A quimioterapia, embora eficaz no tratamento de vários tipos de câncer, está frequentemente associada a efeitos colaterais complexos que impactam significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Entre esses efeitos, a neuropatia periférica induzida pela quimioterapia (CIPN), a disfunção cognitiva relacionada ao câncer e o linfedema são algumas das condições mais prevalentes e desafiadoras. Esses efeitos podem causar desconforto físico e emocional, exigindo uma abordagem holística no tratamento e acompanhamento do paciente.

A neuropatia periférica induzida por quimioterapia é um dos efeitos colaterais mais comuns de medicamentos como taxanos e oxaliplatina. Embora essa neuropatia seja, em grande parte, reversível, ela pode manifestar-se em formas agudas e crônicas, prejudicando a função sensorial e motora do paciente. Os taxanos, como paclitaxel e docetaxel, podem provocar danos nos nervos periféricos, resultando em dor, formigamento e perda de força. Os alcaloides da vinca, como vincristina e vinblastina, embora geralmente afetem mais a motricidade, também podem levar à neuropatia sensorial. A gestão da CIPN exige uma avaliação cuidadosa, que inclui testes neurofisiológicos, exames clínicos detalhados e o uso de sistemas de classificação para monitorar a gravidade dos sintomas.

O tratamento farmacológico da CIPN é variado. Inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina, como a duloxetina, têm mostrado resultados promissores no alívio da dor associada à neuropatia, embora sua utilização deva ser cuidadosamente monitorada, especialmente em pacientes que estão fazendo uso de tamoxifeno. Além disso, medicamentos como antidepressivos tricíclicos e anticonvulsivantes, como a gabapentina, também são usados, com o objetivo de aliviar os sintomas. Terapias de estimulação nervosa e acupuntura têm sido exploradas, mas não há consenso quanto à sua eficácia. Em casos graves, o gerenciamento dos déficits funcionais pode envolver estratégias adaptativas, como dispositivos de auxílio e estratégias de reabilitação.

Outro efeito colateral substancial da quimioterapia é a disfunção cognitiva associada ao câncer (CCS), que afeta a capacidade de concentração, memória e funções executivas dos pacientes. Esse distúrbio é comum tanto em pacientes com tumores cerebrais quanto em sobreviventes de câncer sem envolvimento cerebral direto. A patogênese da CCS ainda não é completamente compreendida, mas acredita-se que seja multifatorial, com efeitos diretos e indiretos sobre o sistema nervoso central devido tanto ao câncer quanto ao tratamento neurotóxico. A neuroimagem funcional tem mostrado alterações na atividade cerebral em sobreviventes com queixas cognitivas, reforçando a complexidade desse fenômeno.

Entre os fatores de risco mais relevantes para a CCS estão o tipo e a intensidade do tratamento, como a quimioterapia de alta dose e a radioterapia, além de comorbidades como doenças psiquiátricas ou uso de substâncias. O tratamento para a disfunção cognitiva envolve a identificação e o controle de fatores reversíveis, como estresse emocional, distúrbios do sono e fadiga, que podem piorar os sintomas. Estratégias compensatórias, como lembretes e uso de calendários, são essenciais para ajudar os pacientes a lidar com as dificuldades diárias. A reabilitação cognitiva, terapias ocupacional e de fala, além da psicoterapia cognitivo-comportamental, têm demonstrado eficácia no manejo dessas queixas.

Por fim, o linfedema é uma condição frequentemente subestimada, mas que pode resultar em danos significativos à função e qualidade de vida do paciente com câncer. Esse distúrbio ocorre quando o fluido linfático se acumula nos tecidos moles devido à obstrução do sistema linfático, frequentemente causada por cirurgia de linfonodos, invasão tumoral ou fibrose pós-radioterapia. Fatores como índice de massa corporal elevado, sedentarismo e procedimentos cirúrgicos extensivos estão fortemente associados ao desenvolvimento do linfedema. Embora muitos pacientes apresentem sintomas em estágios iniciais, a progressão do linfedema pode levar a complicações graves, como celulite, devido ao acúmulo de fluido linfático que favorece infecções.

A gestão do linfedema envolve uma avaliação criteriosa, que inclui a classificação do estágio da condição, desde o estágio 0 (subclínico, sem inchaço visível) até o estágio III, onde alterações estruturais mais profundas são observadas. O tratamento precoce e as estratégias preventivas, como o uso de calçados não constritivos e a inspeção diária dos pés, são essenciais para minimizar o risco de complicações. A reabilitação, incluindo o uso de dispositivos de assistência e estratégias para a redução do peso corporal, pode melhorar significativamente a função e a qualidade de vida dos pacientes com linfedema.

É crucial que os profissionais de saúde adotem uma abordagem integrada para o manejo dessas condições, visando não apenas o controle dos sintomas, mas também a promoção da autonomia e qualidade de vida do paciente. O reconhecimento precoce, a avaliação contínua e a implementação de tratamentos personalizados são fundamentais para mitigar os efeitos adversos da quimioterapia e garantir que os pacientes possam continuar sua jornada de recuperação com o maior conforto possível.

Como a Tensão Neural pode Impactar a Dor Cervical e Radicular: Abordagens e Estratégias Terapêuticas

A dor cervical e as dores radiculares frequentemente estão associadas à tensão neural, que pode ser observada em diversos nervos periféricos, como o nervo mediano, radial e ulnar. A mobilização desses nervos, por meio de exercícios específicos, é uma ferramenta fundamental para o manejo da dor e para a recuperação funcional do paciente. A tensão neural pode ser avaliada e modificada utilizando manobras específicas de alongamento, que, ao mesmo tempo, avaliam e tratam a irritação nervosa. Essas técnicas têm por objetivo restabelecer o movimento normal do nervo, aliviando a dor e melhorando a funcionalidade do paciente.

A avaliação clínica, por meio de testes de tensão neural, é uma parte essencial do diagnóstico. A tensão do nervo mediano pode ser testada com a abdução do ombro ipsilateral em cerca de 30 graus, com rotação interna do braço, pronação do antebraço, flexão do punho e dos dedos, e extensão do cotovelo com flexão contralateral do pescoço. Já o teste de tensão neural do nervo radial envolve a abdução do ombro ipsilateral a cerca de 30 graus, com rotação interna do braço, pronação do antebraço, flexão dos dedos e do punho, e extensão do cotovelo com flexão contralateral do pescoço. Para o nervo ulnar, a abdução do ombro ipsilateral é feita a 90 graus, com rotação externa do braço e supinação do antebraço, juntamente com a extensão dos dedos e do punho e a flexão do cotovelo com flexão contralateral do pescoço. Essas manobras visam a elongação dos nervos e o diagnóstico de possíveis compressões.

Além disso, algumas situações podem aumentar ou aliviar a tensão nos nervos cervicais, o que agrava ou alivia os sintomas radiculares. O teste de Spurling, por exemplo, envolve a flexão e extensão passiva do pescoço com compressão axial suave, visando reproduzir os sintomas radiculares. A manobra de Valsalva, por sua vez, aumenta a pressão intra-espinal ao realizar uma expiração forçada contra resistência, o que pode agravar os sintomas. Por outro lado, o teste de tração do pescoço pode aliviar a tensão, ao abrir os forames vertebrais, e o teste de abdução do ombro pode proporcionar alívio imediato da dor radicular.

A síndrome do "double crush" ocorre quando há compressões periféricas do nervo em dois locais diferentes ao longo de seu trajeto. Uma compressão pode predispor a outra, diminuindo o limiar de sintomatologia e aumentando a intensidade das dores. Um exemplo comum de síndrome do double crush é a combinação de radiculopatia cervical com síndrome do túnel do carpo, em que o paciente se queixa de dor e formigamento no braço e na palma da mão. Esse diagnóstico pode ser confirmado com exames de imagem e estudos eletrofisiológicos, como a eletroneuromiografia.

Outro fenômeno frequentemente associado à dor cervical é a cefaleia cervicogênica, que é uma dor de cabeça crônica originada pela disfunção das articulações cervicais superiores. A dor geralmente é unilateral, com irradiação para a testa ou ombro. A cefaleia cervicogênica pode ser aliviada com tratamento dirigido para a disfunção cervical subjacente. Além disso, a dor cervical também pode levar a tonturas, já que os receptores proprioceptivos encontrados nos tecidos moles cervicais estão intimamente relacionados com os centros visuais e vestibulares. A disfunção cervical pode desregular esse equilíbrio proprioceptivo, causando sensações de desequilíbrio e vertigem.

A dor nas costas e no pescoço nem sempre está relacionada a compressões anatômicas dos nervos. Muitas vezes, a dor é causada por irritação ou inflamação dos nervos, e os músculos desempenham um papel crucial nas queixas neurológicas. A reabilitação tem como objetivo reduzir a intensidade e a frequência da dor, promovendo a autogestão e a melhoria da funcionalidade diária. O repouso absoluto deve ser evitado, pois pode levar à descondição física. O repouso relativo, com a retomada gradual das atividades funcionais, é mais indicado. Exercícios terapêuticos, como os exercícios de mobilização neural, são eficazes para restaurar o movimento adequado dos nervos, e a reabilitação física visa melhorar a força muscular e a resistência, com ênfase na mobilização e alongamento dos nervos.

O tratamento conservador é geralmente eficaz na maioria dos casos de dor cervical e lombar. Embora modalidades físicas como tração, calor e terapia elétrica possam ajudar, seu efeito costuma ser temporário. O uso de coletes e cintos ortopédicos pode ser benéfico no curto prazo, mas seu uso prolongado pode levar à descondição. O objetivo final da reabilitação não é curar a dor, mas sim reduzir sua intensidade e melhorar a qualidade de vida do paciente.

Os analgésicos, como paracetamol, anti-inflamatórios não esteroidais e analgésicos opiáceos sintéticos, são usados para controlar a dor, mas a abordagem multidisciplinar é sempre mais eficaz. Os medicamentos adjuvantes, como anticonvulsivantes (gabapentina, pregabalina) e antidepressivos (amitriptilina, nortriptilina), ajudam a modular a sensibilização central, proporcionando um alívio adicional.

Em casos de dor radicular, técnicas como a modificação dos testes de tensão neural podem ser usadas para glisar e mobilizar o nervo afetado ao longo de seu trajeto. A combinação de flexões e extensões cervical e membros inferiores é uma forma eficaz de promover o alívio da tensão nervosa e auxiliar na recuperação funcional.

Reabilitação Pós-UCI e Disfagia: Abordagens e Estratégias de Tratamento

A reabilitação pós-UCI (Unidade de Cuidados Intensivos) tem ganhado crescente atenção no campo da medicina, especialmente considerando as consequências a longo prazo para os pacientes que sobrevivem à ventilação mecânica. Estes pacientes enfrentam uma série de desafios físicos e psicológicos, que vão desde fraqueza muscular até dificuldades cognitivas. A reabilitação deve ir além do tratamento imediato das condições agudas e se concentrar na recuperação global, incluindo a reintegração do paciente na comunidade e a gestão da saúde a longo prazo. Embora existam várias modalidades de reabilitação, como programas de exercícios dirigidos pelos próprios pacientes, sessões terapêuticas domiciliares, consultas em clínicas externas e telereabilitação, o foco deve ser sempre a adaptação das estratégias às necessidades individuais dos sobreviventes da UCI.

Em alguns centros, clínicas especializadas pós-UCI têm sido implementadas, com equipes multidisciplinares que buscam detectar e tratar as limitações adquiridas durante a internação intensiva. A importância dessas clínicas vai além do cuidado físico, uma vez que elas também atuam na identificação precoce de transtornos psicossociais, como a Síndrome Pós-UCI (PICS, na sigla em inglês), que afeta muitos pacientes após a alta. A conscientização sobre a PICS deve levar a uma abordagem mais integrada, colocando a sobrevivência à UCI no mesmo plano que outros programas de sobrevida, com foco na saúde a longo prazo e na transição para a vida na comunidade.

Porém, em meio à reabilitação física, outros desafios significativos podem surgir, como as dificuldades relacionadas à deglutição, uma condição frequentemente observada em pacientes pós-UTI. A disfagia, ou distúrbio de deglutição, é um problema que pode afetar uma das três fases do processo de engolir: oral, faríngea e esofágica. Alterações nessas fases podem resultar em sérios riscos, como a aspiração de alimentos ou líquidos para as vias aéreas, levando a complicações respiratórias e infecções pulmonares.

A disfagia é frequentemente observada em pacientes com condições neurológicas, como AVC, traumatismo craniano, Doença de Parkinson, doenças neurodegenerativas e demência. Além disso, pode ocorrer como uma complicação de cirurgias na região da cabeça e pescoço ou devido ao uso de radioterapia. A dificuldade de deglutir não é apenas um problema físico, mas também um desafio cognitivo, uma vez que a perda de atenção visual, funções executivas diminuídas e até questões comportamentais podem agravar o quadro.

O diagnóstico da disfagia começa com a avaliação médica detalhada e a triagem feita pelo terapeuta da fala, que inclui uma avaliação clínica da musculatura de deglutição e observação das tentativas de deglutição. Quando necessário, métodos de avaliação por imagem, como a Videofluoroscopia (VFS) ou o Estudo de Deglutição com Bário Modificado (MBSS), podem ser utilizados para fornecer uma visão abrangente das fases oral e faríngea da deglutição. Outro exame relevante é a avaliação endoscópica flexível da deglutição (FEES), que oferece uma visão direta da laringe, sendo especialmente útil em pacientes que não conseguem ser posicionados adequadamente para a videofluoroscopia.

A abordagem terapêutica para a disfagia envolve uma combinação de estratégias compensatórias, exercícios específicos e modificações dietéticas. Mudanças na consistência dos alimentos e líquidos, bem como o uso de utensílios adaptados, são medidas iniciais importantes. Pacientes que não conseguem ingerir alimentos por via oral podem precisar de alimentação enteral por meio de tubo nasogástrico (TNG) ou gastrostomia por via percutânea (PEG). Essa última opção é frequentemente preferida a longo prazo, pois proporciona mais conforto e menores impactos estéticos.

Entre as estratégias de compensação, destaca-se a manobra de Mendelsohn, que visa melhorar a elevação da laringe durante a deglutição, e a deglutição supraglótica, que foca na proteção das vias aéreas. Além disso, exercícios como o deglutir com grande esforço ou as manobras térmicas e táteis no orofaringe têm mostrado benefícios na recuperação do reflexo de deglutição e na proteção das vias respiratórias. O uso de dispositivos de biofeedback, como o electromiograma de superfície (sEMG), ou o treinamento de força da língua com o dispositivo Iowa Oral Performance Instrument (IOPI), também podem ser integrados ao plano de reabilitação.

É fundamental que, além das abordagens técnicas, o acompanhamento psicológico seja incorporado ao processo de recuperação. Muitos pacientes, especialmente aqueles que passaram por longas internações e ventilação mecânica, podem enfrentar um período de adaptação mental e emocional para lidar com as limitações físicas e as mudanças na sua rotina diária. A intervenção precoce na detecção de dificuldades cognitivas e comportamentais pode ser crucial para uma recuperação bem-sucedida, prevenindo complicações a longo prazo.

Compreender que a reabilitação pós-ICU e a gestão de distúrbios como a disfagia são processos longos e exigem uma abordagem multifacetada é fundamental. A colaboração entre médicos, terapeutas da fala, nutricionistas e psicólogos é essencial para criar um plano de cuidados integrado que atenda às necessidades físicas, cognitivas e emocionais do paciente. A transição do ambiente hospitalar para a vida na comunidade não deve ser subestimada, sendo um dos maiores desafios na jornada do paciente após a UCI.