A votação é o coração da democracia, o mecanismo pelo qual determinamos quem governará e como as políticas serão implementadas. É, portanto, a parte mais importante do "bem comum" em uma nação. Esse conceito de "bem comum" abrange todos os recursos e sistemas que são compartilhados e administrados coletivamente por uma sociedade através de seu governo. Entre eles estão os recursos naturais como o ar e a água, as infraestruturas públicas como estradas e escolas, os sistemas de saúde e segurança pública, e, claro, a proteção das liberdades e direitos dos cidadãos. O direito de votar, portanto, se torna não apenas uma prerrogativa individual, mas a principal ferramenta através da qual todos os outros direitos são defendidos e preservados.

No entanto, a história do voto na América é marcada por uma contínua batalha para restringir o acesso ao direito de votar. Desde os primeiros dias da República até os tempos modernos, a elite política e econômica tem buscado maneiras de impedir que grandes segmentos da população exerçam essa liberdade fundamental. As motivações para essa guerra contra o voto são, muitas vezes, econômicas e raciais. Aqueles que controlam o poder político e econômico têm um interesse direto em garantir que o poder de decisão seja concentrado nas mãos de um número restrito de indivíduos, em vez de ser disseminado entre toda a população.

Um dos marcos dessa luta ocorreu após a Guerra Civil Americana, quando os estados do Sul tentaram de várias formas restringir o direito de voto dos afro-americanos, mesmo após a ratificação da 15ª Emenda. Essas restrições, como testes de alfabetização, taxas de votação e o famigerado "voto de propriedade", continuaram a ser aplicadas até a década de 1960, quando o Movimento pelos Direitos Civis finalmente forçou a aprovação da Lei dos Direitos de Voto de 1965. No entanto, essa conquista não foi definitiva. A luta pelo direito ao voto sempre foi, e continua sendo, uma batalha constante.

Nos últimos anos, uma nova onda de ataques ao direito de votar tem se intensificado nos Estados Unidos, especialmente através de táticas como a supressão de eleitores, a manipulação de distritos eleitorais (gerrymandering) e a introdução de leis que dificultam a votação por correio ou o registro automático de eleitores. O impacto disso é profundo, afetando principalmente as comunidades mais vulneráveis, como minorias raciais, pessoas de baixa renda e jovens. Embora esses métodos variem em suas formas, o objetivo é sempre o mesmo: reduzir a participação popular e garantir que apenas aqueles cujos interesses estão alinhados com a elite política e econômica possam decidir o destino da nação.

O controle sobre o voto também tem implicações econômicas significativas. Quando certos grupos são privados do direito de votar, a política econômica do país tende a favorecer ainda mais as grandes corporações e os ricos. Isso cria um ciclo vicioso em que as políticas públicas tornam-se cada vez mais favoráveis ao capital, enquanto as necessidades da maioria da população são negligenciadas. A centralização do poder político nas mãos de poucos impede que políticas públicas que favoreçam o bem-estar social, a justiça econômica e a proteção do meio ambiente avancem.

Essa guerra contra o voto também não é apenas uma questão interna dos Estados Unidos. Ela se reflete em diversas democracias ao redor do mundo, onde as elites políticas e empresariais tentam manipular os sistemas eleitorais para garantir sua permanência no poder. No entanto, as tecnologias e os métodos usados para minar a democracia também evoluíram. Hoje em dia, o uso de máquinas de votação e a manipulação de dados eleitorais têm levantado sérias preocupações sobre a integridade do processo eleitoral. A "redshift", por exemplo, é um fenômeno que ocorre quando os resultados das eleições são distorcidos de maneira que favoreçam certos partidos, algo que é cada vez mais possível com a tecnologia digital, onde o controle das máquinas de votação por empresas privadas se tornou uma realidade.

A supressão do voto não se limita apenas às táticas físicas ou tecnológicas. Há também uma poderosa guerra cultural que visa desinformar e enganar a população. Por meio de campanhas de mídia, discursos políticos e publicações tendenciosas, grandes interesses financeiros alimentam narrativas que distorcem a compreensão do público sobre o voto. Termos como "fraude eleitoral", muitas vezes amplificados por figuras públicas e partidos políticos, têm sido usados para justificar o endurecimento das leis eleitorais e desencorajar a participação cívica.

O que é crucial para se entender sobre a guerra contra o voto é que, mais do que uma questão técnica ou legal, trata-se de um ataque direto à democracia. Quando os votos de uma parte significativa da população são suprimidos ou manipulados, o próprio sistema democrático perde sua legitimidade. As eleições não podem mais refletir a verdadeira vontade do povo, e os governantes não têm mais a autoridade moral para tomar decisões em nome de toda a nação.

Portanto, a luta pelo direito ao voto é, em última instância, a luta pela própria essência da democracia. A proteção do voto não é apenas uma questão de garantir que todos tenham acesso à urna, mas também de assegurar que a democracia seja verdadeira, representativa e justa. Sem isso, o conceito de governança do "povo, pelo povo e para o povo" se torna uma ilusão. O voto não é apenas um direito – é a base sobre a qual toda a nossa liberdade e dignidade humana são construídas. E enquanto houver forças trabalhando para restringir esse direito, a luta pela democracia continua.

Como os Bilionários Influenciam a Política: A Guerra Moderna Contra o Voto

Nos últimos anos, o cenário político americano tem sido marcado por um fenômeno claro e preocupante: a crescente influência dos bilionários na política e na forma como as eleições são moldadas. Ao longo das décadas, ficou evidente que a maioria dos americanos se alinha mais com políticas progressistas, como as propostas por figuras como o senador Bernie Sanders, do que com as posições mais moderadas de figuras como Bill Clinton. No entanto, para garantir que políticos alinhados com os interesses dos bilionários fossem eleitos, houve uma estratégia que envolveu, antes de tudo, a manipulação da percepção pública. Não bastava apenas mentir para a população; era necessário algo mais sutil e profundo.

A virada estratégica começou em 1980, quando Ronald Reagan, em seu primeiro discurso de posse, declarou: "Neste momento de crise, o governo não é a solução para nossos problemas; o governo é o problema." Para muitos, esta frase passava despercebida, mas na realidade ela representava o início de um movimento para privatizar a seguridade social, acabar com o Medicare e reduzir os controles ambientais implementados nas administrações anteriores. O verdadeiro significado dessa retórica neoliberal não era entendido por grande parte da população, que não percebia a conexão direta com a destruição de programas sociais vitais como a educação pública, a saúde universal e as redes de segurança social que haviam sido estabelecidas nas décadas anteriores.

Ao mesmo tempo, surgia uma nova linha de pensamento político. Em 1980, o magnata David Koch, em sua tentativa de promover o Partido Libertário, expôs suas visões ultraliberais de forma pública e clara. O programa do partido, pelo qual Koch se candidatava à vice-presidência, defendia a abolição de programas como o Medicare e o Medicaid, a eliminação do imposto de renda pessoal e corporativo, a privatização das rodovias públicas, e até a extinção da Administração de Proteção Ambiental (EPA). Essas propostas eram radicalmente contrárias às políticas que protegiam os mais vulneráveis e garantiam o bem-estar social.

Porém, o Partido Libertário, apesar do apoio financeiro de Koch, não conseguiu convencer a maioria da população, com sua candidatura recebendo apenas cerca de um milhão de votos nas eleições de 1980. A partir daí, Koch e outros bilionários perceberam que uma abordagem mais eficiente seria tomar o controle do Partido Republicano, que já possuía uma base significativa de apoio conservador. O objetivo não era mais defender ideias libertárias de forma direta, mas sim promover um projeto de poder que atendesse aos interesses de uma elite rica e corporativa.

O passo seguinte foi garantir a legalidade do financiamento ilimitado de campanhas, o que foi estabelecido pelo Tribunal Supremo dos EUA em 1976, com a decisão Buckley v. Valeo. Essa decisão permitiu que grandes doadores privados e corporações pudessem gastar quantias imensas de dinheiro para influenciar eleições e legislações, protegidos pela "liberdade de expressão" da Primeira Emenda. O problema era que, apesar dessa liberdade, o povo americano começou a perceber a verdadeira extensão dessa manipulação.

À medida que a disparidade econômica se ampliava, com o declínio da classe média e o aumento da insegurança econômica, especialmente após a presidência de Ronald Reagan, tornou-se evidente que uma nova distração era necessária para desviar a atenção da população dos problemas econômicos e sociais. A resposta dos bilionários foi a inserção de questões "sociais" no debate político, como o aborto e o controle de armas. Essas questões, embora profundamente divisivas, ajudaram a mobilizar bases eleitorais, como os evangélicos brancos e outros grupos conservadores, desviando o foco das questões econômicas que estavam prejudicando a maioria dos americanos.

Ao mesmo tempo, a perpetuação de uma narrativa de que os "liberais" eram anti-americanos, com a destruição do sonho americano promovida pelos republicanos, começou a fazer parte da estratégia. O sonho americano, que anteriormente estava ligado à ideia de um bom trabalho sindicalizado, com benefícios de saúde e educação, foi reconfigurado, substituindo-se por um ideal mais individualista e consumista, alinhado aos interesses das grandes corporações e seus donos.

Os bilionários e suas fundações desempenharam um papel fundamental na reconfiguração desse cenário, utilizando estratégias de lobby e financiamento de campanhas para garantir que suas agendas estivessem representadas em todas as esferas do poder. E embora os Estados Unidos continuassem a ser a maior economia do mundo, a disparidade social só aumentava, com um número crescente de americanos enfrentando crises econômicas devido ao alto endividamento estudantil, à falta de um sistema de saúde acessível e a uma infraestrutura pública em ruínas.

Além disso, o que muitas vezes passa despercebido é o fato de que esse processo de manipulação política não é exclusivo dos Estados Unidos, mas tem se espalhado por várias democracias ao redor do mundo, com elites financeiras tomando o controle de governos e distorcendo os valores democráticos em benefício próprio.

Entender esses movimentos e suas implicações é crucial para qualquer cidadão que deseje não apenas compreender os jogos de poder que moldam a política atual, mas também para aqueles que buscam reverter ou, pelo menos, mitigar os efeitos dessa concentração de poder nas mãos de poucos. A vigilância, a mobilização social e a educação política são as chaves para uma verdadeira mudança.