O manejo da agitação e de outras complicações em pacientes com trauma cranioencefálico (TCE) exige uma combinação de técnicas comportamentais, intervenções farmacológicas e vigilância contínua das condições do paciente. A abordagem correta pode ajudar a prevenir complicações mais graves e proporcionar um ambiente mais seguro tanto para os pacientes quanto para os profissionais de saúde.
No que diz respeito à agitação, uma das principais estratégias é adotar uma comunicação calma e lenta, explicando claramente os procedimentos ao paciente antes de iniciá-los. Isso ajuda a reduzir a ansiedade e facilita a colaboração do paciente. Além disso, é importante evitar aglomerações e abordagens repentinas, preferindo sempre se aproximar do paciente com cautela e nunca diretamente pela frente, o que pode ser visto como uma ameaça. O reforço positivo pode ser uma ferramenta eficaz para incentivar comportamentos adequados, enquanto o confronto direto deve ser evitado, já que acusações ou discussões podem exacerbar a situação. Caso o paciente apresente escalonamento de agitação, é recomendado aplicar a técnica do "timeout" no local (TOOTS), uma abordagem de contenção imediata que permite controlar a situação sem a necessidade de confrontação.
Em relação ao uso de medicamentos, deve-se iniciar com a revisão rigorosa das medicações já prescritas e descontinuar aquelas que podem agravar a agitação, como opioides, anticolinérgicos e sedativos, como os benzodiazepínicos. Quando necessário, o uso de fármacos deve ser gradual, começando com doses baixas para monitorar possíveis efeitos adversos, como sedação excessiva ou prejuízo cognitivo. O manejo da dor também é fundamental, pois a dor não tratada pode ser um fator que contribui para a agitação.
Entre os medicamentos utilizados no manejo agudo da agitação, destacam-se o Haloperidol (1-2 mg IM/IV a cada 6-8 horas, com um máximo de 10 mg/dia) e Lorazepam (2-4 mg IM/IV, com início de ação rápido em 1-3 minutos). Outras classes de medicamentos que podem ser eficazes incluem os betabloqueadores, como o propranolol, que tem demonstrado boa evidência no tratamento da agitação pós-TCE, especialmente no controle da intensidade da agitação e da inquietação. Medicamentos antiepilépticos, como o ácido valproico e a carbamazepina, também têm um papel estabilizador de humor, sendo essenciais em alguns casos.
A utilização de antipsicóticos, tanto típicos quanto atípicos, é comum no controle da agitação e das reações psicóticas associadas ao TCE. O Haloperidol pode ser utilizado a curto prazo, enquanto os antipsicóticos atípicos como Olanzapina e Quetiapina podem ser opções de tratamento mais seguras para uso prolongado, devido ao seu perfil de efeitos adversos mais favorável.
Outros medicamentos que podem ser considerados incluem estimulantes neurológicos como o Methylphenidate, que aumenta a atenção e a velocidade de processamento, e antidepressivos tricíclicos, como a Amitriptilina, que podem ser úteis no manejo de sintomas associados à agitação e fadiga. Medicamentos como o Zopiclone e Zolpidem, pertencentes à classe dos benzodiazepínicos atípicos, podem ser utilizados em doses cuidadosamente ajustadas, já que têm o potencial de prejudicar a memória e a atenção.
Um cuidado especial deve ser tomado ao administrar benzodiazepínicos, especialmente em pacientes que não têm histórico de uso crônico dessas substâncias, uma vez que seu uso pode resultar em efeitos adversos significativos, incluindo comprometimento cognitivo e dependência.
Outro aspecto fundamental no manejo pós-TCE são as complicações específicas, como a Hiperaatividade Simpática Paroxística (PSH), que ocorre devido a distúrbios no funcionamento autônomo. A PSH é caracterizada por episódios repentinos de atividade simpática, como taquicardia, hipertensão, febre, e espasticidade. Essa condição é mais comum em pacientes com TCE grave e pode ser tratada com medidas farmacológicas, incluindo o uso de morfina, propofol, benzodiazepínicos e clonidina, para abortar os episódios. Medicamentos como propranolol e baclofeno podem ser utilizados para prevenção. Caso não tratada adequadamente, a PSH pode levar a um aumento na mortalidade e complicações secundárias, como infecções ou diagnósticos inadequados.
As convulsões pós-traumáticas são outra complicação frequente em pacientes com TCE. Cerca de 5 a 7% dos pacientes hospitalizados com TCE apresentam crises convulsivas, sendo o risco de desenvolvimento maior no primeiro e no segundo ano após o trauma. O tratamento profilático com medicamentos antiepilépticos, como o Levetiracetam, é recomendado para pacientes com risco elevado, especialmente aqueles com TCE moderado a grave.
O hipopituitarismo pós-traumático (PHIH) é uma outra condição crítica a ser monitorada. Ele ocorre devido ao trauma no eixo hipotálamo-hipófise, podendo resultar em uma série de deficiências hormonais, como deficiência de hormônio de crescimento, hiperprolactinemia, deficiência de ADH, entre outras. O PHIH é mais prevalente no período agudo após o TCE e pode levar a complicações graves, como hipoglicemia e hiponatremia, se não for adequadamente diagnosticado e tratado.
No manejo do TCE, também se deve considerar o impacto cognitivo, uma vez que quase todos os sobreviventes apresentam algum grau de deficiência cognitiva. Testes neuropsicológicos são cruciais para avaliar as deficiências cognitivas e orientar estratégias de reabilitação. No entanto, é importante entender que esses testes têm limitações, como a incapacidade de medir a adaptação a estratégias de memória compensatórias ou a função cognitiva em ambientes reais.
Adicionalmente, o tratamento e o acompanhamento adequados dessas complicações podem melhorar a qualidade de vida dos pacientes, mas o processo de recuperação é frequentemente longo e desafiador. O envolvimento de uma equipe multidisciplinar e o apoio contínuo ao paciente são essenciais para uma recuperação eficaz e para o manejo das sequelas do TCE.
Como As Intervenções Respiratórias e de Reabilitação Influenciam o Tratamento em UTI
A respiração com lábios franzidos (purse-lip breathing) é uma técnica simples e eficaz para melhorar a ventilação em pacientes com dificuldades respiratórias. Ao gerar uma pequena quantidade de pressão positiva no final da expiração, ela ajuda a manter as vias aéreas pequenas (brônquios) abertas, prevenindo o colapso prematuro dessas estruturas. Isso alivia a sensação de falta de ar, reduz o trabalho respiratório e melhora a troca gasosa. Essa técnica é especialmente útil em pacientes com doenças respiratórias crônicas ou em estados agudos que exigem apoio ventilatório.
O dispositivo de Pressão Expiratória Positiva (PEP), que compartilha um mecanismo similar, aumenta a pressão nas vias aéreas, criando uma pressão de retaguarda durante a exalação. Essa ação funciona como um "stent", impedindo o fechamento precoce das vias aéreas e diminuindo a retenção de gases. Além disso, o treinamento muscular inspiratório (IMT), que visa melhorar a função dos músculos respiratórios, tem sido explorado para ajudar na ventilação. O fortalecimento do músculo diafragmático, particularmente, pode ser crucial para pacientes com fraqueza muscular induzida pela ventilação mecânica (ICUAW).
No que se refere à gestão das secreções, tradicionalmente, utiliza-se drenagem postural, percussão e vibração, geralmente em combinação, para facilitar a eliminação do muco. Técnicas alternativas, como drenagem autogênica ou a técnica de ciclo ativo de respiração, podem ser ensinadas aos pacientes para ajudá-los a expelir as secreções. Em casos de pacientes incapazes de realizar uma tosse eficaz devido à fraqueza, a tosse assistida manualmente ou o uso de dispositivos mecânicos de insuflação-exsuflação também são opções a serem consideradas.
A gestão da dor é uma preocupação constante nas UTIs, onde a dor é comum devido ao estado crítico dos pacientes. Embora o tratamento farmacológico seja o principal método, técnicas adjuvantes, como a mudança de posicionamento e o uso de modalidades físicas, podem ser eficazes. Além disso, estratégias cognitivas de controle da dor, como o apoio psicológico, devem ser incorporadas ao manejo, visto que a percepção da dor é intensificada pelo ambiente estressante da UTI.
Em relação ao delirium, embora o tratamento farmacológico seja a principal abordagem, a gestão não-farmacológica também é fundamental. A reorientação da realidade do paciente, estímulos cognitivos, remoção precoce de cateteres e imobilização física e a otimização dos inputs sensoriais, como o uso de óculos e aparelhos auditivos, são intervenções que podem ser implementadas para melhorar o estado geral do paciente. O gerenciamento adequado do sono, com a implementação de protocolos de higiene do sono, também pode ter impacto significativo, assim como a correção precoce da desidratação e a minimização de ruídos e estímulos desnecessários.
No contexto nutricional, o estado hipercatabólico dos pacientes críticos exige uma atenção especial. Durante os primeiros dias na UTI, a recomendação de nutrição hipocalórica (não superior a 70% do gasto energético basal) é importante, visando reduzir os danos ao corpo e a perda muscular. A introdução gradual de calorias, chegando a 80-100% do gasto energético, é essencial para a recuperação. No entanto, as proteínas devem ser introduzidas de forma progressiva, visando à restauração muscular e ao suporte das funções fisiológicas do corpo.
Quanto à deglutição, um desafio comum para pacientes intubados, a disfagia pós-extubação (PED) afeta uma porcentagem considerável dos pacientes. Este problema pode ser exacerbado por atrofia muscular orofaríngea, diminuição da sensibilidade laríngea ou lesões na laringe, além de fatores cognitivos e neurológicos. A avaliação da deglutição, incluindo exames instrumentais como a videofluoroscopia ou a avaliação endoscópica, é fundamental para identificar complicações. A modificação dietética, mudanças posturais e terapias diretas para o controle oromotor são intervenções que podem ser eficazes.
Em relação à comunicação, muitos pacientes intubados encontram-se conscientes e tentando se comunicar, mas sem capacidade para fazê-lo. Isso gera frustração e ansiedade, prejudicando a experiência do paciente na UTI. O uso de comunicação aumentativa e alternativa (CAA), como quadros de comunicação e dispositivos eletrônicos, pode aliviar essa barreira, permitindo uma interação mais eficaz. Para pacientes com traqueostomia, o uso de válvulas de fala ou técnicas de vocalização acima do cuff pode ser explorado para melhorar a comunicação.
A gestão do humor e do bem-estar psicológico também deve ser abordada nas UTIs. Além do uso de farmacoterapia, técnicas não-farmacológicas como relaxamento, manutenção de um ambiente tranquilo e a estimulação cognitiva podem ajudar a melhorar o estado psicológico dos pacientes. Os diários de UTI, onde tanto a equipe quanto as famílias registram os eventos do dia a dia, têm mostrado um potencial benefício na redução do estresse pós-traumático e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes após a alta.
Após a alta da UTI, a reabilitação pós-aguda é fundamental para avaliar as deficiências que persistem devido à doença ou aos efeitos da síndrome pós-UTI (PICS). A reabilitação deve envolver uma abordagem multifacetada, considerando os domínios psicológico, cognitivo e físico, e deve continuar no ambiente hospitalar, com intensificação conforme necessário. Isso é essencial para a recuperação completa do paciente, considerando que muitos dos sintomas podem persistir por anos, exigindo cuidados contínuos.

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