A densidade dos materiais utilizados na construção tem um impacto direto nos cálculos das cargas mortas. A tabela de pesos nominais de diversos materiais, conforme o Eurocódigo, oferece uma referência importante para determinar a carga permanente, ou seja, o peso dos componentes estruturais que não variam com o tempo ou com o uso do edifício. O concreto, por exemplo, pode variar em densidade dependendo da classe de densidade, com classes que variam de 8 kN/m³ para concretos mais leves até 24 kN/m³ para concretos pesados. Esses valores devem ser considerados ao calcular a carga morta, uma vez que o peso dos materiais de construção contribui significativamente para o total da carga permanente que será aplicada nas fundações e nas vigas da estrutura.

É importante destacar que, enquanto os softwares de análise estrutural modernos conseguem calcular automaticamente o peso autossustentado de membros estruturais a partir das dimensões e materiais definidos, os materiais de acabamento e a carga morta adicional que afeta o edifício devem ser inseridos manualmente no programa. Isso exige que o projetista tenha um conhecimento detalhado sobre as propriedades dos materiais utilizados, além de um bom entendimento das especificidades de cada projeto.

Além disso, na hora de calcular a carga morta, é fundamental levar em conta a variedade de materiais utilizados na construção, como o aço, o alumínio, o concreto e a madeira, e suas respectivas densidades. Por exemplo, o aço, com uma densidade de 77 a 78,5 kN/m³, é bastante diferente do alumínio, que possui uma densidade de 27 kN/m³. Esses valores podem ser ainda mais específicos se a construção envolver materiais compostos ou tecnologias avançadas, como concreto aerado ou pedras manufaturadas, cujas densidades também variam consideravelmente.

A carga viva, por sua vez, refere-se às cargas temporárias ou variáveis que atuam sobre a estrutura. Ao contrário da carga morta, que é constante, as cargas vivas mudam conforme o uso da edificação. Elas incluem o peso das pessoas, móveis, equipamentos e até mesmo o efeito do vento ou da neve em determinadas situações. O cálculo da carga viva é fundamental para garantir que a estrutura seja projetada para resistir a todas as cargas que possa suportar durante sua vida útil.

Nos últimos anos, houve um avanço significativo na teoria da confiabilidade estrutural, que agora é aplicada para calcular as cargas vivas de maneira mais precisa. Isso se deve, em grande parte, ao crescente entendimento da incerteza que envolve as cargas que afetam uma estrutura. O modelo probabilístico das cargas vivas é baseado em uma combinação de carga sustentada e carga extraordinária. A evolução dos modelos estocásticos tem permitido aos engenheiros desenvolverem análises mais realistas, que consideram não apenas as cargas típicas, mas também as exceções que podem ocorrer em situações incomuns, como eventos de grande movimento de público ou alterações inesperadas nas condições de ocupação.

Em termos de normas, o Eurocódigo é uma referência essencial para o cálculo da carga viva, com diferentes valores dependendo da categoria da edificação. O código classifica os edifícios com base no uso pretendido, o que resulta em valores distintos de carga para diferentes áreas da construção. Por exemplo, áreas residenciais exigem valores específicos de carga, enquanto espaços comerciais, como lojas de varejo e centros de convenções, podem demandar cargas superiores devido ao tráfego intenso de pessoas ou mercadorias. A determinação da carga viva para tais áreas deve levar em consideração a densidade do público, o tipo de uso (seja para uma reunião tranquila ou para um evento de grande porte) e as características de uso do espaço (salas com móveis fixos ou móveis soltos).

A categorização das áreas e o cálculo das cargas de acordo com o Eurocódigo são cruciais para garantir a segurança estrutural. Por exemplo, as áreas de escritórios e os dormitórios em hospitais são classificadas em categorias específicas, cada uma com valores distintos para as cargas nominais. Para áreas de grande circulação, como teatros, ginásios ou estádios, as cargas podem variar de 4 kN/m² a 7,5 kN/m², dependendo da intensidade de uso e do tipo de atividade. É importante que, ao projetar um edifício, todas essas variáveis sejam levadas em consideração, incluindo a possibilidade de uso misto do espaço, onde diferentes tipos de carga devem ser somados para garantir que o projeto seja adequado a múltiplas funções.

Outro ponto a ser observado é o efeito das cargas concentradas. Muitas vezes, a carga não é distribuída de forma uniforme, mas sim concentrada em pontos específicos, como nas áreas de armazenamento ou onde equipamentos pesados são utilizados. Para esses casos, a carga concentrada deve ser calculada individualmente, levando em consideração a forma e o tamanho do ponto de aplicação da carga.

A correta avaliação das cargas, tanto mortas quanto vivas, exige um domínio profundo dos materiais e das práticas construtivas, bem como um entendimento atualizado das normas e das ferramentas computacionais. Além disso, é crucial que os engenheiros projetem as estruturas não apenas para suportar as cargas típicas, mas também para resistir a situações excepcionais, como desastres naturais ou mudanças inesperadas nas condições de ocupação.

Além das cargas mencionadas, deve-se considerar também os efeitos dinâmicos, especialmente em estruturas que estarão sujeitas a movimentos constantes, como pontes, viadutos ou edifícios com grande tráfego de veículos. A adoção de uma abordagem probabilística para a avaliação das cargas permite ao engenheiro antecipar possíveis falhas ou sobrecargas, garantindo que a estrutura tenha resistência suficiente para suportar as variações de carga ao longo do tempo.

Como calcular e combinar cargas para elementos estruturais: Exemplos e Aplicações

A determinação das cargas que agem sobre as estruturas é um dos aspectos mais cruciais no projeto e na construção de edificações. Entre as diversas cargas que podem ser aplicadas a uma estrutura, destacam-se as cargas permanentes, como o peso próprio da estrutura (carga morta), as cargas temporárias, como as cargas impostas, e as cargas ambientais, como as cargas de vento. Cada uma dessas cargas deve ser tratada de acordo com critérios específicos para garantir a segurança e a estabilidade da construção.

Por exemplo, ao calcular a carga para uma viga, as cargas permanentes e as cargas impostas podem ser combinadas para determinar a carga total de projeto, que será utilizada em cálculos estruturais. Considerando uma viga com as seguintes características:

  • Carga morta (Dead Load) = 6,08 × 8,0 × 10,0 = 486,4 kN

  • Carga imposta (Imposed Load) = 0,625 × 3,0 × 8,0 × 10,0 = 150 kN

Para as verificações de limite último (ULS), as cargas são multiplicadas por fatores de segurança parciais apropriados: 1,35 para a carga morta e 1,5 para a carga imposta. Assim, a carga de projeto para a viga seria calculada da seguinte forma:

  • Carga de projeto (ULS) = 1,35 × 486,4 + 1,5 × 150 = 881,64 kN

No caso das verificações de serviço (SLS), a combinação das cargas considera fatores de segurança unitários:

  • Carga de projeto (SLS) = 486,4 + 150 = 636,4 kN

Esses cálculos são essenciais para garantir que a viga suporte as cargas que irão atuar sobre ela durante sua vida útil, sem comprometer a segurança estrutural.

Quando se trata de colunas, a carga aplicada é uma função tanto do número de andares quanto da carga total suportada por cada coluna. A fórmula para determinar a carga efetiva em uma coluna que suporta múltiplos andares é dada por:

an=2+(n2)ψ0na_n = \frac{2 + (n - 2) \psi_0}{n}

Onde nn é o número de andares que a coluna suporta. Para uma coluna que suporta quatro andares, o cálculo seria:

an=2+(42)×0,74=0,85a_n = \frac{2 + (4 - 2) \times 0,7}{4} = 0,85

Agora, considerando uma coluna que suporta duas vigas descritas no exemplo anterior, a carga total, combinando a carga morta e a carga imposta, seria calculada da seguinte forma:

  • Carga morta (Dead Load) = 4 × 486,4 = 1.945,6 kN

  • Carga imposta (Imposed Load) = 4 × 0,85 × 3,0 × 8,0 × 10,0 = 816 kN

Para o cálculo de projeto (ULS), essas cargas seriam multiplicadas pelos fatores de segurança correspondentes:

  • Carga de projeto (ULS) = 1,35 × 1.945,6 + 1,5 × 816 = 2.626,56 + 1.224 = 3.850,56 kN

Esses valores indicam a carga máxima que a coluna deve ser capaz de suportar sem comprometer sua integridade estrutural.

Além das cargas permanentes e temporárias, é crucial considerar também as cargas ambientais, como as cargas de vento. O vento pode ter um impacto significativo na estabilidade de um edifício, especialmente em regiões com ventos fortes. A carga de vento depende de diversos fatores, como a velocidade do vento, a altura do edifício e as características do terreno onde a construção está localizada.

Para um edifício de 30 metros de altura com dimensões de planta 20 m × 20 m, situado em uma área suburbana, o cálculo da pressão do vento pode ser feito através da seguinte fórmula:

qb=0,5×1,25×vb2/1.000q_b = 0,5 \times 1,25 \times v_b^2 / 1.000

Onde vb=36m/sv_b = 36 \, m/s é a velocidade média do vento. Substituindo os valores, temos:

qb=0,5×1,25×(36)2/1.000=0,81kN/m2q_b = 0,5 \times 1,25 \times (36)^2 / 1.000 = 0,81 \, kN/m^2

Essa pressão é então ajustada com coeficientes de exposição e de pressão, dependendo da altura e das características do edifício. Por exemplo, para uma altura de 20 metros, a pressão externa sobre as paredes laterais pode ser calculada, levando-se em conta os coeficientes de pressão interna e externa. A combinação das pressões externas e internas resulta nas cargas líquidas de vento que devem ser consideradas para garantir que a estrutura resista ao impacto das forças do vento.

Esses cálculos exigem uma consideração cuidadosa das características geométricas da estrutura e da direção do vento, já que os edifícios retangulares (não quadrados) necessitam de uma análise em duas direções ortogonais para avaliar corretamente a ação do vento.

Além disso, a combinação de cargas deve ser feita de maneira adequada para garantir a segurança da estrutura. No caso de vigas contínuas de três vãos, por exemplo, é necessário considerar diferentes combinações de carga em cada vão, levando-se em conta as variações de momentos fletores e esforços cortantes. A combinação das cargas, levando em consideração as condições de máxima flexão, pode ser expressa da seguinte forma:

  1. Máxima flexão no vão 1:

    W1=1,35Gk+1,5Qk,W2=1,35Gk,W3=1,35Gk+1,5QkW1 = 1,35 G_k + 1,5 Q_k, \quad W2 = 1,35 G_k, \quad W3 = 1,35 G_k + 1,5 Q_k
  2. Máxima flexão no vão 2:

    W1=1,35Gk,W2=1,35Gk+1,5Qk,W3=1,35GkW1 = 1,35 G_k, \quad W2 = 1,35 G_k + 1,5 Q_k, \quad W3 = 1,35 G_k

Esses cálculos são fundamentais para garantir que a viga suporte as cargas de forma eficiente, respeitando os limites de resistência e estabilidade.

Por fim, ao projetar estruturas, é essencial considerar as combinações de ações de forma detalhada, levando em conta todos os tipos de carga possíveis e suas interações. As verificações de equilíbrio estático e resistência ao cisalhamento e à compressão devem ser feitas em cada elemento estrutural, levando em conta tanto as cargas permanentes quanto as variáveis, como as de vento e de uso.

Como a Análise Elástico-Plástico de Segunda Ordem Pode Melhorar o Projeto de Estruturas Metálicas

A análise elástico-plástica de segunda ordem representa um nível de carga crítico, identificado como o multiplicador de carga de referência M2M_2, conforme ilustrado na Figura 6.14. Quando realizada, ela não exige verificações adicionais da resistência das seções e conexões, desde que os efeitos da força normal ou da força de cisalhamento tenham sido adequadamente considerados. Com o cálculo das rotações nas dobradiças plásticas, é possível verificar a capacidade de rotação necessária, se necessário. A estabilidade no plano da estrutura é abordada pela análise estrutural quando a teoria de segunda ordem é aplicada. Além disso, a estabilidade no plano dos membros não precisa ser verificada, desde que as imperfeições locais dos membros tenham sido consideradas na análise inicial, quando exigido.

Isso reduz consideravelmente o número de tarefas de projeto em comparação com a análise elástica de primeira ou segunda ordem. Quando se recorre à análise elástico-plástica de segunda ordem, a estimativa da resposta estrutural se torna mais precisa do que aquela fornecida pelas análises elástico-perfeitamente plásticas de primeira ou segunda ordem. A propagação do comportamento plástico dos membros e conexões é um processo progressivo. Quando a fluência começa, à medida que o momento na seção transversal do membro continua a aumentar, a zona plástica se estende parcialmente ao longo do membro e através da profundidade da seção. Esse comportamento é tratado pela teoria da zona plástica, conforme proposto por Chen et al. (1996) e Clarke (1994).

Embora a análise elástico-plástica de segunda ordem forneça uma descrição mais precisa da resposta estrutural, a complexidade deste método o torna inadequado para o uso prático no projeto estrutural, sendo restrito às aplicações computacionais e à pesquisa. A análise elástico-plástica de primeira ordem, por outro lado, simplifica consideravelmente a modelagem ao desconsiderar as deformações elásticas dos membros, conexões e fundações, concentrando-se apenas nas deformações plásticas. No caso dessa análise, as deformações plásticas se concentram nas seções e conexões onde as dobradiças plásticas tendem a se formar. Essas seções e conexões são assumidas como tendo capacidade de rotação infinita.

A análise rígido-plástica, conforme ilustrado na Figura 6.15, assume que as deformações plásticas são muito maiores do que as deformações elásticas, sendo estas últimas desconsideradas. No entanto, esse tipo de análise é mais simples e se aplica principalmente quando se deseja identificar a carga de colapso da estrutura, que é alcançada por meio de um mecanismo plástico realista. O valor da carga de colapso pode ser obtido aplicando os teoremas fundamentais do design plástico simples, como os teoremas de limite inferior e superior (teoremas estático e cinemático, respectivamente). Se ambos os teoremas são simultaneamente atendidos por um dado mecanismo para o mesmo caso de carregamento, a carga de colapso é estabelecida, conforme argumentado por Neal (1956).

O comportamento de um membro de viga-coluna depende de como a carga aplicada é transferida, o tipo de suporte oferecido e a forma da seção transversal do membro. A interação entre os efeitos de flexão e compressão é essencial para entender o desempenho de estruturas metálicas. No caso de um membro sujeito a flexão uniaxial e compressão, o comportamento do membro será influenciado pela interação da rigidez da seção transversal com o pandeio no plano da coluna, com ou sem pandeio lateral-torcional. Quando a flexão é aplicada em torno de um único eixo principal, o membro se deforma apenas no plano da flexão aplicada, o que implica uma interação entre a flexão da viga e o pandeio da coluna.

A análise de viga-coluna deve ser conduzida com consideração cuidadosa dos limites de plastificação do membro e dos limites de pandeio no caso de forças axiais puras. Quando o momento adicional é aplicado, a capacidade do momento é reduzida no caso de plastificação completa. Para seções de Classe 1 e 2, é possível atingir a plastificação total sem o pandeio local da flange ou alma, o que resulta numa distribuição de tensões conforme mostrado na Figura 6.16. O comportamento da seção, considerando a interação entre carga axial e momento, deve ser tratado com precisão para garantir a segurança e eficiência estrutural.

Para um projeto eficiente e seguro, é fundamental que o engenheiro compreenda as interações complexas entre flexão e compressão, levando em conta o comportamento progressivo das deformações plásticas nas seções transversais e a capacidade das juntas e membros de suportar esses esforços. A análise estrutural deve ser adaptada de acordo com as condições reais de carregamento, considerando os efeitos locais e a geometria da estrutura. Além disso, é importante considerar as limitações da modelagem computacional e as simplificações necessárias, sempre buscando um equilíbrio entre precisão e viabilidade prática no processo de design.