A igreja é uma comunidade de peregrinos, constantemente aberta a correções de curso e desvios, guiada pelas direções de Deus. Ela não se limita a respostas decoradas para perguntas de um teste religioso. O que se vê muitas vezes como um desfile desorganizado e imprevisível, onde todos correm com seus instrumentos tentando acompanhar, é, na verdade, a manifestação de uma caminhada guiada pelo Espírito Santo, conduzindo a igreja para novos rumos, distantes dos mapas religiosos tradicionais. Por isso, novos evangelhos sociais surgem, como uma forma de refletir esses novos direcionamentos.

No "Canterbury Tales", Chaucer observa como um grupo de peregrinos se torna, sem querer, uma comunidade acidental. Já na visão de Paulo, no Novo Testamento, a igreja é um organismo mais intencional. Ela é composta por aqueles chamados por Deus, uma espécie de colônia celestial aqui na Terra, a qual transmite as tradições cristãs — tanto seus sucessos quanto suas falhas — ao longo dos séculos. Ao longo da história, a igreja mantém uma cultura material elaborada, uma vida sacramental, um corpo rico de ensinamentos e o próprio evangelho. Através das gerações, ela continua a encarnar a encarnação de Cristo, traduzindo-a para os diferentes vernaculares culturais. A igreja não é apenas uma reunião de pessoas que se julgam importantes, mas uma comunidade chamada por Deus, cujo propósito é ser o corpo de Cristo na Terra.

É necessário refletir se cada indivíduo possui esse chamado, essa vocação religiosa. Dentro da igreja como instituição histórica, as vidas cristãs se formam à medida que as pessoas se deixam moldar pelo evangelho de Cristo. O cristão é contado por histórias, e a socialização na vida de Deus e no legado vivo do cristianismo exige uma instituição — uma verdadeira família viva de Deus. As instituições cuidam do bem comum, razão pela qual muitas vezes são desprezadas por libertários, que preferem uma liberdade sem restrições, comparando-a a um celeiro de gatos selvagens. Aqueles que se proclamam seguidores de Jesus, mas rejeitam a igreja, não compreendem seu papel fundamental. Boas instituições são essenciais para boas sociedades e para empreendimentos valiosos. Elas são o alicerce sobre o qual a religião se constrói e depende. A igreja, chamada por Deus, ocupa o mundo de maneira cultural, social e institucional.

Porém, a igreja, em momentos de grande transformação, se separa para criar seitas dissidentes, que se abrem para as novas mutações exigidas pelos tempos; outras vezes, ela gera místicos que nadam contra a corrente, buscando canalizar o fluxo do Espírito de maneira independente. Troeltsch, o sociólogo, sugeriu que a igreja assume três formas: a igreja institucionalizada, a seita separada e o misticismo individualista. Exemplos disso podem ser vistos entre católicos, anabatistas e livre-pensadores.

Em nossa era de hiperindividualismo, é difícil perceber e valorizar instituições, incluindo aquelas que desempenham funções sociais importantes, como o bom governo. "Instituições mediadoras", como as igrejas, são destacadas por sociólogos como uma barreira contra o poder esmagador do estado ou das forças econômicas, equilibrando o individualismo atomizado que se torna a única alternativa ao estado. Essas instituições fornecem oportunidades de comunidade e apoio à medida que as pessoas passam por suas vidas. As igrejas, como "estruturas de plausibilidade", oferecem um espaço onde significados, crenças e ações morais podem ser testados e vivenciados, cultivados por comunidades que os mantêm vivos ao longo do tempo.

Os indivíduos que rejeitam essas instituições, como muitos "não-afiliados" ou adeptos do "espiritual, mas não religioso", frequentemente não percebem que estão usufruindo de um capital emprestado, que as tradições que os sustentam foram carregadas por aqueles que, com compromisso, ocuparam as instituições. Uma devota mãe, por exemplo, poderia facilmente explicar que muitos dos valores que seus genros apreciam em suas filhas são frutos de uma educação cristã fervorosa, e que seus casamentos estão sendo sustentados por um capital social emprestado.

A igreja, como qualquer boa instituição, deve ser o oposto do "eu desacompanhado", ou no caso dos libertários, o "eu despojado". Indivíduos conscientes do mundo e interconectados veem a necessidade de novos evangelhos sociais, focados no bem-estar coletivo, que são urgentemente necessários neste momento histórico.

Porém, as teologias da Bíblia Hebraica e do Novo Testamento não se limitam a justificar as comunidades religiosas apenas como instituições mediadoras socialmente necessárias. O povo de Israel foi chamado por Deus para ser uma comunidade do pacto, para oferecer louvor, autenticar o pacto e ser uma luz para o mundo. Jesus, no Novo Testamento, chama deliberadamente seus discípulos a serem um grupo, uma comunidade, e Paulo particularmente imagina a igreja como um corpo de Cristo, representando e encarnando a presença de Deus no mundo. A primeira carta de Pedro vê a igreja como a casa de Deus, onde estrangeiros e residentes podem vivenciar uma nova vida. A comunidade de Israel e a igreja são construtos teológicos indispensáveis, e a Bíblia emerge como o testemunho dessas comunidades vivas.

Uma história ilustra a igreja como uma instituição viva. Durante a ocupação nazista na França, na Segunda Guerra Mundial, a pequena vila protestante de Le Chambon, no sul do país, se recusou a colaborar com as ordens para entregar os judeus. Esta pequena comunidade de cristãos protestantes havia aprendido ao longo dos séculos a resistir, tornando-se uma expressão fiel do evangelho em sua vida diária. Quando o estado exigiu conformidade, eles simplesmente disseram não, como parte de sua história de resistência. Essa história de resistência foi algo natural para eles, pois fazia parte de sua identidade religiosa, uma prática que ressoava com o evangelho.

Esse tipo de autocompreensão e firmeza será necessário para que as igrejas americanas (e outras ao redor do mundo) proclamem e promovam um novo evangelho social, em uma sociedade e governo que frequentemente ignoram o bem comum.

Como o Capitalismo de Mercado Livre e a Visão Cristã de Justiça Social Podem Convergir em Tempos Conturbados?

O capitalismo de mercado livre, como força propulsora das economias modernas, raramente é questionado em seus aspectos mais fundamentais, especialmente após a queda do império soviético em 1989. Para muitos, aquele evento marcou não apenas o fim do socialismo como sistema econômico estatal, mas também a morte de qualquer crítica marxista à vida econômica. A ideia de que o capitalismo seria o fim da história tornou-se amplamente aceita, um ponto de satisfação para os defensores do livre mercado que viam, nessa vitória, a derrota de qualquer outra visão alternativa. No entanto, enquanto essa narrativa triunfante crescia, havia quem permanecesse atento aos efeitos do capitalismo desenfreado na vida dos indivíduos e das comunidades, principalmente sob a ótica cristã.

Movimentos como o Sojourners, originado do neo-evangelicalismo e do neo-anabatismo americano, foram uma das vozes mais vigorosas a desafiar a ideia de que o capitalismo de mercado livre fosse uma força moralmente neutra ou até benéfica. Este movimento, com seu forte compromisso com a justiça social, nos lembra que o evangelho social não pode ser reduzido a uma simples teologia individualista de salvação pessoal, nem deve se render a um sistema econômico que promove a desigualdade e a exploração. Para os cristãos mais radicais, a análise do capitalismo deve ser constante, não apenas em sermões, mas também em estudos de formação de fé que desafiem as estruturas de poder vigentes e busquem soluções para os problemas sociais e econômicos mais urgentes.

A tradição católica também tem sido uma fonte importante de crítica ao capitalismo. Desde a encíclica Rerum Novarum de 1891, o papado tem alertado sobre as condições de vida da classe trabalhadora e a crescente disparidade entre os ricos e os pobres. O Papa Francisco, por exemplo, tem sido particularmente enfático em seu discurso, ressaltando a necessidade de uma Igreja voltada para os pobres e desprivilegiados, com o cheiro das ovelhas, como ele próprio diz. Essa crítica é bem mais profunda do que simplesmente pedir a redistribuição de riquezas. Ela aponta para uma mudança radical na maneira como entendemos a economia, os direitos dos trabalhadores e o papel do Estado. As palavras do Papa Francisco podem ser vistas como um eco moderno de uma longa tradição de doutrina social católica que se opõe a um capitalismo selvagem que explora os mais vulneráveis.

Além disso, o capitalismo contemporâneo tem suas raízes em uma revolução ideológica que tomou forma de maneira mais acentuada durante a presidência de Ronald Reagan. A ascensão do neoliberalismo e a desregulamentação da economia, juntamente com a redução de impostos para os mais ricos, trouxeram consigo uma concentração de riqueza sem precedentes. Em um estudo emblemático, O Capital no Século XXI de Thomas Piketty, vemos a crescente concentração de renda nas mãos de uma pequena elite econômica, revertendo os ganhos sociais que haviam sido conquistados nas décadas anteriores. O que era antes uma sociedade voltada para o bem-estar coletivo passou a ser dominada por um capitalismo patrimonial, onde a riqueza é herdada e perpetuada de geração em geração, criando uma aristocracia financeira que desafia qualquer ideia de mérito ou esforço individual.

A relação entre o governo e o mercado, como sugerido por Eisenhower, Franklin Roosevelt e Thomas Jefferson, tornou-se um debate cada vez mais distante da realidade. A corrupção dos valores democráticos, com a ascensão de um capitalismo global cada vez mais forte, ameaça destruir as bases de uma sociedade justa. As críticas que surgem em resposta ao capitalismo corporativo não se limitam às questões de desigualdade social, mas abrangem também a alienação econômica, a exploração do meio ambiente e a subordinação das leis sociais aos interesses dos grandes empresários e dos governos que os protegem.

Em tempos de crise, é necessário que a Igreja, como um dos maiores pilares da moralidade pública, se posicione com mais clareza sobre a desconstrução do neoliberalismo, questionando não apenas suas consequências para os mais pobres, mas também a maneira como ele desfigura os princípios cristãos de solidariedade, justiça e caridade. A emergência de um novo evangelho social, que promova uma maior equidade econômica, não pode ser adiada por mais tempo. Mas para que isso aconteça, a sociedade, e especialmente os cristãos, precisarão reconhecer o capitalismo como o que ele realmente é: um sistema econômico que perpetua desigualdades estruturais e um modelo que se opõe aos princípios do Reino de Deus.

Por fim, um novo evangelho social só será possível se houver uma transformação radical nas mentalidades e nas práticas religiosas. As igrejas precisarão encarar a realidade da desigualdade econômica e se envolver ativamente na formação de uma sociedade mais justa. Caso contrário, a distância entre o ideal cristão de fraternidade e a dura realidade do capitalismo selvagem será cada vez maior. A relação entre o mercado e a fé cristã precisa ser repensada, buscando soluções práticas que, ao invés de perpetuar um sistema injusto, construam pontes para uma economia mais humana e solidária.

Como a Esperança Utopista Desafia o Secularismo e a Austeridade Religiosa na Sociedade Contemporânea

Quando os conservadores vinculam a utopia apenas a um paraíso distante, eles mantêm este mundo seguro de ser contaminado pelo liberalismo divino. Isso deve ser chamado de falha da imaginação religiosa. No fim, a esperança busca o dia em que o céu cruza o limiar da Terra, como os cristãos acreditam que aconteceu naquilo que o Novo Testamento proclama como a encarnação de Deus em Jesus Cristo. Mas, se o céu é a mãe de todas as metáforas, devemos atender à capacidade da linguagem contemporânea para manter isso em nosso horizonte. A esperança utópica faz essa conexão, e morremos pela falta dela. Devemos resistir a todos aqueles que querem nos libertar da religião, da poesia, das palavras de mistério e transcendência — e resistir aos fundamentalistas que querem nos salvar através do literalismo. Contra aqueles que querem nos libertar pela razão, vamos com os poetas em busca das palavras perdidas.

O que ganhamos ao negar a existência de histórias maiores? Como somos melhores por falharmos em escrever um Deus libertador no contrato social? Postergando indefinidamente a chegada de Deus, protegendo o DNA capitalista de mutações divinas, amarrando Deus a pequenas ambições e preconceitos familiares — todas essas estratégias desperdiçam as libertações que o Deus da Bíblia oferece. Revelações que poderiam ser arrebatadoras são reduzidas a um caminho confortável à frente. Mas nada de bom vem de arrancar o projeto humano de seu rico terreno imaginal. Apenas nos desconectamos da vida do espírito e nos alienamos dos nossos mais profundos anseios. Quando tanto do mundo sofre, não é hora para o iconoclasmo que proíbe a imagem de Deus no meio do projeto humano. Acreditar é ver. Não é o utopismo uma tentativa frustrada de imitar um Deus liberal em uma terra não liberal? No início da recepção da Eucaristia, alguns celebrantes dizem: “Eis o que você é; Torne-se o que você recebe.”

A secularização, frequentemente entendida como um produto da razão iluminista, assume uma forma de autoparabenização entre os secularistas. Eles acreditam profundamente que a vitória sobre a religião é uma das “conquistas seguras” do racionalismo iluminista, da ciência e da modernidade. Como os fundamentalistas religiosos em outros contextos, eles trazem uma confiança acrítica ao espaço público e exigem direitos exclusivos. O discurso religioso, estão certos, deve permanecer em casa ou ser confinado às igrejas, ou, melhor ainda, ser aposentado. Para forçar seu ponto de vista, afirmam com confiança que a cláusula de estabelecimento da Primeira Emenda exige a exclusão da religião de quase todo o espaço público, e as decisões da Suprema Corte do meio do século XX frequentemente concordaram com isso. No entanto, a Corte começou a adotar uma tendência em que a cláusula de liberdade religiosa e, melhor ainda, o direito à liberdade de expressão, passaram a ser vistos como mantendo os direitos da religião ao lado de todas as outras comunidades discursivas.

A decisão de junho de 2019, que permitiu que uma grande cruz, comemorando os veteranos, permanecesse em propriedade pública, pareceu uma confirmação antecipada dessa esperança. Entre as declarações de apoio mais notáveis, destacam-se as seguintes: "As Cláusulas de Religião da Constituição visam fomentar uma sociedade na qual pessoas de todas as crenças possam viver juntas harmoniosamente, e a presença da Cruz de Bladensburg na terra onde esteve por tantos anos está plenamente em conformidade com esse objetivo." Talvez mais importante ainda: "Um governo que percorre a terra, destruindo monumentos com simbolismo religioso e apagando qualquer referência à vontade divina, parecerá agressivamente hostil à religião."

Aqui, faço um apelo para uma presença cristã vigorosa no espaço público. Não me refiro à tomada do espaço público, como em uma teocracia militante, ou ao cristianismo como a religião estabelecida, mas a uma presença cristã sem vergonha, com algo significativo a oferecer e a ser, na vida da sociedade. Defendo o direito do cristianismo (e da religião) de estar presente no espaço comum, de reconquistar o espaço público. No capítulo 6, já argumentei que pessoas religiosas ou espirituais devem contestar a suposição de que o racionalismo iluminista é o único estilo de discurso, a única comunidade discursiva, permitida no espaço comum.

Uma maneira de refletir sobre os direitos da religião é considerar o conceito de paisagem sonora. Há um estudo provocador sobre o papel que os sinos das igrejas desempenharam na imaginação sonora da França. Durante grande parte da história francesa, os sinos marcaram tanto o tempo religioso quanto o secular, chamando os cidadãos à oração ou à assembleia cívica. Mas a Revolução Francesa veio a entender que controlar os sinos era controlar a ordem simbólica, as lealdades da vida. Municipalizando os sinos da igreja, os revolucionários acreditavam que poderiam subordinar os sinos ao novo interesse nacional, secularizá-los. Assim, fundiram cem mil sinos, com a intenção de desencantar a paisagem, libertar a vida cívica da predominância religiosa no som, subverter antigos agentes do sagrado. A cultura histórica dos sinos nas vilas misturava o sagrado e o profano. As aldeias se orgulhavam de ser uma "cidade dos sinos". Fundições de sinos eram grandes ocasiões, com conselhos de especialistas, bebedeiras e, finalmente, o batismo dos sinos, com o prefeito e o padre competindo pelo controle dos ritmos biológicos da cidade. Mas, após a Revolução, os prefeitos insistiram que os sinos pertenciam à cidade em todos os Dias da Bastilha — e talvez todos os dias. Em ocasiões de dissidência religiosa, os clérigos insolentes poderiam tocar seus sinos à vontade, talvez tocando um sino de funeral em um momento inoportuno. À medida que a França se secularizava, os sinos ainda podiam ser chamados a emitir uma voz religiosa, a soar um quadro vertical ou transcendente em meio a um quadro horizontal ou imanente.

Na sociedade contemporânea, as cidades, em alguns casos, passam ordenanças urbanas que consideram os sinos como uma interferência no sono ou no direito ao silêncio, uma tortura religiosa da qual é exigido alívio secular. O espaço sonoro também é contestado. O secularismo, como a visão de mundo moderna de ciência, elites status, educação superior e um número significativo de americanos e europeus, refere-se ao declínio ou eliminação da hipótese de Deus como uma forma convincente de entender as origens e o destino humanos. É uma ideologia que insiste que a fé e a religião não têm lugar na formação da conversa pública e na formulação de políticas públicas. Muitos veem o mundo pós-cristão como um legado significativo do Iluminismo, e há importantes teorias sobre como isso andou de mãos dadas com o modernismo. Isso significou o gradual afastamento de mais e mais dimensões da vida humana sob o guarda-chuva interpretativo dos símbolos religiosos. Para alguns, o secularismo é o melhor antídoto para a religião problemática; mas para outros, inclusive eu, a boa religião pode ser uma cura melhor para os males que nos afligem.

Como a Religião Pode Ser um Movimento Social Libertador

A verdadeira missão da religião não é a criação de partidos políticos, como muitas vezes tem sido o caso na Europa, nem a instauração de teocracias cristãs, como algumas correntes fundamentalistas e bispos católicos tentam sugerir. A imitação de Deus, que este livro busca aprofundar, se manifesta na forma de movimentos religiosos, morais e políticos altamente energizados. Esses movimentos podem se associar ao governo, ou até mesmo estender suas ações de forma independente, sem a necessidade de uma estrutura política fixa como um partido cristão ou uma forma de sharia cristã.

Movimentos como o Sierra Club, MoveOn, Common Cause, ACLU, o Southern Poverty Law Center, e, no cenário internacional, organizações como Amnesty International, Human Rights Watch e Oxfam, são exemplos de como a moralidade pode ser central em campanhas políticas. Estas organizações têm a capacidade de mobilizar a população, pressionar a opinião pública e fazer lobby junto aos governos, especialmente em defesa dos mais vulneráveis. Eles são um modelo promissor para uma religião progressista, que não abre mão de influenciar as políticas públicas, especialmente as que envolvem a estrutura social e a regulamentação econômica, sempre voltadas para os pobres, os presos e os excluídos.

O movimento religioso progressista não se resume à caridade, mas busca a justiça social para aqueles que sofrem com a fome e a opressão. Um exemplo disso é a organização Bread for the World, que luta por justiça social, mais do que pela simples doação de alimentos aos necessitados. Organizações como World Vision e o Heifer Project também atuam nesse campo, promovendo iniciativas de alívio humanitário com um toque mais significativo, em nome de um bem maior.

No entanto, a religião progressista ainda tem muito a fazer para ampliar sua força organizacional e moral. Não é suficiente se afastar do jogo político tradicional ou evitar a influência do movimento cristão conservador. O desafio é construir movimentos religiosos melhores, mais convincentes intelectualmente, moralmente imaginativos e teologicamente fundamentados. Esses movimentos não devem se contentar em ser meros observadores, mas devem ser protagonistas na luta pela transformação social.

O movimento religioso não precisa ser sinônimo de teocracia. Os neo-anabatistas, por exemplo, herdeiros dos movimentos de "igreja livre", oferecem uma alternativa que não alimenta os temores de uma teocracia. Sua visão é a de uma igreja como uma "colônia do céu", sem pretensões políticas, mas com um forte impacto social. Para eles, o papel da igreja é ser a igreja, e sua missão é ser uma presença subversiva nas estruturas estabelecidas do mundo. Isso reflete uma epistemologia e uma estratégia social que se contrapõem às configurações dominantes, buscando influenciar a sociedade sem a necessidade de um partido político ou governo.

A fé performativa, que é o movimento social, litúrgico e sacramental, não apenas antecipa a chegada de Deus, mas a vivencia em cada passo. A história de um cristianismo que foi uma poderosa força social é relembrada de tempos em tempos, especialmente em contextos como o do Hemisfério Sul, particularmente na África Subsaariana. Movimentos de transformação social, como os movimentos pelos direitos civis, os direitos das mulheres, dos negros e das minorias LGBTQ+, e mais recentemente os movimentos Black Lives Matter e #MeToo, demonstram como movimentos sociais com base espiritual têm o poder de transformar o mundo.

A ideia de "mover montanhas" não é apenas uma metáfora; ela reflete a real capacidade de mudança social que esses movimentos possuem, unindo pessoas de boa vontade em torno de causas maiores que a simples política do dia a dia. Movimentos de fé, ao lado de outros aliados, criam a dinâmica que impulsiona a mudança.

A relação entre religião e movimento social também se manifesta nas liturgias. A palavra "liturgia" remete a um movimento ritual, que, por sua vez, é uma forma de resistência cultural e social. As grandes manifestações, como as marchas e protestos contra a guerra, ou as passeatas feministas, por exemplo, podem ser vistas como movimentos litúrgicos – uma performance de fé em forma de ação social. O movimento ritual cria mitos novos, mas é preciso entender que ele não é apenas uma manifestação simbólica: ele dá corpo a uma visão do mundo que vai além da mera religiosidade.

A lição mais importante que esses movimentos nos oferecem é que não há transformação verdadeira sem movimento. A religião, para ser viva e relevante, precisa sair do espaço privado e se tornar uma presença ativa na esfera pública. Só assim será capaz de se transformar em uma força de mudança genuína. O movimento, seja religioso ou secular, deve buscar transformar a crença em ação e, ao fazer isso, criar novas formas de vivenciar a fé no contexto social.