Shechtman, em 2011, revelou uma nova estrutura de sólidos, desafiando as ideias clássicas da física dos materiais. Os quasi-cristais possuem uma organização atômica que, embora pareça regular, não segue as simetrias típicas observadas em cristais tradicionais. Essa descoberta tem implicações profundas para o desenvolvimento de novos materiais e sistemas, incluindo o campo da nanotecnologia e a produção de ligas mais duráveis e eficientes.
Em 2014, os pesquisadores Eric Betzig, Stefan Hell e William Moerner deram um passo gigantesco no estudo de células e moléculas, ao desenvolverem a microscopia de fluorescência super-resolvida. Essa técnica revolucionária ultrapassou os limites da microscopia convencional, permitindo a visualização de detalhes minuciosos dentro de células vivas, algo antes impensável. A nova abordagem tem aplicações potenciais imensas em biologia molecular, medicina e ciências dos materiais, além de abrir um vasto campo de exploração para o estudo de processos biológicos em tempo real.
Outros marcos científicos importantes ocorreram com o trabalho de Jean-Pierre Sauvage, J. Fraser Stoddart e Bernard Feringa, em 2016, na criação de máquinas moleculares. Suas descobertas estão mudando o entendimento da química molecular e fornecendo os alicerces para o desenvolvimento de dispositivos mais rápidos, eficientes e com capacidade de "inteligência" molecular, antecipando uma nova era na computação e na medicina personalizada.
Em 2019, John B. Goodenough, M. Stanley Whittingham e Akira Yoshino revolucionaram a tecnologia de armazenamento de energia com o desenvolvimento das baterias de íon-lítio, cujo impacto é visível em todos os aspectos da sociedade moderna, desde os smartphones até os carros elétricos. O desenvolvimento das baterias de íon-lítio permitiu uma revolução no consumo de energia e na mobilidade elétrica, com impacto direto na sustentabilidade ambiental e no cotidiano das pessoas.
A mais recente inovação foi a descoberta dos pontos quânticos, em 2023, realizada por Moungi G. Bawendi, Louis E. Brus e Alexei I. Jekimow. Os pontos quânticos são nanocristais que possuem propriedades únicas devido ao seu comportamento quântico, o que os torna essenciais para o desenvolvimento de novos dispositivos ópticos, como telas de alta resolução e sensores extremamente sensíveis.
Essas descobertas não são apenas eventos pontuais, mas sim catalisadores de uma mudança contínua e exponencial no avanço da ciência e da tecnologia. Elas desafiam as fronteiras do conhecimento humano, levando-nos a questionar e expandir nossa compreensão sobre o universo em que vivemos. Além disso, a capacidade de integrar esses novos conhecimentos com outras áreas da ciência, como a biologia, a engenharia e a nanotecnologia, abre um horizonte vasto para a criação de soluções inovadoras para problemas complexos.
Compreender essas inovações vai além de entender a teoria por trás de cada descoberta. O verdadeiro impacto da ciência não reside apenas em suas ideias, mas na sua aplicação prática, que cria novas indústrias, oportunidades e mudanças no estilo de vida. O entendimento profundo das novas tecnologias é crucial, pois permite que as pessoas não apenas se adaptem às mudanças, mas também se tornem protagonistas na construção do futuro.
Para o leitor, é importante destacar que, para além da alegria e do deslumbramento diante das descobertas, há um processo contínuo de análise e questionamento que acompanha cada avanço. As implicações dessas inovações, desde a ética de seu uso até o impacto social e econômico, são parte de um debate fundamental que a ciência deve, sem dúvida, encarar. Além disso, cada descoberta oferece uma oportunidade de reinvenção, mostrando que o limite do possível é apenas uma questão de tempo, esforço e imaginação.
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