O Dalai Lama sempre enfatizou que, para resolver os desafios mais urgentes do nosso tempo, precisamos de cientistas ocidentais com mentes abertas e imparciais. Ele os considera como "gurus" modernos, ocupando uma posição de grande autoridade devido ao seu conhecimento e entendimento das questões fundamentais que afetam a humanidade. Para ele, o problema do aquecimento global não é apenas uma questão de ciência, mas uma questão ética: é uma questão de responsabilidade moral. Se já sabemos que nossas ações causam danos ao meio ambiente, nossa obrigação é agir para parar essa destruição. E a tragédia maior é que, aqueles que mais sofrerão com as consequências das mudanças climáticas, são os que menos contribuíram para esse problema.

Durante um encontro em sua residência, a teóloga Sallie McFague falou sobre o impacto global do consumismo, que se espalha por todos os cantos do planeta, alimentado pelo excesso e pela ganância. O capitalismo de mercado, que proporciona grandes benefícios às sociedades mais desenvolvidas, falha em reconhecer a interdependência entre todos os seres humanos. A ideia de felicidade associada ao acúmulo de bens materiais é uma ilusão, já que a verdadeira paz interior não pode ser comprada. A busca incessante pelo material não leva à plenitude, mas ao vazio. A desconexão entre o que precisamos verdadeiramente e o que consumimos é uma das principais causas de sofrimento no mundo contemporâneo.

O Dalai Lama, por sua vez, ressaltou que os verdadeiros inimigos da humanidade são a ignorância, a ganância e a falta de paz interior. "As coisas materiais proporcionam apenas conforto físico. A paz interior nunca vem das coisas. Ela vem de uma mente tranquila, de um casamento feliz, de uma família saudável e de um coração caloroso." A busca pelo bem-estar físico é importante, mas não é suficiente. Ele chamou a atenção para o fato de que somos dotados de um cérebro notável, capaz de aprender com o passado e de antecipar o futuro. Ao contrário dos animais, que vivem no presente, os seres humanos têm a capacidade de pensar a longo prazo — seja em 10, 100 ou até 1.000 anos. Essa habilidade de projetar o futuro é um dom divino e, como tal, deve ser utilizado para o bem da humanidade.

Para isso, é essencial que desenvolvamos uma comunicação mais eficaz. Como expliquei em minha própria jornada de escrita, nossa comunicação não pode ser apenas sobre falar com paixão e intensidade sobre um determinado assunto. Para que nossas mensagens sejam poderosas e persuasivas, é fundamental que sejam baseadas em empatia e compaixão. Não podemos mudar o mundo gritando e impondo nossa visão aos outros. Esse tipo de abordagem muitas vezes resulta em mais resistência e divisões. Não devemos assumir que as pessoas não entendem, ou que são indiferentes. Precisamos, ao contrário, colocar-nos no lugar dos outros, entender suas perspectivas e respeitar suas experiências. Somente assim, ao adotar uma postura de humildade, é que conseguiremos construir uma comunicação eficaz, capaz de unir e não de dividir.

É importante lembrar que a eficácia da comunicação depende também de nosso estado interior. Durante minha conversa com Peter Senge, discutimos como a "vontade aberta" é essencial para a comunicação humana e como, para colaborar efetivamente na resolução de problemas globais, devemos primeiro limpar nossa própria "ecologia interna". Muitas vezes, nossas ações são impulsionadas por nosso ego, que se disfarça de boas intenções, como a busca pela verdade ou pela salvação do mundo. No entanto, ao nos questionarmos sobre nossa eficácia e nossas intenções, podemos nos tornar mais conscientes de como nossas necessidades internas podem interferir na nossa capacidade de agir de maneira harmônica e eficaz.

Senge usou uma metáfora artística para ilustrar sua visão: "Todos os grandes artistas têm uma compreensão profunda de que estão em uma jornada pessoal, mas, paradoxalmente, ela nada tem a ver com eles. O que vem através deles não é originado por eles, mas por uma força maior." Quando trabalhamos com todo o nosso coração para uma causa, estamos conectados a algo além de nós mesmos. Esse tipo de conexão, essa "dança" entre o interior e o exterior, é fundamental para uma comunicação eficaz e verdadeira.

A verdadeira transformação não ocorre quando tentamos impor nossa visão ao mundo, mas quando nos conectamos profundamente com os outros e com uma realidade maior, algo além de nossos próprios interesses e egos. E quando conseguimos alinhar nossas mentes e corações, podemos começar a ver as questões globais de uma nova maneira, buscando soluções que beneficie a todos, não apenas a um grupo privilegiado.

Por fim, é fundamental compreender que o mundo atual enfrenta um momento de crise na qualidade do discurso público. A polarização política e a manipulação da informação corroem o espaço para discussões racionais e fundamentadas, colocando em risco a democracia e a coesão social. Essa fragmentação, alimentada por interesses escusos, torna ainda mais urgente o nosso compromisso em recuperar a capacidade de dialogar, de ouvir e de agir com consciência.

Como a Perspectiva e a Atitude Moldam a Advocacia e a Polarização no Discurso Público

Conner observava com frequência cenas de confronto em que as partes envolvidas não conseguiam compreender totalmente o problema que estavam tentando resolver. Viu pessoas cegas pelos próprios ressentimentos e ódios. Intrigado, ele iniciou uma jornada para entender as razões por trás disso e passou a estudar obras de pensadores como Marshall Ganz e Martin Luther King, cujas abordagens eram mais práticas do que teóricas. Conner, que antes acreditava que lobistas de Washington eram essencialmente pessoas negativas, engajadas em comportamentos polarizadores, começou a questionar essa visão. “Será que temos boas pessoas fazendo coisas erradas por boas razões?”, refletiu ele. E sua resposta foi sim, com a certeza de que essa dinâmica está no cerne da polarização do discurso público.

Ao observar campanhas ambientais contra oleodutos no Canadá, Conner alertou: “Se você acha que todo movimento que defende o oleoduto é formado por pessoas más ou tolas, eu quase posso garantir com grande certeza que isso não é preciso.” Esta resposta, surpreendente e até irritante para alguns, reflete a visão de Conner sobre a advocacia eficaz, que ele define como uma maneira de mudar o fluxo dos acontecimentos na vida pública de uma comunidade, alterando a forma como as pessoas e grupos-chave pensam, sentem e agem. Para ele, esse fluxo de eventos é complexo, como um rio com muitos afluentes, e a advocacia eficaz busca mudar esse curso, guiando indivíduos e instituições a modificar seus comportamentos.

Conner identifica três abordagens principais para mudar o comportamento de alguém: pressionar, puxar e colaborar. A primeira estratégia, o "push", envolve fazer com que a pessoa faça algo contra sua vontade. A segunda, o "pull", busca convencer alguém por meio de educação, incentivos ou advertências. A terceira, mais complexa e eficaz, é a colaboração, que visa resolver problemas específicos por meio de um esforço conjunto profundo, onde os participantes podem concordar em discordar em outras questões. Para que a colaboração funcione, todos precisam abandonar seus caminhos estreitos, deixar de lado seus egos e agendas individuais. No entanto, Conner logo percebeu que há uma dimensão adicional envolvida: a postura.

A postura é a atitude que adotamos em relação a outra pessoa ou grupo, e é isso que permite classificar alguém como amigo ou inimigo. A palavra “amigo” aqui não se refere ao afeto, mas ao respeito mútuo, à aceitação de que a pessoa é decente, mesmo que tenha opiniões divergentes das nossas. Conner explica que, no caso de um "push-inimigo", a estratégia visa sobrecarregar alguém que é visto como tendo interesses malignos, enquanto o "push-amigo" é usado quando trabalhamos com alguém que compartilha de nossas ideias. Neste último caso, a pressão é feita a partir de um lugar de respeito e consideração, sem a intenção de prejudicar a pessoa ou colocar seu trabalho em risco.

A postura também pode se alterar com o tempo, especialmente quando começamos a ver o outro como um inimigo. No processo de discordância, primeiro questionamos as opiniões do outro, depois suas intenções e, por fim, começamos a vê-los como adversários. Quando a crítica à nossa causa ou a condenação dos nossos argumentos surge, nossas defesas entram em ação, e a raiva se instala. Com o tempo, as posturas das partes em conflito se baseiam mais no comportamento do outro do que nas ideias em si. Conner chama isso de "armadilha da advocacia". Nesse ciclo, ambas as partes começam a se tratar como não apenas erradas, mas como transgressores, até que se transformam em inimigos. Uma vez que isso ocorre, é quase impossível fazer algo mais além de continuar pressionando sem resultados.

Essa armadilha da advocacia é como um prazer auto-destrutivo e sedutor. No curto prazo, ela oferece atenção, reconhecimento e até recursos financeiros, mas, no longo prazo, impede os defensores de cumprir a missão que os motivou a entrar na advocacia pública em primeiro lugar. Conner observa que, em muitos casos, a solução para situações infladas como essas é mudar de postura. Quando as circunstâncias mudam, é necessário adaptar a abordagem: empurrar, colaborar ou puxar, conforme a situação exige. Isso é difícil de fazer quando vemos o outro como uma pessoa desonesta ou desrespeitosa. Porém, se ambas as partes basearem suas atitudes nas ações do outro, elas acabarão espelhando os comportamentos que acreditam estar vendo, perpetuando a desconfiança e, por fim, a hostilidade.

É fundamental, portanto, que um defensor público escolha conscientemente sua postura, praticando empatia e respeito, sem esperar reciprocidade. Quando se opta por romper o ciclo de acusação, há uma chance de quebrar o impasse. Conner não sugere que as pessoas abandonem suas crenças ou sua luta pelo que acreditam, mas defende que devemos monitorar nossas atitudes para poder alternar entre os três tipos de abordagem: empurrar, puxar e colaborar, sempre que necessário. Um excesso de agressividade só alimenta a resistência do outro lado. Como ele explica, “Nada é mais comum do que grupos poderosos gerarem resistência ao exagerar nas suas ações e tratar o outro de maneira mesquinha ou rancorosa.”

O maior desafio da advocacia pública, segundo Conner, é evitar que nossas atitudes em relação aos outros sejam determinadas por comportamentos externos. Pessoas que monitoram suas posturas podem ouvir verdadeiramente o que os outros têm a dizer, sem ceder ao impulso de responder com ressentimento. Isso é uma habilidade que, por exemplo, policiais, médicos e pais bem treinados praticam: a capacidade de não permitir que as provocações externas dominem suas reações internas. Conner cita, como exemplos exemplares, líderes como Martin Luther King e Mahatma Gandhi, que se recusaram a deixar que o comportamento de seus opressores determinasse sua postura. Eles mantiveram suas atitudes centradas, não permitindo que o outro lado moldasse suas reações.

A lição final é clara: os defensores públicos não devem cair na armadilha de tratar os outros como inimigos. Ao evitar essa mentalidade, eles podem acessar toda a gama de opções estratégicas necessárias para navegar em um cenário de alta polarização. Embora seja natural, em alguns contextos políticos, que as pessoas discordem profundamente, não devemos permitir que isso nos cega para as possibilidades de diálogo e colaboração, essencialmente ignorando a complexidade do mundo real em que vivemos.