Os processos estocásticos com excitação de ruído branco de Poisson oferecem uma abordagem alternativa à formulação clássica baseada em ruído branco Gaussiano, particularmente relevante quando se busca modelar sistemas físicos sujeitos a excitações impulsivas, descontínuas e de natureza não-simétrica. Esse tipo de ruído é caracterizado por saltos súbitos e de intensidade arbitrária, sendo modelado através de incrementos descontínuos representados matematicamente pela variável dC(t)dC(t), cuja distribuição de probabilidades tem momentos simétricos, anulando, assim, todas as expectativas de potências ímpares: E[Ck(t)]=0E[C_k(t)] = 0 para kk ímpar.

Assumindo a função de difusão h(X,t)h(X,t), a equação diferencial estocástica geral, no formalismo de Itô para ruído branco de Poisson, assume a forma expandida:

dX(t)=f(X)dt+h(X)dC(t)+12!h(X)[dC(t)]2+13!h(X)[dC(t)]3+14!h(X)[dC(t)]4+dX(t) = f(X)dt + h(X)dC(t) + \frac{1}{2!}h(X)[dC(t)]^2 + \frac{1}{3!}h(X)[dC(t)]^3 + \frac{1}{4!}h(X)[dC(t)]^4 + \cdots

Negligenciando os momentos superiores a D4D_4, os primeiros quatro momentos derivados da evolução temporal do processo são extraídos da expansão da equação (2.178), expressando os coeficientes a,b,c,da, b, c, d em termos das derivadas parciais de h(x)h(x) e dos parâmetros DnD_n, associados à intensidade estatística do ruído. A distribuição de probabilidade de X(t)X(t) obedece então à equação de Fokker–Planck–Kolmogorov (FPK), altamente não-linear, com termos de deriva, difusão e de mais altas ordens expressos até a quarta derivada da função densidade p(x,t)p(x,t). Essa equação incorpora explicitamente os efeitos não-Gaussianos oriundos da natureza do ruído de Poisson.

Duas situações particulares ilustram a aplicação direta desse formalismo:

(i) Quando h(X,t)=1h(X,t) = 1, isto é, com excitação puramente externa, a equação estocástica reduz-se a dX(t)=f(X)dt+dC(t)dX(t) = f(X)dt + dC(t), com momentos derivados dados por a=fa = f, b=D2b = D_2, c=0c = 0, d=D4d = D_4. Trata-se de um caso analítico mais simples, com comportamento aditivo do ruído.

(ii) Quando h(X,t)=Xh(X,t) = X, ou seja, com excitação paramétrica, o sistema se torna multiplicativo, levando à equação dX(t)=f(X)dt+XdC(t)+dX(t) = f(X)dt + XdC(t) + \cdots, onde os momentos derivados se tornam funções polinomiais de xx. O comportamento do sistema é altamente não-linear e os efeitos do ruído se amplificam com o crescimento da variável de estado.

Esse formalismo é estendido naturalmente para sistemas multidimensionais. Por exemplo, no caso de um oscilador de grau de liberdade único (SDOF), com forças restauradoras e de amortecimento representadas por uma função h(X,X˙)h(X, \dot{X}), a dinâmica pode ser expressa por um sistema de equações estocásticas de segunda ordem no espaço de estados. As equações de Itô correspondentes introduzem os termos estocásticos da mesma natureza, com expansão de Taylor nos termos dC(t),[dC(t)]2,dC(t), [dC(t)]^2, \ldots, refletindo o caráter impulsivo e altamente intermitente da excitação Poissoniana.

Os momentos derivados nesse contexto — notadamente a1,a2,b22,c222,d2222a_1, a_2, b_{22}, c_{222}, d_{2222} — incorporam não apenas a função de força de excitação hh, mas também suas derivadas até a quarta ordem, revelando a sensibilidade extrema da distribuição de probabilidade às propriedades locais da função de modulação do ruído. A equação de FPK associada exibe uma estrutura funcional análoga ao caso unidimensional, mas agora acoplada entre as variáveis de estado e suas respectivas derivadas.

O desenvolvimento subsequente trata dos Processos Gaussianos Fracionários, introduzindo o cálculo fracionário como uma generalização dos operadores diferenciais e integrais de ordem inteira. O conceito central é o operador de derivada fracionária de Riemann–Liouville, cuja aplicação a ruído branco Gaussiano dá origem ao movimento Browniano fracionário (fBm), caracterizado pelo índice de Hurst HH, e descrito por integrais convolucionais do tipo:

BH(t)=1Γ(H+12)0t(tτ)H1/2dB(τ)B_H(t) = \frac{1}{\Gamma(H + \frac{1}{2})} \int_0^t (t - \tau)^{H - 1/2} dB(\tau)

O movimento Browniano fracionário diferencia-se do Browniano clássico pela presença de memória de longo alcance, codificada no valor de HH, o que influencia profundamente a regularidade, suavidade e dependência temporal das trajetórias do processo.

Para compreender plenamente os efeitos físicos e matemáticos desses modelos, é necessário reconhecer que a modelagem com ruído branco de Poisson rompe com a simetria e continuid

Como a média estocástica descreve sistemas Hamiltonianos quase integráveis sujeitos a ruídos Gaussianos e de Poisson?

A análise de sistemas Hamiltonianos quase integráveis sob excitação estocástica revela a complexidade e riqueza do comportamento dinâmico quando ruídos Gaussianos e impulsivos de Poisson atuam simultaneamente. Esses sistemas, representados por equações diferenciais estocásticas com saltos, descrevem a evolução de variáveis de ação e ângulo, que, apesar da perturbação, mantêm uma estrutura quase integrável.

O modelo apresentado considera dois osciladores não lineares linearmente acoplados, cujas dinâmicas são afetadas por termos de amortecimento não linear e acoplamento, além da presença de ruídos brancos Gaussianos e impulsos de Poisson. A transformação para variáveis de ação e ângulo permite a aplicação da média estocástica, técnica que reduz a complexidade do sistema original, levando a uma Fokker-Planck-Kolmogorov (FPK) reduzida para a densidade de probabilidade conjunta das variáveis de ação.

Os coeficientes da FPK são derivados dos momentos das derivadas dos termos não lineares e dos parâmetros do ruído, envolvendo termos até a quarta ordem de derivadas, refletindo a influência detalhada das perturbações estocásticas sobre a dinâmica das ações. A solução estacionária dessa equação reduzida pode ser obtida por métodos perturbativos, permitindo a descrição precisa da distribuição probabilística das ações e, consequentemente, dos estados do sistema.

Comparações entre os resultados analíticos da média estocástica e simulações Monte Carlo evidenciam excelente concordância, validando a eficácia do método para modelar sistemas sob excitação mista. Particularmente notável é o fenômeno de bifurcação probabilística (p-bifurcação), observado quando o parâmetro α₁₁ varia de positivo para negativo. Esta transição caracteriza-se pela mudança do movimento do primeiro oscilador, de vibrações aleatórias ao redor do ponto de equilíbrio para um ciclo limite difuso, demonstrando como alterações sutis nos parâmetros podem induzir mudanças qualitativas na resposta estocástica.

A presença simultânea de ruído Gaussiano e ruído de Poisson modela situações realistas em sistemas físicos, onde as perturbações podem apresentar componentes contínuos e descontínuos, como impactos ou pulsos súbitos. A formulação estocástica por meio de equações diferenciais com saltos incorpora esse aspecto, ampliando o alcance da análise para sistemas sujeitos a ambientes ruidosos complexos.

A compreensão dessas dinâmicas estocásticas é fundamental para interpretar fenômenos em diversos campos, desde engenharia estrutural sujeita a cargas aleatórias até sistemas biológicos e financeiros que experimentam variações abruptas. A média estocástica emerge como uma ferramenta robusta para reduzir a complexidade das equações originais, possibilitando soluções analíticas aproximadas e facilitando a análise estatística do sistema.

É importante reconhecer que a adequação dos modelos depende da correta identificação dos parâmetros físicos e estocásticos, bem como do regime de validade da aproximação por média estocástica, geralmente restrita a perturbações pequenas (de ordem ε²). Ademais, o estudo detalhado das bifurcações probabilísticas proporciona insights profundos sobre a estabilidade estocástica, essencial para projetar sistemas resilientes a perturbações aleatórias.

Como se obtém a PDF estacionária em sistemas hamiltonianos quase-parcialmente integráveis com excitação aleatória?

A equação de Fokker–Planck–Kolmogorov (FPK) reduzida e suavizada por métodos de diferenças finitas fornece a densidade de probabilidade estacionária (PDF) conjunta p(I1,I2,ψ,h3)p(I_1, I_2, \psi, h_3) do sistema hamiltoniano quase-parcialmente integrável descrito por (6.323). Este sistema é submetido a excitações aleatórias combinadas de ruído branco gaussiano e de Poisson. O foco é o regime ressonante primário, onde as variáveis de ação I1I_1, I2I_2, o ângulo de fase ψ\psi, e o parâmetro auxiliar h3h_3 desempenham papéis centrais.

A estrutura da PDF estacionária está ligada à forma funcional dos coeficientes estocásticos ai(I1,I2,ψ,h3)a_i(I_1, I_2, \psi, h_3), definidos por combinações lineares e não-lineares de I1I_1, I2I_2, ψ\psi e h3h_3, incorporando tanto contribuições determinísticas (via os coeficientes αij\alpha_{ij}, ωi\omega_i) quanto aleatórias (via λiE[Yik]\lambda_i E[Y_i^k], que modelam o impacto do ruído branco gaussiano e de Poisson). Notavelmente, os termos como cos2ψ\cos 2\psi e sin2ψ\sin 2\psi indicam a importância da interação entre os modos ressonantes nas dinâmicas do sistema.

Os momentos derivativos superiores (como a1,1,1,1a_{1,1,1,1}, a2,2,2,2a_{2,2,2,2}, etc.) capturam as não-linearidades de ordem elevada e são essenciais para o fechamento da equação FPK. As contribuições de tais momentos à difusão efetiva refletem a complexidade do sistema sob excitação estocástica. O termo S1(h3)S_1(h_3), que depende funcionalmente de h3h_3, aparece recorrentemente, sugerindo que h3h_3 atua como um modulador do comportamento estocástico em diferentes escalas.

Uma vez resolvida a equação FPK, obtém-se a PDF conjunta p(q1,q2,q3,q4,p1,p2,p3,p4)p(q_1, q_2, q_3, q_4, p_1, p_2, p_3, p_4) das coordenadas generalizadas e momentos generalizados, aplicando a transformação inversa das variáveis de ação-ângulo para as variáveis canônicas originais. A jacobiana desta transformação aparece como o fator p(I1,I2,ψ,h3)14h33b1\sqrt{p(I_1, I_2, \psi, h_3)} |1 - \frac{4h_3}{3b - 1}|, refletindo a deformação volumétrica no espaço de fases induzida pela mudança de variáveis.