Embora menos prevalente do que outros subtipos de câncer de cabeça e pescoço, o câncer de laringe permanece uma entidade clínica de alta relevância, particularmente entre indivíduos de menor nível socioeconômico. A associação com o vírus do papiloma humano (HPV) — ainda que mais bem estabelecida em lesões do orofaringe — pode fornecer pistas importantes na estratificação de risco diante de lesões mucosas suspeitas nos subsítios do trato aerodigestivo superior.

A apresentação clínica do câncer de laringe pode variar, mas frequentemente inclui sintomas como disfonia (voz rouca), disfagia (dificuldade para engolir), tosse persistente, nódulo palpável no pescoço, perda de peso e dor, que pode irradiar para os ouvidos. A disfonia é, muitas vezes, o sintoma inicial e mais comum, resultante da presença de nódulos ou lesões nas pregas vocais, interrompendo a ondulação mucosa essencial para a fonação. Quando a doença se estende para as cartilagens laríngeas, pode ocorrer fixação das cordas vocais, resultando em voz soprosa, tosse ineficaz e risco aumentado de aspiração com consequente pneumonia.

Lesões ulcero-infiltrativas do trato supraglótico geralmente causam dor mais pronunciada. A progressão da doença para a hipofaringe adjacente intensifica os quadros de disfagia. Metástases linfonodais são comuns, inicialmente nos níveis II a IV do pescoço. Em estágios avançados, pode haver invasão dos tecidos moles cervicais, apresentando-se como massas fungantes ou mesmo com sinais de obstrução de via aérea, como estridor, insuficiência respiratória aguda e hemoptise.

O exame clínico deve incluir inspeção minuciosa da cavidade oral, orofaringe e pescoço, além de nasofibrolaringoscopia (FNL). Idealmente, a FNL deve ser complementada por tecnologias como a imagem por banda estreita (NBI), capaz de detectar neovascularização em fases iniciais da doença. A mobilidade das cordas vocais deve ser cuidadosamente documentada, dado seu valor prognóstico no estadiamento. Em clínicas especializadas em voz, a estroboscopia também pode ser utilizada para analisar, em detalhes, o padrão de vibração mucosa.

A endoscopia deve ser realizada sob anestesia tópica, utilizando soluções com fenilefrina e lidocaína, para garantir conforto e visualização adequada. A documentação fotográfica da laringe é fortemente recomendada, especialmente como referência basal para seguimento posterior.

Durante a consulta diagnóstica, a anamnese deve explorar profundamente o início, duração e gravidade dos sintomas, assim como eventuais comorbidades. Exames laboratoriais incluem hemograma completo, eletrólitos, função hepática e função renal. Exames cardiopulmonares e doppler de carótidas podem ser indicados conforme o perfil do paciente e os planos terapêuticos.

A imagem se impõe como etapa crítica na avaliação inicial. A tomografia computadorizada com contraste ou a ressonância magnética da região cervical permite mapear a extensão da doença primária e linfonodal. Diante de suspeita clínica de malignidade, uma tomografia de tórax é indispensável para avaliar a presença de metástases à distância.

Linfonodos cervicais devem ser submetidos a biópsia com agulha fina (FNAC) ou biópsia por agulha grossa guiada por ultrassonografia, conforme disponibilidade institucional. O estado funcional do paciente deve ser avaliado por meio de escalas reconhecidas como o índice de desempenho da Organização Mundial da Saúde (WHO/ECOG) ou a escala de Karnofsky, a fim de estimar a tolerância ao tratamento e o prognóstico geral.

A biópsia do tumor primário é mandatória para confirmação histopatológica. O método mais utilizado é a microlaringoscopia sob anestesia geral, utilizando instrumentos microcirúrgicos (“cold steel”) ou laser de CO₂. Esse procedimento permite acesso direto às lesões laríngeas com precisão diagnóstica superior.

A complexidade do diagnóstico e tratamento do câncer de laringe exige abordagem multidisciplinar integrada. Equipes compostas por cirurgiões de cabeça e pescoço, otorrinolaringologistas, radiologistas, oncologistas, patologistas e profissionais da saúde aliados — como fonoaudiólogos, nutricionistas e enfermeiros especializados — são essenciais para garantir uma assistência centrada no paciente. A coordenação eficiente entre os diferentes membros da equipe e o registro sistemático dos dados clínicos e imagiológicos são pilares de uma abordagem moderna, eficaz e holística.

É fundamental compreender que o atraso diagnóstico compromete significativamente o prognóstico do câncer de laringe. A banalização da disfonia, sobretudo em fumantes crônicos, pode retardar a investigação necessária. Além disso, a ausência de dor em estágios iniciais contribui para a negligência dos primeiros sintomas. A vigilância clínica atenta e o conhecimento dos sinais precoces devem estar presentes tanto na prática dos clínicos gerais quanto na atuação de especialistas.

Infecções da Faringe: Diagnóstico e Manejo em Pacientes Imunocomprometidos

As infecções da faringe podem se manifestar de diversas formas, especialmente em pacientes imunocomprometidos, que têm um sistema imunológico mais vulnerável a patógenos infecciosos. Entre as condições que podem afetar a faringe, algumas exigem atenção particular devido ao seu impacto potencialmente grave, como a mononucleose, sífilis, tuberculose, difteria e abscesso peritonsilar.

A mononucleose, por exemplo, pode se manifestar de forma semelhante à de uma faringite viral comum, com dor de garganta e linfadenopatia. No entanto, em pacientes imunocomprometidos, os sintomas podem ser mais pronunciados, e a infecção pode ser mais difícil de controlar. O diagnóstico diferencial deve sempre considerar o histórico do paciente e, frequentemente, testes laboratoriais, como a pesquisa do vírus Epstein-Barr (EBV).

A sífilis, embora rara, também pode ser uma causa de dor de garganta, especialmente no contexto de infecção primária, que pode apresentar uma úlcera indolor (cancro) na amígdala. Em sua fase secundária, a sífilis pode gerar sintomas sistêmicos inespecíficos, com faringite hiperêmica e úlceras em trilha de caracol, sendo necessária a realização de testes como o VDRL para confirmação.

A tuberculose (TB) é outra infecção relevante, especialmente em pacientes imunocomprometidos. A forma primária da tuberculose, embora mais comum em crianças, pode afetar a faringe e ser associada a linfadenopatia cervical. A tuberculose secundária, comumente associada à forma pulmonar, pode afetar a faringe, levando a sintomas semelhantes aos de câncer de faringe, o que torna o diagnóstico diferencial crucial.

A difteria, embora rara, ainda é uma preocupação, especialmente em pacientes não imunizados, imunocomprometidos ou aqueles que viajaram para países endêmicos. A apresentação clássica é a faringite pseudomembranosa, que pode variar de eritema a placas brancas no orofaringe. A difteria pode provocar complicações graves, como obstrução das vias aéreas devido ao edema mucoso ou neuropatia periférica e miocardite. O tratamento precoce com antitoxina e antibióticos, como a penicilina V ou eritromicina, é fundamental.

Outro evento grave que pode ocorrer em pacientes com infecções faringeas é o abscesso peritonsilar (APT), uma complicação comum de faringite aguda. O APT ocorre entre a cápsula da amígdala e o músculo constritor superior da faringe, geralmente causado por estreptococos beta-hemolíticos, mas também pode envolver organismos anaeróbios, especialmente na presença de doença periodontal. Os pacientes apresentam dor de garganta progressiva, dificuldade para engolir, trismo e linfadenopatia cervical unilateral. O diagnóstico é clínico, mas a aspiração da região afetada, seguida de análise microbiológica, é essencial para confirmar a infecção.

A síndrome de Lemierre, embora rara, é uma complicação grave que pode surgir após uma faringite viral ou bacteriana. Ela envolve a tromboflebite séptica da veia jugular interna e a formação de êmbolos sépticos que podem afetar órgãos distantes, como o cérebro e os pulmões. O tratamento envolve antibióticos prolongados, drenagem cirúrgica de abscessos e, em alguns casos, anticoagulação, embora os benefícios desta última ainda sejam debatidos.

Entre as complicações a serem observadas, a febre reumática e a glomerulonefrite são doenças graves que podem surgir após faringite estreptocócica, particularmente em áreas com recursos limitados ou em países em desenvolvimento. Embora raras em países desenvolvidos, essas condições exigem vigilância em pacientes com infecção por estreptococos do grupo A beta-hemolíticos (GABHS).

O manejo de infecções da faringe, especialmente em pacientes imunocomprometidos, deve ser adequado e muitas vezes envolve decisões rápidas sobre a necessidade de antibióticos ou intervenção cirúrgica. A tonsilectomia, embora frequentemente considerada em casos de tonsilite recorrente grave, também é uma opção terapêutica, mas a sua indicação deve ser ponderada de acordo com o risco de complicações pós-operatórias, como sangramentos.

Além disso, a avaliação cuidadosa do estado geral do paciente e a exclusão de condições que possam comprometer a segurança do procedimento anestésico, como distúrbios hemorrágicos, são essenciais antes de qualquer intervenção cirúrgica.

Essas infecções e suas complicações devem ser monitoradas de perto, pois podem rapidamente se tornar mais graves em pacientes com sistemas imunológicos comprometidos. O reconhecimento precoce dos sintomas e a intervenção imediata com os tratamentos adequados são cruciais para evitar complicações significativas e melhorar os resultados clínicos desses pacientes.