A implantação de dispositivos de assistência ventricular esquerda (LVAD) tem se tornado uma solução cada vez mais comum para pacientes com insuficiência cardíaca avançada. Essa técnica oferece uma alternativa viável ao transplante de coração, proporcionando um aumento significativo na qualidade e na expectativa de vida dos pacientes. Contudo, a escolha da abordagem cirúrgica — seja por esternotomia convencional ou toracotomia lateral minimamente invasiva — tem sido um tema de intenso debate na literatura médica, com diferentes estudos apontando vantagens e desvantagens de cada método.

A esternotomia, tradicionalmente utilizada na cirurgia cardíaca, exige uma abertura ampla do esterno para permitir o acesso ao coração e à circulação extracorpórea. Esse procedimento, embora eficaz, está associado a um tempo de recuperação prolongado, maior risco de infecções e complicações relacionadas ao trauma esternal. Em contraste, a toracotomia lateral, uma abordagem minimamente invasiva, proporciona uma incisão menor, evitando a divisão do esterno e, portanto, reduzindo o impacto físico da cirurgia.

Estudos recentes, como o ensaio clínico LATERAL, demonstraram que a toracotomia lateral pode resultar em uma recuperação mais rápida, menor tempo de internação hospitalar e menor risco de complicações pós-operatórias, como infecções e hemorragias. Além disso, essa técnica oferece a vantagem de uma menor dor pós-operatória e preservação da função respiratória, visto que o trauma no esterno é evitado. No entanto, a abordagem minimamente invasiva não está isenta de desafios, como a dificuldade de visualização durante a cirurgia e a necessidade de experiência específica da equipe cirúrgica.

A escolha entre esternotomia e toracotomia lateral deve ser baseada em diversos fatores, incluindo a condição clínica do paciente, a experiência da equipe cirúrgica e os recursos disponíveis. Pacientes com comorbidades adicionais, como doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou histórico de infecção torácica, podem se beneficiar de uma abordagem menos invasiva, que reduz o risco de complicações pulmonares e melhora a recuperação respiratória.

Além da escolha da abordagem cirúrgica, outro aspecto importante é o manejo anestésico. A anestesia em pacientes com LVAD exige uma estratégia especializada, devido à necessidade de monitoramento intensivo e controle rigoroso da pressão arterial, volume sanguíneo e função renal. O uso de dispositivos de circulação extracorpórea também impõe desafios adicionais, como o manejo de anticoagulação e o risco de trombose do dispositivo. A utilização de técnicas de anestesia regional e geral, combinadas com monitoramento hemodinâmico invasivo, é essencial para otimizar os resultados e minimizar riscos.

A literatura recente sugere que a abordagem toracotômica minimamente invasiva não só melhora o pós-operatório imediato, mas também pode ter impacto positivo na longevidade do dispositivo LVAD e na sobrevida do paciente a longo prazo. A menor necessidade de anticoagulação e o risco reduzido de complicações infecciosas podem contribuir para esses melhores resultados, embora seja necessário mais pesquisa para confirmar essas conclusões.

A avaliação dos pacientes candidatos a LVAD deve ser feita de forma multidisciplinar, envolvendo cardiologistas, cirurgiões cardíacos, anestesistas e equipes de cuidados intensivos. Cada decisão deve ser personalizada, considerando as especificidades do paciente e as condições clínicas, a fim de garantir o melhor desfecho possível.

Outro aspecto relevante é a evolução tecnológica dos próprios dispositivos de assistência ventricular esquerda. Dispositivos mais novos, como o HeartMate 3, apresentam menores taxas de complicações e maior durabilidade. Além disso, o avanço na técnica de implantes e na escolha do tipo de fluxo (fluxo contínuo versus pulsátil) também tem mostrado melhorar significativamente os resultados. A adoção de dispositivos totalmente magneticamente levitados, como o HeartMate 3, eliminou a necessidade de suportes mecânicos convencionais, reduzindo ainda mais os riscos associados a falhas do dispositivo e à formação de coágulos.

É fundamental compreender que o sucesso do LVAD não depende apenas da técnica cirúrgica ou do dispositivo em si, mas também do seguimento contínuo do paciente. O acompanhamento pós-operatório deve incluir a monitorização de sinais vitais, funções orgânicas e do próprio dispositivo, além de estratégias preventivas para evitar complicações como a insuficiência renal, a disfunção hepática e a trombose do LVAD.

Como a Integração de Tecnologias de Suporte Circulatório Mecânico Está Transformando o Tratamento de Insuficiência Cardíaca

A evolução das tecnologias de suporte circulatório mecânico (MCS) nas últimas décadas reflete uma adaptação contínua a novas exigências clínicas e desafios tecnológicos. Desde a integração de oxigenadores de alta capacidade até o uso de sistemas temporários de MCS como ECMO (oxigenação por membrana extracorpórea), a área tem sido uma área de intenso desenvolvimento, particularmente em situações de insuficiência cardíaca grave. Um exemplo claro disso é a implementação de MCS temporários para pacientes com falência cardíaca, com o ECMO de venovenoso (VV ECMO) emergindo como uma ferramenta essencial, especialmente durante a pandemia de COVID-19, quando a necessidade de suporte circulatório temporário se tornou ainda mais evidente.

Nos últimos anos, muitos centros médicos têm modificado suas abordagens de simulação de MCS para ajudar na formação de equipes médicas. As simulações de sistemas de MCS, como ECMO, LVAD (Dispositivo de Assistência Ventricular Esquerda), e TAH (Assistência Total do Coração), têm sido amplamente utilizadas para treinar profissionais médicos e de enfermagem, permitindo que eles se familiarizem com cenários clínicos complexos e desenvolvam habilidades para gerenciar pacientes críticos. A simulação de falência cardíaca, por exemplo, oferece uma oportunidade única de treinar diferentes equipes em um ambiente controlado, sem os riscos de complicações em pacientes reais.

O impacto das simulações no treinamento de perfusionistas e engenheiros é significativo. Estas práticas não apenas melhoram a segurança e eficácia das intervenções em pacientes com MCS, mas também ajudam a diminuir a curva de aprendizado de tecnologias complexas e multifacetadas. Em muitas instituições, o suporte de MCS é realizado por equipes compostas por perfusionistas, engenheiros e enfermeiros, que são treinados para lidar com uma variedade de sistemas de MCS. Isso inclui o suporte de sistemas de MCS temporários como o Impella, que é frequentemente inserido na sala de cateterismo para auxiliar na estabilização de pacientes com insuficiência cardíaca grave, e também o transporte de pacientes sob ECMO, uma tarefa crítica e delicada.

O papel dos perfusionistas e engenheiros tem se expandido, com muitos hospitais contando com equipes on-call 24 horas por dia, 7 dias por semana, para fornecer suporte em qualquer situação que envolva sistemas MCS. A crescente diversidade de dispositivos e abordagens, como a integração de sistemas ECMO com suporte de ventrículos artificiais e dispositivos de assistência ventricular, exigiu a implementação de protocolos e uma logística especializada, capaz de garantir a continuidade do tratamento. Isso inclui a presença de perfusionistas e engenheiros nas chamadas de emergência e o apoio à equipe médica em diversas áreas, como o bloco cirúrgico, unidade de terapia intensiva e laboratório de cateterização.

Outro aspecto crucial no gerenciamento de MCS é a necessidade de profissionais que possam operar e gerenciar equipamentos exclusivos para essas tecnologias, como os dispositivos de perfusão e de assistência ventricular. As especificidades de cada sistema, como as diferenças nas bombas de circulação extracorpórea ou nas configurações dos ventiladores de ECMO, exigem que os profissionais se mantenham atualizados com as inovações tecnológicas e desenvolvam um profundo conhecimento técnico. A gestão de diferentes configurações de MCS também levanta o desafio de garantir que todos os membros da equipe, incluindo enfermeiros e técnicos, estejam proficientemente treinados para lidar com múltiplos sistemas, o que, em muitos centros, resulta em treinamento extensivo e uma divisão clara de responsabilidades.

À medida que a medicina de suporte circulatório mecânico avança, a tendência é que o papel dos perfusionistas e engenheiros se torne ainda mais crucial. Os profissionais não apenas devem dominar os aspectos técnicos dos dispositivos, mas também estar preparados para adaptar-se rapidamente a novas tecnologias e tratamentos emergentes. As inovações esperadas para o futuro incluem a integração de inteligência artificial para otimizar a monitorização e gestão de pacientes em MCS, além da utilização de dispositivos portáteis e aplicativos móveis que permitam aos profissionais monitorar os pacientes em tempo real, mesmo à distância.

Ademais, é importante ressaltar que o sucesso do tratamento com MCS não depende apenas do conhecimento técnico sobre os dispositivos, mas também da integração eficaz das equipes multidisciplinares. A colaboração entre perfusionistas, enfermeiros, engenheiros, farmacêuticos, terapeutas e médicos será fundamental para o desenvolvimento de soluções de suporte mais eficientes e para a criação de protocolos de tratamento mais personalizados e adaptados às necessidades de cada paciente.